\n \n Dale\n Stephens tem uma ideia e quer propagá-la pelo mundo: a universidade não é o\n único caminho para o sucesso. Aos 21 anos, o fundador do movimento UnCollege\n traça como objetivo ensinar alunos a "hackearem" a própria educação,\n ou seja, a tomarem as rédeas em sua trajetória acadêmica sem serem absorvidos\n por conceitos previamente formados. "Eu acredito na escolha. Os estudantes\n devem ser livres para optar pela melhor direção para eles sem que a sociedade\n lhes diga que só há uma possibilidade", defende. O jovem está entre os\n convidados do Nova: o curso de educação da Perestroika, em Porto Alegre, com\n início no dia 20 de abril, e ministra palestra no dia 29 de junho. \n \n Fundado em janeiro de 2011,\n o UnCollege conta com uma lista de contatos que atinge aproximadamente 15 mil\n pessoas. A equipe também utiliza o site (www.uncollege.org) para disponibilizar\n recursos para a independência acadêmica, como sugestões de leitura, listas com\n possíveis patrocinadores de projetos e dicas para aprender código de\n programação - algo essencial no mercado de trabalho, segundo eles. \n \n Além disso, Stephens dá\n palestras pelo mundo todo para divulgar o trabalho do movimento e apresentar\n exemplos de pessoas que tiveram sucesso sem seguir as convenções. "Se nós\n mudarmos a percepção de que a universidade é a única possibilidade para o\n sucesso, vai permitir que aprendizes livres tenham as habilidades e os\n conhecimentos necessários em suas áreas, em vez de simplesmente obter um\n diploma", declara. \n \n Outra atividade realizada\n para fomentar seu objetivo são os "Acampamentos Hackadêmicos"\n (Hackademic Camps), pelos quais passaram cerca de 80 pessoas. A iniciativa\n escolhe dez jovens por trimestre para passar um fim de semana em San Francisco, nos\n Estados Unidos, aprendendo a confrontar os principais problemas do ensino\n superior e a desenvolver habilidades para "hackear" a sua educação -\n o que inclui encontrar mentores e construir redes de contatos. Segundo o\n UnCollege, um hackadêmico é qualquer pessoa que seja curiosa, decida aprender e\n então compartilhar o conhecimento com o mundo, seja aos 15 ou aos 50 anos. \n \n Em 2013, o movimento lança\n um novo programa para fortalecer a causa: o Gap Year, que pode ser traduzido\n como "ano de intervalo". Com custo de US$ 13 mil, a ação consiste em\n quatro etapas: os jovens, que devem ter de 18 a 28 anos, começam com uma residência de 10\n semanas em San Francisco\n para desenvolver habilidades para uma "autoaprendizagem vitalícia".\n Depois, passam três meses fazendo intercâmbio e retornam ao Vale do Silício\n para um estágio de três meses. O programa culmina com os participantes criando\n um projeto que alguém se disponha a financiar – o que, segundo Stephens, é um\n sinal de que ele tem valor para o mundo real. A edição deste ano já encerrou as\n inscrições e recebeu mais de 300 candidatos. \n \n Trajetória \n \n Stephens, que também é\n autor do livro Hacking Your Education (Penguin, 2013), entende de educação não\n tradicional e pode defender sua causa com propriedade. Aos 12 anos, ele largou\n a escola e passou a estudar em casa por meio de um método chamado unschooling,\n termo cunhado em 1977 pelo educador John Holt. "Isso permitiu que eu\n direcionasse meus próprios estudos na escola e fosse em busca dos meus\n interesses, como tocar em uma banda de jazz, lançar e vender um negócio de\n fotografia, trabalhar em uma campanha política e viajar para o exterior",\n exemplifica. \n \n Stephens conta que se\n sentiu muito frustrado no período em que esteve na escola pública, pois não\n estava sendo desafiado academicamente. "Eu queria escapar das estruturas\n rígidas do sistema escolar", relata. O jovem disse isso aos pais, que se\n dispuseram a deixar o filho tomar a própria decisão. "Meu amor pelo\n unschooling foi imediato. Depois do meu primeiro dia no método, eu disse para a\n minha mãe que eu havia aprendido mais naquele dia do que em toda a 5ª\n série", garante. \n \n Aos 19 anos, Stephen\n ingressou na Hendrix University, uma instituição liberal de artes no Arkansas.\n De acordo com o líder do UnCollege, o motivo para ter entrado na universidade foi\n apenas um: é o que a maioria faz. Ele afirma que, como grande parte dos jovens,\n ele acreditou que precisava de um diploma para conseguir um emprego e ser\n bem-sucedido. Em apenas um semestre, contudo, o jovem começou a questionar\n esses preceitos. "Os outros alunos eram completamente desinteressados, e\n as aulas não tinham nenhuma relevância para o que eu queria fazer com o resto\n da minha vida. Concluí que não valia a pena gastar tanto tempo e dinheiro\n naquilo e decidi voltar a autodirigir minha educação", declara. \n \n Graças a essa frustração\n acadêmica, surgiu o UnCollege. Stephens escreveu um artigo explicando todas as\n críticas e problemas do ensino superior, enviou para todos os contatos que\n encontrou e, em pouco tempo, o texto estava sendo publicado em canais de\n notícias. A partir daí, o jovem lançou o site do movimento e escreveu o The\n UnCollege Manifesto: Your Guide to Academic Deviance (Manifesto UnCollege: Seu\n guia para o desvio acadêmico). \n \n Em maio de 2011, Stephens\n foi selecionado para o Thiel Fellowship, programa do empresário Peter Thiel\n (cofundador do PayPal) que dá US$ 100 mil para 20 pessoas com menos de 20 anos\n com o objetivo de incentivá-las a largar a faculdade e investir em seus\n próprios projetos. Na primeira vez que tentou participar, contudo, foi\n rejeitado. “Eles me convidaram para me candidatar novamente usando o UnCollege\n como projeto, e eu fui aceito. Foi uma oportunidade fenomenal que me deu os\n recursos necessários para lançar o movimento colo ele é hoje”, conta. \n \n Futuro \n \n Para Stephens, o futuro da\n educação passa pela ideia divulgada pelo UnCollege. Ele acredita que a gestão\n do ensino vai mudar das instituições para os indivíduos. “Com a riqueza de\n fontes existentes de graça ou por uma pequena fração do preço de uma\n universidade, as pessoas vão escolher a trajetória que funciona melhor para\n elas”, aponta. \n \n O jovem crê que, apesar de\n se encontrar em uma realidade diferente da americana, na qual surgiu o\n movimento, o Brasil também tem condições de aproveitar os “mandamentos” do\n UnCollege. Stephens destaca que a ideia de um aprendizado autodirigido e\n permanente pode ser aplicado a qualquer um, em qualquer lugar. “Esteja você no\n Brasil ou nos Estados Unidos, dentro ou fora da escola, empresário ou não, você\n pode tomar o controle no seu trabalho e na educação aplicando essa mentalidade\n hackadêmica”, ressalta.