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O dólar avançou mais de 2% nesta quinta-feira (23), fechando acima de R$ 3,29, na maior em quatro meses, após o corte nas metas fiscais do governo alimentar temores de que o Brasil pode vir a perder seu valioso grau de investimento.
A moeda norte-americana terminou o dia em alta de 2,18%, negociada a R$ 3,2958 na venda. É a maior cotação desde 19 de março, quando o dólar fechou em R$ 3,2965. Veja cotação.
Medo do rebaixamento
O mercado teme que o país, depois do esperado rebaixamento pelas agências de avaliação de risco Moody's e Fitch, receba perspectiva negativa de alguma delas. Com isso, ficaria na iminência de perder seu cobiçado grau de investimento.
"O que deve acontecer já no curto prazo é um rebaixamento pela Moody's, com perspectiva negativa, mas sem a perda do grau de investimento", escreveu o operador da corretora Correparti Jefferson Luiz Rugik, em nota a clientes, segundo a Reuters.
A Moody's deve manifestar-se sobre a nota brasileira em breve após visita ao país na semana passada.
A agência de classificação de risco Austin Rating anunciou nesta quinta-feira (23) que rebaixou a nota de crédito de longo prazo do Brasil em moeda estrangeira de "BBB-" para "BB ". Com isso, o país perdeu o grau de investimento – espécie de selo de bom pagador e "porto seguro" para investidores – pelos parâmetros desta escala.
A Fitch Ratings informou nesta quinta que irá reavaliar as tendências fiscais do Brasil, ponto importante para sua decisão sobre se rebaixará o rating de crédito do país, após o governo cortar a meta se superávit primário.
Novas metas
Na véspera, o governo reduziu a meta de superávit primário deste ano para R$ 8,747 bilhões, ou 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB), contra R$ 66,3 bilhões, ou 1,19% do PIB, previstos até então.
Além disso, foi incluída uma cláusula de abatimento da meta fiscal em até R$ 26,4 bilhões, caso ocorra frustração em três medidas lançadas pelo governo para aumentar a arrecadação. Ou seja, há o risco de o governo não conseguir o superávit em 2015, e sim déficit primário, embora o governo avalie como "pouco provável".
As metas para 2016 e 2017, por sua vez, caíram para o equivalente a 0,7% e 1,3% do PIB, respectivamente.
O objetivo anterior para cada um desses anos era de 2% do PIB, percentual que agora só deverá ser alcançado em 2018.
'Derrota' para Levy
Operadores entenderam que a decisão representou uma derrota para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em seus esforços para reequilibrar as contas públicas brasileiras.
"Se parecer que o Levy vai continuar perdendo as batalhas, o mercado vai começar a colocar no preço a possibilidade de ele sair do governo, e aí sim o dólar explode", disse à Reuters o operador de um importante banco internacional.
Mais cedo, o Banco Central deu continuidade ao seu programa de interferência no câmbio e seguiu a rolagem dos swaps cambiais que vencem em agosto, com oferta de até 6 mil contratos, equivalentes a venda futura de dólares.