João Batista Oliveira
Em meu último texto, apontei evidências levantadas por pesquisas internacionais que mostram que fatores como a família e nível socioeconômico são os principais responsáveis pelos resultados de um aluno na escola. Quanto melhor o ambiente familiar e as condições de renda, mais chances ele terá de ter um bom desempenho escolar – e vice-versa.
Apesar da influência dos fatores externos à escola, em países como o Brasil essa instituição faz uma diferença boa na vida de crianças e adolescentes. É o que revela o livro “Educação Baseada em Evidências – o que funciona em Educação” (Instituto Alfa e Beto), lançado em novembro e com autoria de quatro pesquisadores, entre eles Gregory Elacqua, do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
A publicação mostra o que efetivamente ocorre nas escolas de alto desempenho, ou seja, aquelas que agregam mais conhecimento aos alunos, independentemente e além de seu nível socioeconômico e que podem ser consideradas boas de fato. Segundo as pesquisas, essas instituições são como um organismo focado em sua missão de ensinar, estruturada em torno de um currículo, e não como uma rede frouxa de indivíduos com suas próprias agendas.
Essa característica das escolas eficazes inclui sua capacidade de priorizar conteúdos. Em lugar de cobrir um currículo extenso, elas se propõem a dedicar bastante tempo às áreas que são mais importantes e aos conteúdos básicos que são pré-requisitos para continuar aprendendo, como o domínio da língua, matemática e ciências. Essas escolas conseguem ainda administrar o tempo e distribuí-lo, organizando períodos extras para quem mais precisa, sem que isso seja percebido como punição.
A boa escola também faz parte de um sistema eficaz de desenvolvimento profissional; promove o vínculo com a família por meio de uma rede integrada de apoio aos alunos; oferece um ambiente de aprendizagem centrado no estudante, que identifica e atende as dificuldades que qualquer criança possa ter; e possui uma liderança (direção escolar) centrada em estimular professores, famílias e membros da comunidade para que compartilhem a responsabilidade pelo desempenho escolar.
Quando essas características estão presentes, os alunos aprendem mais competências de leitura e mais conhecimentos matemáticos (para citar apenas duas áreas analisadas em pesquisas sobre o tema). Aspectos fracos, em contraponto, estão diretamente relacionados com o baixo desempenho nessas áreas, fazendo com que as diferenças socioeconômicas se sobressaiam e impeçam a igualdade de aprendizado.
Diversos estudos conseguiram identificar as características das escolas eficazes e muitos deles estão citados no livro. No entanto, há um desafio maior das pesquisas: identificar os mecanismos que levam uma escola ineficaz a desenvolver as características de uma escola eficaz. Nas próximas semanas, detalharei melhor essas estruturas e mostrarei que a boa educação depende de medidas simples – porém, pouco aplicadas em nosso país.