O Globo/LD
A produção industrial caiu 0,8% em março, frente a fevereiro, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE. Foi a menor taxa para o mês de março desde 2006, quando a produção industrial caiu 1,3%. Também foi pior que o esperado por analistas, que projetavam recuo de 0,5%, segundo a Bloomberg. É o segundo mês seguido de queda na indústria, em relação ao mês anterior, após leve alta de 0,3% em janeiro.
Em relação a março de 2014, a queda foi de 3,5%, a maior nessa base de comparação desde 2012, quando a contração foi de 4,5%. Os economistas ouvidos pela Bloomberg esperavam queda de 2,9%.
Em fevereiro, a produção da indústria registrou perda pior que a anteriormente anunciada: o índice foi revisado de -0,9% para -1,3% frente ao mês anterior.
O desempenho de março sugere desaceleração na queda da indústria. O recuo na produção foi menos intenso que no mês de fevereiro tanto na comparação com o mês anterior quanto com igual mês do ano anterior.
O resultado acumulado em 12 meses, no entanto, vem em trajetória descendente desde março de 2014, quando tinha alta de 2,1%. Em 12 meses, a queda é 4,7%, a maior desde os 12 meses encerrados em janeiro de 2010 (-4,8%).
Já no primeiro trimestre do ano, a atividade na indústria recuou 5,9% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.
— Os resultados negativos de fevereiro e março representam perda acumulada de 2,1%. Mais do que duas taxas negativas, o que se observa desde setembro é a predominância de taxas negativas. Há uma perda acumulada importante, de 5,1% desde setembro — afirmou o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Luiz Macedo.
A indústria automobilística, aponta Macedo, é a principal influência nesse desempenho da indústria nos útlimos seis meses, com recuo de 5,1%. Para se ter uma ideia, o segmento de veículos automotores acumula perda de 19,4% entre setembro e março.
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— Muito da queda da indústria dos últimos seis meses tem a ver com a produção de automóveis, marcada pela redução de jornadas de trabalho e suspensões temporárias de contrato. É um quadro negativo que se vê há algum tempo — diz o gerente do IBGE.
Na comparação com igual mês do ano anterior, a indústria tem uma sequência de 13 taxas negativas seguidas.
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Em março, todas as categorias de uso da indústria apontam perda da atividade na comparação com fevereiro, com março de 2014 e com o primeiro trimestre do ano passado.
O segmento de bens de capital — indicador de investimentos — teve a queda mais intensa: de 4,4% frente a fevereiro e de 12,4% em relação a março do ano passado. O setor de bens de consumo duráveis também teve recuo expressivo, de 3,1% em relação a fevereiro e de 6,6% frente a março de 2014.
A maioria dos ramos da indústria mostrou queda da produção em março. Na comparação com fevereiro, foram 14 dos 24 segmentos pesquisados. Frente a março, o recuo foi registrado em 16 dos 26 ramos industriais.
A indústria de alimentos, por sua vez, subiu 2,1% e foi a maior influência positiva para a indústria na passagem de fevereiro para março. Em seguida, o maior impacto foi a indústria de fumo, com alta de 26,8%.
André Macedo explica, no entanto, que essa alta da indústria de fumo é resultado de uma base de comparação baixa. O comportamento da indústria de fumo é predominantemente negativo nos últimos seis meses a despeito da alta de março — com queda de 47,9% —, tanto na matéria-prima quanto na produção de cigarros.
Com queda de 4,2%, a indústria de veículos automotores puxou o recuo de 0,8% da indústria na comparação com fevereiro. A segunda maior influência veio de máquinas e equipamentos, com perda de 3,8%, seguida por equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, com queda de 8,1%.
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Também na comparação com março foi o segmento de veículos automotores o maior responsável pela queda da indústria, com perda de 12,7% na produção.
Em seguida, as maiores influências vieram da produção de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (-9,8%) e de equipamentos de informática, produtos elétricos e ópticos (-22,7%). No lado oposto, quem ajudou a amenizar a queda foi a indústria extrativa — que inclui minério de ferro e petróleo —, com alta de 8,9%.
A indústria vem enfrentando dificuldades desde 2010, depois de ter se recuperado dos efeitos da crise econômica mundial de 2008 e 2009. A situação se agravou de meados de 2013 para cá. No ano passado, a produção industrial caiu 3,2%, após alta de 2,1% em 2013.