Da assessoria/LD
Dividida por dois rios, a cidade sul-mato-grossense de Coxim por muito tempo teve como principais referências as belezas naturais e as atividades de pesca. A chegada do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) ao município, em 2010, trouxe à Região Norte do estado uma nova perspectiva: a de se tornar um polo de pesquisa.
No período entre 2014 e 2019, 321 projetos de pesquisa desenvolvidos pelo Campus Coxim do IFMS ajudaram a solucionar problemas da comunidade local e ainda contribuíram na formação dos estudantes da instituição. Os dados são da Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação (Propi).
Os projetos recebem fomento institucional por meio de recursos próprios do IFMS e também oriundos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além de custear bolsas de iniciação científica aos estudantes que participam dos estudos, os editais também oferecem apoio financeiro para a execução das atividades. Somente no ciclo 2018-2019 foram investidos R$ 159 mil.
As pesquisas desenvolvidas em Coxim também se traduzem em premiações. Desde a implantação do campus, estudantes do IFMS e de outras instituições de ensino da região já receberam 48 prêmios estaduais, nacionais e internacionais.
“A prática da iniciação científica no campus tem apresentado resultados relevantes para a comunidade. Os estudantes têm a possibilidade de buscar soluções para resolver problemas nas diversas áreas de conhecimento, utilizando procedimentos metodológicos, discutindo e apresentando resultados para a sociedade, enfim, produzindo ciência”, avalia o professor Hugo Sisner, coordenador de Pesquisa e Inovação do IFMS em Coxim.
Por oferecer cursos relacionados ao eixo tecnológico Produção Alimentícia – técnico integrado em Alimentos (nível médio) e o superior de tecnologia em Alimentos – o Campus Coxim do IFMS desenvolve muitas pesquisas que trazem benefícios diretos ou indiretos nessa área. Os estudantes produzem trabalhos que buscam, por exemplo, baratear custos de produção e melhorar o teor nutricional do que é consumido.
São exemplos os projetos de elaboração de produtos panificados com farinhas vegetais, orientados pela professora Cláudia Munhoz, que desenvolvem diversos tipos de alimentos enriquecidos com os produtos, como bolos, biscoitos, entre outros. Além de aumentar a capacidade nutricional, as farinhas desenvolvidas no campus tornam o processo de produção mais barato, devido ao uso da secagem solar.
“Foram elaboradas farinhas com espinafre e com folhas de taioba, com uso de secagem solar, uma vez que aqui em Coxim a incidência solar é grande. A partir dessas farinhas foram elaborados muffins com farinha de taioba e biscoitos tipo cookie com farinha de espinafre. Já fizemos outros trabalhos com batata doce e, atualmente, estamos fazendo com bacuri e casca de melancia”, explica a orientadora.
O estudante do curso técnico em Alimentos, Marcos Alberto, é autor do projeto que utiliza farinha produzida a partir das folhas e dos caules do espinafre. O jovem explica que existe um grande desperdício dessas partes da planta e que a pesquisa busca dar uma destinação ao produto e gerar benefícios para quem consome.
“Realizamos a utilização integral dos alimentos, até as partes que seriam descartadas. Essas partes são fontes ricas em fibras, minerais e vitaminas. O espinafre possui alto teor de nutrientes e é um vegetal muito encontrado aqui no nosso município”, explica Alberto.
A busca por produtos nutricionais que visam melhorar a saúde do consumidor é tradicional no campus e já recebeu premiações internacionais. Em 2014, a Organização dos Estados Americanos (OEA) reconheceu como destaque das Américas a pesquisa das estudantes Rayane Melo e Carla Okabe, que desenvolveram um suplemento com potencial anticancerígeno à base de soja.
Projetos inovadores - Pesquisas desenvolvidas por estudantes de cursos do eixo tecnológico Informação e Comunicação oferecidos pelo IFMS também têm contribuído para a comunidade local. Coxim atualmente é a única cidade do estado a contar com um aplicativo que unifica as chamadas de emergência para Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Desenvolvido pelos estudantes do curso técnico em Informática Mariana Dias Nogueira, Eitor Bernardes de Paiva e Thiago Ferronatto, o aplicativo Appuros permite que, por meio de um simples toque na tela do celular, seja possível acionar um desses serviços de segurança. A central de atendimento recebe automaticamente a localização da pessoa e os dados cadastrados, como tipo sanguíneo, alergias e outras informações. Um vídeo sobre o aplicativo está disponível no Youtube.
Outro projeto, desenvolvido pelo estudante do curso técnico em Informática, Fábio Tomaz Santos, pretende criar um novo tratamento complementar para a AIDS, por meio da ozonização do soro fisiológico. A ideia é aplicar o ozônio, que tem a capacidade de destruir qualquer vírus, na corrente sanguínea de pacientes para combater o HIV. Ainda em fase de desenvolvimento, o projeto foi premiado na edição 2019 da Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul (Fetec/MS) com o quarto lugar na área de Saúde. Um vídeo elaborado pelo estudante explica a ideia.
Iniciação Científica - Em todas as pesquisas citadas, há um ponto em comum. Os estudantes receberam apoio do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica. Desde 2014, o Campus Coxim desenvolveu 78 projetos e ofereceu bolsas, com recursos próprios e do CNPq, para 237 alunos de nível médio e superior.
“O IFMS é a mãe do projeto. Todos os testes com bactérias e toda a fundamentação teórica surgiram em reuniões no Instituto Federal. No começo, eu nem tinha computador e muitos artigos foram lidos por causa do ambiente fornecido pelo Instituto. Utilizamos muito a biblioteca e os laboratórios de biologia”, afirmou o estudante Fábio, que recebeu bolsa do CNPq para o projeto sobre ozonização.
Além disso, o IFMS também colaborou para que estudantes das redes municipal e estadual tivessem um espaço próprio para apresentar suas produções científicas por meio das Feiras de Ciência e Tecnologia, realizadas nos 10 campi da instituição. Em Coxim, a feira local (Fecintecx) recebeu mais de 244 trabalhos desde 2014, desenvolvidos por estudantes do ensino fundamental, médio e técnico integrado, de escolas públicas e privadas do município e região.
As inscrições para a edição 2019 seguem abertas e podem ser feitas por meio do Sistema de Submissão pelo orientador do projeto de pesquisa, que precisa ter vínculo empregatício com instituições de ensino ou ser servidor público. Todas as regras de participação estão disponíveis no edital publicado na Central de Seleção.