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A espera da comunidade acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pela nomeação de sua nova reitora chegou ao fim. A confirmação da médica Denise Pires de Carvalho à frente da maior universidade federal do país foi publicada nesta segunda-feira no Diário Oficial. Em entrevista ao GLOBO, a primeira reitora mulher da instituição em quase 100 anos disse que vai lutar pelo desbloqueio de verbas e afirmou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, precisa "abrir o diálogo com a área educacional do país".
Durante a conversa, Denise disse que deve se encontrar ainda nesta semana com representantes do Ministério da Educação (MEC) para falar sobre os projetos de reconstrução do Museu Nacional, que, no momento, enfrenta um contingenciamento de cerca de R$12 milhões oriundos de uma emenda parlamentar.
A nova reitora defendeu a gratuidade das universidades públicas e disse que os cursos de humanas, "base das construções das universidades no mundo", devem ser fortalecidos. Recentemente, Weintraub cogitou a possibilidade de cobrança em cursos de pós-graduação nas universidades públicas e falou também sobre a redução de investimentos em carreiras da área de humanidades. Segundo ela, sua relação com o MEC será de porta-voz das demandas da universidade para o governo a fim de tornar a UFRJ uma "potência".
Eleita em primeiro turno na consulta à comunidade acadêmica, em abril, Denise disse que temeu não ser nomeada, mas que ficou "honrada" com a atitude do presidente, Jair Bolsonaro , de confirmar o resultado das urnas da UFRJ. A nova reitora chegou a se reunir com a bancada de deputados e senadores do Rio para falar, entre outros assuntos, sobre sua nomeação. De acordo com a lei, as universidades federais encaminham uma lista com três nomes ao presidente e ele pode escolher qualquer um, mas, desde o governo Lula, a nomeação tem respeitado o primeiro colocado da lista.
A senhora temeu não ser nomeada?
Não havia nenhuma convicção de que o presidente escolheria o primeiro da lista tríplice porque ele tem prerrogativa de escolher qualquer um dos três. E o questionamento da lista ou a possível escolha de um segundo nome vem acontecendo em outras universidades. Não havia nenhuma confirmação de que aqui seria diferente. Eu fiquei muito honrada e toda a comunidade acadêmica ficou satisfeita de o presidente ter honrado a escolha da universidade. O processo eleitoral da UFRJ é assim há décadas, existe uma tradição. Como esse processo nunca havia sido questionado antes, a gente tinha quase certeza de que não haveria questionamento do processo em si. No entanto, a escolha do primeiro nome da lista não tinha como ter certeza. Mas eu tenho uma trajetória na universidade que é muito clara. Sempre trabalhei pela UFRJ durante toda minha carreira, desde que ingressei como docente em 1990. Eu nunca me posicionei a favor ou contra qualquer que seja o grupo político, a não ser em questões internas relacionadas à administração da universidade. O que queremos é uma universidade pública, gratuita e fortalecida, com o pesquisador que é também professor.
O presidente disse que pessoas próximas a ele defenderam sua nomeação. A senhora fez alguma articulação nesse sentido?
Eu sou uma pessoa que tenho muitos amigos, então é muito difícil dizer quem é próximo do presidente. Eu transito muito bem entre a área básica do conhecimento e a profissional, fui presidente do departamento de tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, que é uma das sociedades médicas mais fortes do Brasil. É uma sociedade com projeção não só nacional, como internacional. Acho que várias pessoas são próximas do presidente, porque é uma característica da nossa profissão, tenho contato com vários médicos e vários cientistas. Então é difícil dizer. Eu exerci cargos tanto em sociedades médicas quanto científicas. O presidente deve ter escutado falar bem de mim, o que fico muito feliz. Mas não houve uma articulação específica. Eu procurei toda a bancada federal do Rio de Janeiro, inclusive os senadores do Rio de Janeiro. E esse é um caminho importante não só para minha nomeação, mas para a gestão da universidade. O apoio da bancada é fundamental para as instituições.
A UFRJ teve boa parte de seu orçamento de custeio contingenciado pelo MEC. O que a senhora pretende fazer em relação a isso?
Nas minhas idas a Brasília fui conversar com o secretário de ensino superior do MEC e ele se mostrou muito sensível à questão da UFRJ. Mas temos desafios enormes não só com relação ao contingenciamento, mas também porque a UFRJ passou por problemas graves como o incêndio do Museu Nacional. Estaremos muito próximos do MEC para resolver a questão do Museu. É do nosso interesse que a gente o reconstrua o mais rápido possível. É importante frisar que o museu também produz conhecimento, essas estruturas de ensino, pesquisa e extensão foram todas destruídas. Não há só exposições no museu, mas também atividades de pesquisa. O contingenciamento é muito grave porque a UFRJ tem não só atividade de ensino, temos mais de 1.200 laboratórios funcionando, temos mais de 10 prédios tombados.