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Em 2014, só metade das escolas de educação básica no Brasil tinham acesso à internet de banda larga, segundo um estudo feito pelo Instituto Ayrton Senna, ao qual o G1 teve acesso. De acordo com os dados, a porcentagem de escolas públicas nessa situação em 2014 era de 42,7%, taxa menor que a registrada seis anos antes pelas escolas particulares, de 48,8%.
No ano passado, na rede privada, 80,2% das escolas já tinham acesso à internet de alta velocidade. Os dados foram levantados a partir das últimas sete edições do Censo Escolar.
Segundo os números do Censo, o Brasil tinha um total de 149.098 escolas públicas e 39.575 escolas privadas de educação básica em 2014. Embora as escolas privadas representem 20,9% do total de escolas no país, elas respondem por 33,3% do total de escolas brasileiras com internet de banda larga.
É possível notar, a partir do levantamento, que o investimento público em banda larga privilegia os estudantes do ensino médio. Na divisão entre o ensino fundamental e o ensino médio, 79,4% das escolas públicas de ensino médio tinham banda larga em 2014, contra 90,8% das escolas particulares.
Em nota, o Ministério da Educação (MEC) afirmou que considera que o número de alunos atendidos é o melhor indicador. "Ao contrário do que apresenta o estudo, o Brasil já atende 70% do total de alunos do ensino fundamental público, ou seja, mais de 16,8 milhões, e 84% dos estudantes do ensino médio público, o que representa 6,1 milhões de matrículas", afirma o ministério.
"O governo federal trabalha para ampliar a quantidade de alunos e escolas atendidos pelo Programa Banda Larga nas Escolas, por meio do qual as operadoras de telecomunicações instalam uma conexão em alta velocidade e oferecem a ampliação periódica dessa velocidade para manter a qualidade e a atualidade do serviço durante a vigência da oferta, até 2025. O programa é resultado de uma parceria entre os ministérios da Educação e das Comunicações e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)", informa o ministério.
Regiões
De acordo com o levantamento, em todos os estados do Brasil, a rede particular apresentou níveis de acesso à banda larga nas escolas mais alto do que as redes públicas. No caso das escolas públicas, em 16 dos 26 estados e do Distrito Federal a porcentagem de escolas públicas com banda larga representa menos da metade do total de escolas.
Já na rede particular, só no Amapá a porcentagem ficou abaixo de 50%. Nesse caso, só 25,4% das escolas privadas tinham banda larga em 2014, contra 6,3% das escolas públicas.
O Distrito Federal tinha, em 2014, a maior porcentagem de escolas públicas com acesso à internet de alta velocidade (88,9%), seguido de São Paulo, com 77%, e Mato Grosso do Sul, com 74,3%.
Investimento em internet móvel
O levantamento também pesquisou a porcentagem das escolas que contam com laboratório de informática para os estudantes. Nesse caso, o número é parecido entre as redes: na pública, 44,7% das escolas têm o equipamento. Na privada, a porcentagem foi de 45,3% em 2014, e caiu pela segunda vez consecutiva (a taxa mais alta de presença desse equipamento nas escolas particulares foi de 47,4%, registrada no Censo de 2012).
Mesmo assim, entre as escolas públicas que têm laboratórios de informática, cerca de um terço não conseguem realizar algumas atividades porque falta a internet de banda larga. De acordo com os dados, em 2014, 21.273 escolas das redes públicas brasileiras estavam nesta situação.
Para Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do instituto, os números mostram que o investimento das escolas particulares está mais concentrado no campo dos smartphones e notebooks que podem ser usados dentro da sala de aula. "É um sinal de que a necessidade da banda larga é estratégica para desenvolver a aprendizagem no século 21, que não fica na aula tradicional do professor." Segundo ele, o professor vai se transformar mais em tutor do que em um instrutor tradicional. "Será um indutor pela busca do conhecimento qualitativo."
Na rede pública, em 2014 a porcentagem de escolas de ensino médio com laboratórios de informática (89,9% do total) já era maior que o de escolas particulares no mesmo nível de ensino (77,9% do total).
Para Ramos, nos próximos dois anos a rede pública deve ultrapassar a particular em número de laboratórios em todos os níveis. Porém, segundo ele, é fundamental investir no acesso à banda larga, pois em muitos locais a velocidade da internet é um limitante para o uso dos computadores.
"O laboratório ainda é importante, mas é necessário lembrar que a sala de aula mudou e a tendência do século 21 é um modelo híbrido de aprendizagem. A banda larga não é luxo, é a democratização do conhecimento. O notebook é o lápis do século 21", disse Ramos.