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Economia
03/05/2025 11:19:00
McDonald's vira símbolo da crise que atinge americanos de baixa renda
As trapalhadas de Trump são literalmente um tiro de canhão no próprio pé

UOL/PCS

As trapalhadas de Trump são literalmente um tiro de canhão no próprio pé

A contração da economia americana, a incerteza diante da guerra comercial e o temor entre imigrantes estão levando as camadas mais pobres nos EUA a abandonar hábitos de consumo e reduzir até mesmo a alimentação em redes de fast food.

Nesta semana, um sinal dessa tendência foi registrado com a queda de vendas do McDonald's, que registrou seu pior resultado trimestral desde a pandemia. O tombo foi de 3,6% nos três primeiros meses de 2025.

"Os consumidores de hoje estão lutando contra a incerteza", disse o presidente da rede, Chris Kempczinski, em um comunicado. A empresa destacou que, entre os clientes de renda média, a queda foi de "quase dois dígitos" e com uma retração contínua de clientes de baixa renda. Um sintoma identificado pela rede é a desistência de muitos em tomar o café da manhã para reduzir os gastos.

De acordo com o McDonald's, a frequência dos consumidores de alta renda permaneceu estável.

Os resultados da empresa refletem uma situação mais ampla e a marca que simbolizou a globalização nos anos 90, porém, é apenas uma das que está sofrendo. Dados do setor apontam para uma redução no número de clientes nos restaurantes nos EUA no primeiro trimestre, com retração de 1,5%, de acordo com a Placer.ai.

Além do McDonald's, a Starbucks viu uma queda de 1% na frequência no trimestre. Ela acumula hoje cinco meses de retração. Para o CEO da empresa, Brian Niccol, os resultados foram "decepcionantes".

A Domino's Pizza, a maior empresa de pizza do mundo, também encolheu nos EUA. O CEO da Wingstop, Michael Skipworth, destacou "um recuo significativo em nossos negócios" em "bolsões específicos", incluindo clientes hispânicos e consumidores de "renda média baixa". Outra rede americana de fast food, a Chipotle, teve sua primeira queda de vendas, de 0,4%, desde o confinamento na pandemia.

Houve uma redução importante do consumo de imigrantes, tanto por medo se se expor em locais públicos, como por uma queda real na renda.

De acordo com uma reportagem do Financial Times, empresas como a Colgate-Palmolive, fabricante de pasta de dente e sabonete, e a Constellation Brands, fabricante da cerveja Modelo, relataram vendas mais lentas para a comunidade hispânica, que representa um quinto dos consumidores nos EUA.

No Walmart, a maior rede de varejo dos EUA, os gastos dos consumidores hispânicos de baixa renda "pioraram significativamente no início de 2025", disse Simeon Gutman, analista de varejo do Morgan Stanley, ao jornal. "A queda dos hispanolatinos é mais notável e mais acentuada do que a de qualquer outro grupo", disse ele.

A Procter amp;amp; Gamble, que vende fraldas, xampu e possui marcas como Tampax, Oral-B e Gillette, também indicou que os consumidores diminuíram seus gastos em março, em meio à incerteza econômica. A multinacional, assim, reduziu suas perspectivas de vendas para o ano.

A Federação Nacional do Varejo, nos EUA, apontou que o setor continua a ver ganhos apenas moderados, diante de consumidores preocupados com o aumento das tarifas.

Para o CEO da Federação, Matthew Shay, o recuo é resultado da incerteza causada pelas tarifas: "O aumento (de consumo) em março é, em parte, resultado da estocagem para se antecipar às tarifas. Com as perspectivas econômicas pouco claras e a situação fluida, o sentimento do consumidor está enfraquecendo e muitos consumidores estão transferindo a renda disponível para a poupança", alertou.

Nos EUA, 23 milhões de pessoas vivem em lares que pagam mais de 50% de sua renda com aluguel, um recorde histórico.