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Economia
27/03/2015 14:49:00
Economia brasileira cresce 0,1% em 2014, diz IBGE

G1/LD

Os números apresentados pelo IBGE já foram calculados com base na nova metodologia, que incluiu dados que não existiam e mudou a classificação de alguns itens.

“O que contribuiu para o crescimento foram os serviços e, negativamente, foi a indústria”, afirmou Rebeca de La Rocque Palais, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

A previsão mais recente do Banco Central era que o PIB tivesse recuado 0,1%, próxima à do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), chamado de "prévia do PIB", que estimava uma contração de 0,15% no ano passado. Já a expectativa dos analistas do mercado financeiro era positiva, porque indicava uma alta de 0,15%, segundo o boletim Focus, do Banco Central.

Em relação ao terceiro trimestre de 2014, o PIB de outubro a dezembro avançou 0,3%. O resultado foi puxado pela agropecuária, que cresceu 1,8%, e pelo setor de serviços, que teve expansão de 0,3%. Por outro lado, a indústria mostrou leve queda de 0,1%.

Frente ao 4º trimestre do ano anterior, o PIB mostrou retração de 0,2%, de acordo com o IBGE.

Agropecuária

No ano de 2014, a agropecuária cresceu 0,4%, puxada pelas taxas positivas de soja (5,8%) e de mandioca (8,8%), ainda que a produção tenha desacelerado. Na contramão, caiu a produtividade da cana-de-açúcar (-6,7%), do milho (-2,2%), do café (-7,3%) e da laranja (-8,8%).

"A grande diferença de 2013 para 2014 foi o desempenho da cultura da soja”, diz Rebeca. “Houve queda de produtividade, então a renda gerada no setor é afetada negativamente.”

Indústria

A indústria mostrou queda de 1,2%, influenciada pela retração de 2,6% em construção civil e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana.

"O desempenho foi influenciado pelo maior uso das termelétricas, sobretudo a partir do segundo trimestre do ano", diz o IBGE, em nota. Apesar da taxa negativa da atividade fabril, houve avanço de 8,7% da indústria extrativa mineral. Segundo Rebeca Palais, o bom resultado da extrativa mineral ajudou a conter parte da queda significava da indústria de transformação (-3,8%).

Serviços

No caso de serviços, que teve a maior alta entre os setores, de 0,7%, o resultado foi influenciado pelos serviços de informação, atividades imobiliárias e transporte, entre outras. O aumento não foi maior porque o comércio, que costumava mostrar taxas positivas, recuou 1,8% em 2014.

“'Outros serviços' é bastante ligado ao consumo das famílias. No quarto trimestre, ele ajudou, mas no ano, ele ficou baixo. Dentro dele tem toda a parte de despesa pessoal. Isso caiu no ano e se você for olhar por outro lado, a inflação foi um dos grupos afetados. Alguns serviços sofreram mais do que outros, por outro lado educação e serviço mercantil cresceu ao longo do ano. O comércio foi puxado para baixo principalmente pelo mercado atacadista, que está ligado ao desempenho da indústria. Claro que os serviços mais relacionados com o desempenho da indústria tiveram desempenhos piores.”

Investimentos e despesas

Com a queda da produção interna e da importação de bens de capital (máquinas e equipamentos), os investimentos caíram 4,4% em 2014, a maior retração desde 1999, quando a baixa havia sido de 8,9%.

"A contribuição negativa ficou por conta dos investimentos, que tinham crescido 6,1% em 2013", afirmou a coordenadora do IBGE.

A despesa de consumo das famílias, que durante anos sustentou o crescimento da economia, avançou menos do que em 2013: de 2,9% para 0,9%. A massa salarial dos trabalhadores, descontando a inflação, aumentou 4,1%.

A despesa do consumo do governo também cresceu menos no ano passado. Enquanto em 2013 a alta havia sido de 2,2% (frente a 2012), em 2014 (em relação a 2013), foi de 1,3%.

“A massa salarial continua crescendo, teve variação de 4,1% da massa salarial, mas por outro lado, o crédito não está mais crescendo em termos reais. Além disso, a gente teve a Selic [taxa básica de juros] que aumentou e passou de 8,2% ao ano para 10,9%. E o IPCA [inflação oficial] que cresceu de 6,3% na média de 2014 contra média de 2013”, afirma a coordenadora.

No setor externo, caíram as exportações (-1,1%) e as importações (-1,0%) de bens e serviços, com influência negativa para a indústria automotiva. A queda as importações ocorrem por causa do câmbio e da economia, segundo Rebeca. “Quando está desaquecida, afeta as importações também.”

“Tanto a construção como máquinas e equipamentos caíram. Então, esses componentes afetaram os investimentos. Os 'outros' cresceram, diminuindo um pouco essa queda dos investimentos do ano de 2014. Eles foram responsáveis pelos investimentos não terem caído tanto.” A categoria "outros" cresceu 5,5%. Nela estão incluídos gastos em Pesquisa e Desenvolvimento, desenvolvimento de informática, software, e produtos de propriedade intelectual, que passaram a ser considerados como investimento na nova metodologia.

Em 2014, a taxa de investimento foi de 19,7% do PIB, abaixo do registrado em 2013, de 20,5%. Foi a menor desde 2009, quando chegou a 19,2%. A taxa de poupança recuou de 17% em 2013 para 15,8% no ano seguinte.

Impostos

"Os impostos já vinham há um tempo crescendo mais do que o valor adicionado [relacionado à produção]. Em 2014, foi o contrário. Eles tiveram variação negativa de 0,3 e isso, principalmente, por causa do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], que está ligado à indústria de transformação, e por causa da importação, que a gente viu que o volume de bens e serviços caiu no ano.”

Rebeca disse ainda que a última vez que o Brasil viu o valor adicionado crescer mais do que os impostos foi em 2009. “Tinha valor de -0,2% e impostos, -0,3%.”

A coordenadora do IBGE explicou que um dos principais motivos é o desempenho da indústria. “Industria teve desempenho ruim, e a indústria paga bastante imposto em alguns setores e aí afeta. A importação em 2009 também caiu”. Segundo ela, a queda as importações ocorrem por causa do câmbio e da economia – “quando está desaquecida, afeta as importações também”.

Novo cálculo

O cálculo que mede as riquezas do país ficou diferente a partir deste ano. A nova metodologia incluiu dados que não existiam, deslocou informações e mudou a classificação de alguns itens, deixando a medição mais precisa. Novos dados foram incorporados a partir de 2010, gerando uma revisão de toda a série, até 1995.

O novo cálculo do PIB foi aperfeiçoado para seguir padrões internacionais recomendados por órgãos como a ONU, OCDE e Banco Mundial e que devem ser adotados pelos países até 2016. A mudança serve para garantir uma comparação e calibragem mais apurada entre as economias. A última mudança na metodologia havia ocorrido em 2007.

"Essa divulgação foi atrasada um mês em função da divulgação da série nova. E a partir de agora, volta à rotina normal. Hoje, além de ser uma divulgação normal do quarto trimestre, é a divulgação na nova série trimestral de acordo com o ano de referência 2010. Significa que as alterações feitas também se refletem na série trimestral de forma mais diferenciada durante o ano”, declarou Roberto Olinto, diretor de pesquisas do IBGE, que ressaltou que houve “transparência” na comunicação das mudanças.