VERSÃO DE IMPRESSÃO
Economia
28/11/2018 10:27:00
Mercado projeta melhora do PIB no 3º trimestre, mas vê ano 'frustrante' e recuperação ainda lenta

G1/LD

A economia brasileira ganhou um pouco mais de força no 3º trimestre, na comparação com o 2º trimestre, mas a melhora entre os meses de julho a setembro se deve à fraca base de comparação com o trimestre anterior – cujo resultado foi afetado pela greve dos caminhoneiros no final de maio. É o que afirmam economistas ouvidos pelo G1.

Na visão dos analistas, apesar da melhoria da confiança de empresários e consumidores, o ritmo de recuperação ainda segue lento e as projeções de avanço mais forte a partir de 2019 estão amplamente ancoradas na expectativa de medidas de ajuste fiscal, como a aprovação de uma reforma na Previdência já no 1º ano do governo de Jair Bolsonaro.

O resultado oficial do Produto Interno Bruto (PIB) do 3º trimestre será divulgado na sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O intervalo das projeções para o 3º trimestre varia de 0,3% e 1,1%, segundo levantamento do G1. Das 12 consultorias e instituições financeiras consultadas, 7 esperam uma alta entre 0,7% e 0,8% na comparação com o 2º trimestre.

O resultado oficial do PIB do 3º trimestre irá incorporar também os dados revisados das contas nacionais dos últimos dois anos, o que sempre traz um desafio maior para as estimativas feitas pelo mercado. No início do mês, o IBGE divulgou que a retração da economia brasileira em 2016 foi menor, de 3,3%, ante 3,5% divulgado anteriormente.

O Produto Interno Bruto é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. Em 2017, o PIB teve uma alta de 1%, após dois anos consecutivos de retração. No 1º trimestre, a alta do PIB foi de 0,1%, e no 2º trimestre, de 0,2%.

A média do mercado prevê que a economia brasileira irá crescer 1,39% em 2018, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, em linha com o esperado pelo governo (1,4%). Para o ano que vem, a expectativa do mercado para expansão da economia seguiu inalterada em 2,5%. Destaques e frustrações

A expectativa é que a maioria dos componentes do PIB, incluindo os setores de agropecuária, indústria e serviços, tenham apresentado crescimento no 3º trimestre. Os economistas ponderam, entretanto, que a aceleração no 3º trimestre se deu muito mais em função de um efeito compensação, depois do decepcionante resultado do PIB entre abril e junho.

"O ritmo de recuperação segue lento. Os números do 3º trimestre podem aparentar um desempenho melhor, mas é porque a base de comparação era muito fraca no 2º trimestre por causa da greve dos caminhoneiros", afirma Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências.

A economista projeta que o PIB cresceu 0,7% na comparação com o 2º trimestre, e 1,3% ante o 3º trimestre do ano passado. Para o ano, a estimativa é de uma alta de 1,3%. "No início do ano, as projeções para o PIB do ano estavam próximas de 3%. Então, o crescimento deste ano é uma frustração sem sombra de dúvida", afirma.

Segundo indicadores antecedentes divulgados pelo IBGE, o setor de serviços continuou mostrando uma fraca recuperação no 3º trimestre, enquanto que o varejo apresentou estagnação.

Entre as maiores decepções do 3º trimestre, está o desempenho da indústria, cuja produção caiu fortemente em setembro, no 3º recuo mensal consecutivo. A perda de folego do setor levou o Ibre/FGV a revisar a sua estimativa para o PIB do terceiro trimestre em relação ao segundo de 0,9% para 0,8%.

Entre os fatores que fizeram a indústria perder dinamismo, a economista Silvia Matos, do Ibre/FGV cita a queda das exportações de veículos para a Argentina por conta da crise no país vizinho, a incerteza política decorrente da corrida eleitoral e o cenário internacional mais adverso em meio à perspectivas de menor crescimento econômico mundial, aumento de juros nos Estados Unidos e guerra comercial.

"Tivemos um 3º trimestre que também foi difícil. Podemos dizer que a economia brasileira sobreviveu minimamente ao pós-greve. Para o 4º trimestre, as indicações são de que o PIB não deverá crescer tanto. Deve ter uma alta em torno de 0,4% e 0,5%", avalia a economista do Ibre/FGV, que manteve em 1,5% a previsão de crescimento da economia brasileira em 2018.

"Uma alta de 1,5% é um PIB até razoável diante das dificuldades. Mas claro que poderia ser melhor", afirma Matos, destacando que o país ainda vai levar mais alguns anos para se recuperar das perdas acumuladas durante a recessão de 2014 a 2016.

Investimentos e consumo

Do lado da demanda, é esperado como destaque do 3º trimestre a alta forte dos investimentos. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida do que se investe no país em máquinas, equipamentos e pesquisa, disparou 9,6% na comparação com o 2º trimestre.

Os economistas explicam, entretanto, que esse avanço foi impactado por mudanças no regime de tributação no setor de óleo e gás (Repetro), que impulsionou a contabilização da importação de plataformas de petróleo como estoque de capital e influenciou significativamente o cálculo da FBCF e da balança comercial brasileira.

Pelos cálculos da Tendências e do Ibre/FGV, os investimentos tiveram alta de 6,2% no 3º trimestre sobre o segundo.

"Sem as plataformas de petróleo, teríamos um crescimento da ordem de 2%", estima Matos. "Não se trata de investimento novo. Essas plataformas já deveriam ter sido computadas no PIB há anos, quando foram produzidas, exportadas de maneira fictícia e mantidas em território nacional como prestação de serviços", acrescenta.

De acordo com os economistas, o consumo das famílias continua sendo o motor da recuperação da economia, com taxa de crescimento superior à do PIB, sustentada pela expansão da massa salarial em meio à queda da taxa de desemprego, ainda que em ritmo lento e puxada pelo aumento da informalidade.

"A questão fiscal continua muito difícil. O componente governo dentro do PIB não deve ajudar tão cedo, uma vez que vai ser preciso segurar gastos tanto do nível da União quando de estados e municípios", destaca Ribeiro, lembrando que os gastos do governo representam cerca de 20% do PIB e que o colapso das contas públicas tem limitado os investimentos no país.