Correio do Estado/LD
Com cerca de três semanas de atraso, acabou oficialmente nesta semana (dia 25) a colheita da soja em Mato Grosso do sul. Mas o atraso não chega a ser problema para os produtores, que estão apreensivos mesmo é por causa da quenda nos preços, que somente em abril recuaram 12%, o que está provocando perdas bilionárias aos produtores.
No começo do mês a saca estava em R$ 136. Agora, está em apenas R$ 119 na região central do Estado, e com tendência de queda para os próximos dias. Porém, o tamanho da perda fica mais claro se a comparação for feita com o final de abril do ano passado, quando a saca estava em R$ 183. De lá para cá, a queda é de 35%.
Os dados oficiais sobre o volume colhido no Estado devem ser divulgados somente na segunda quinzena de maio, conforme a Famasul. Mas já se sabe que a produtividade média foi de 58 sacas por hectare. E, como a área plantada foi de 3,8 milhões de hectares, estima-se que tenham sido produzidos 13,38 milhões de toneladas.
Isso equivale a cerca de 637 milhões de sacas de 60 quilos. E, como a cotação caiu R$ 17 por saca somente em abril, a perda dos produtores de Mato Grosso do Sul foi da ordem de R$ 10,8 bilhões somente neste mês. Mas isso se toda a soja ainda estivesse à venda. Levando em consideração que somente a metade disso está à espera de comercialização, o “prejuízo” estimado cai para R$ 5,4 bilhões.
E, conforme o economista do Sindicato Rural de Campo Grande Staney Barbosa Melo, os altos preços dos anos anteriores, quando a saca chegou a superar a barreira dos R$ 200 em decorrência da crise da covid e da quebra na safra, acabou criando uma armadilha para os produtores, que saíram em disparada para plantar soja achando que a lucratividade seria permanente. Essa corrida gerou excesso de produção aqui e em outros países.
“Na safra do ano passado, o País produziu 123 milhões de toneladas de soja, agora tudo indica que teremos algo próximo de 154 milhões”. Só em Mato Grosso do Sul a produção saltou de 9 milhões de toneladas (ano de estiagem) para cerca de 14 milhões de toneladas.
Além disso, explica o economista, o setor de logística não acompanhou este aumento na produção, e agora falta espaço para estocar o produto e estrutura para exportação. Isso derruba os preços e acaba forçando muita gente a aceitar a baixa cotação, já que as dívidas estão vencendo e os juros estão muito altos, conforme o economista.
E por esse valor ainda é uma atividade lucrativa? “A resposta para essa pergunta é um sonoro “depende”. Tudo depende da posição particular de cada produtor rural, se tem capacidade e recursos para armazenar a produção e esperar a recuperação do mercado, se travou preços por meio de hedge no mercado de derivativos, se teve uma boa taxa de produtividade nas terras, podemos enumerar diversos fatores que separam a atividades entre ganhos e perdas”, explica o economista do Sindicato Rural de Campo Grande.
Outros analistas de mercado acreditam que as cotações tenham chegado perto do fundo do poço e a tendência seja de alguma melhora a partir do fim do semestre. Por isso, sugerem que aquele que ainda tem soja para vender e não estiver pagando juros altos de financiamentos espere algumas semanas para vender a oleaginosa.
Mas, apesar de preverem uma possível melhora, não acreditam em recuperação significativa dos preços, pois a safra dos Estados Unidos está com indicativos de que será boa e isso tem reflexo fundamental nas cotações mundiais.
ATRASO De acordo com a Famasul, o atraso na colheira ocorreu por causa de uma queda nas temperaturas durante os meses de novembro e dezembro de 2022, alongando o ciclo da cultura em mais de 10 dias. Além disso, a partir da segunda quinzena de janeiro de 2023, a alta precipitação coincidiu com o período de enchimento de grãos, o que impactou no alongamento do ciclo, na inviabilização da dessecação, no aumento da umidade dos grãos e no atraso da entrada das máquinas nas lavouras.
De acordo com o CEMTEC, de 23 de janeiro- quando a operação de colheita foi iniciada- até a última sexta-feira, 21, os pluviômetros do estado já registraram 32.776 milímetros de chuva. As cidades que receberam os maiores volumes foram São Gabriel do Oeste, Ponta Porã e Bataguassu, com 986, 913 e 911 mm, respectivamente.
O ciclo de soja 22/23 encerrou sem quebra de safra, diferente do ocorrido no ano anterior, contudo, a qualidade dos grãos foi comprometida, conforme afirma o presidente da Aprosoja/MS, André Dobashi. “A elevada umidade, as altas temperaturas e a ação de microrganismos no estádio final da cultura contribuíram para a redução da qualidade dos grãos nas regiões com maior volume de chuva”, explica.
O atraso na colheira da soja interferiu no andamento da semeadura do milho 2ª safra. A operação encerrou na última sexta-feira (21), com déficit de três semanas, em relação ao ciclo de 21/22.
Com isso, 54% da área de milho foi semeada fora da melhor janela, ou seja, essas lavouras apresentam maior risco de susceptibilidade às intempéries climáticas, como estiagem e geada .
De acordo com a média histórica dos últimos cinco anos, a expectativa inicial é de que a safra do cereal atinja uma área de 2,3 milhões de hectares, 5,39% acima que o ciclo anterior; com produtividade de 80,33 sc/ha e produção de 11,206 milhões de toneladas.
E as perspectivas de preçoo para o milho também não são das melhores. Em abril do ano passado a saca estava na casa dos R$ 80,00. Agora, não passa de R$ 50,00 o que representa retração da ordem de 37%. Mas, o custo da produção é praticamente o mesmo. Na safrinha passado, conforme Staney, o produtor gastava R$ 7,7 mil para produzir um hectare. Agora, recuou para R$ 7,3 mil. A queda nos gastos é de apenas 5%, sendo que a redução nos preços chega perto dos 40%.