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O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou uma nota técnica afirmando que a composição da vacina contra febre aftosa em si não gera abscessos nas carnes brasileiras in natura, mas sim a aplicação incorreta do medicamento.
A desconformidade foi um dos argumentos apresentados pelo Departamento de Agricultura norte-americano para suspender, do último dia 22, toda a importação do produto.
Em comunicado à época, o ministro brasileiro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que, “muito provavelmente, os problemas que vêm ocorrendo são em função da reação a componentes das vacinas.”
A nota, assinada pela diretora do Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários, Janaína Gonçalves Garçone, e pelo secretário de Defesa Agropecuária, Luis Eduardo Pacifici Rangel, esclarece que são esperados nódulos nos locais da injeção.
Por conter em sua composição adjuvante 70% de óleo mineral —substância que “leva” o vírus inativo para dentro do animal—, a vacina seria um indutor de reações no local da aplicação, “o que é esperado para a proteção do animal vacinado.” Essas reações, alérgicas e de hipersensibilidade, “são inerentes à maioria dos medicamentos injetáveis, com intensidade variável de acordo com o tipo de produto e do indivíduo.”
O comunicado afirma que os fabricantes das vacinas são obrigados a realizar testes de controle de qualidade para avaliar a potência, segurança, esterilidade e tolerância do produto. A produção é submetida aos mesmos testes no Laboratório Nacional Agropecuário do Mapa, e os lotes que não estiverem conforme o exigido não condenados e destruídos. Segundo o órgão, o índice médio de aprovação de vacinas contra a febre aftosa de 2015 a 2017 é de 98%.
Nódulos na região da aplicação são aceitos. “Com base nas diretrizes do Panaftosa [Centro Pan-americano de Febre Aftosa], amparados no Regulamento Técnico para Produção e Controle de Qualidade de Vacinas Contra a Febre Aftosa, aprovado pela Instrução Normativa no 50/2008, aceita-se, no teste de tolerância, a observação do surgimento de nódulos no local da aplicação”, diz a nota.
Segundo o documento, existem registros de nódulos decorrentes do medicamento injetável desde o início do uso obrigatório da vacina oleosa no Brasil, em 1992.
“Diferentemente, abscessos são lesões que ocorrem eventualmente em decorrência de más práticas e de contaminação microbiológica no local da aplicação”, diz o comunicado. “O agravamento das reações locais, ou a evolução dessas reações para abscessos, estão relacionados com a aplicação incorreta do produto, podendo levar a perdas no processamento das carcaças”, conclui.
Para Emílio Salani, vice-presidente do Sindan (entidade que reúne as indústrias produtoras de vacina contra a aftosa), a nota é “esclarecedora”. “Ela esclarece não apenas a questão envolvendo a vacina, mas também o que é o abscesso e a diferença disso para nódulos internos”, afirma.
Em coletiva no dia 23 de junho, o secretário-executivo do ministério, Eumar Novacki, afirmou que o governo faria uma investigação para verificar a qualidade das vacinas aplicadas nos animais cuja carne foi exportada.
“Temos como fazer um rastreamento de todos os lotes [da vacina] usados. Vamos fazer um levantamento para testar a sua qualidade”, disse Novacki.