Rafael Figueiredo, 13 anos, perde parte do dinheiro em caso de deslize. Especialista vê com ressalvas uso da mesada como forma de orientação.

Pai dá dinheiro, mas desconta quando filho não tira notas altas ou faz bagunça em casa (Foto: Felipe Truda)
\n \n A vida de Rafael Figueiredo, de 13 anos, mudou radicalmente há pouco mais de\n um ano. O menino, que morava com a mãe no Rio de Janeiro, se mudou para o\n centro de Porto Alegre no final de 2010 para viver com o pai, o arquiteto\n Marcelo Figueiredo, de 44 anos. \n \n Na capital gaúcha, ele teve de se adaptar a um novo sistema de ganhar\n mesada: os R$ 15 semanais que recebe sofrem descontos caso ele cometa algum\n deslize. Por mim, ele me daria R$ 50 por semana, mas acho importante ele me\n dar este limite, reconhece o menino.\n \n Marcelo não exige que o filho faça tarefas domésticas. Porém, se ele deixar\n algo fora do lugar, perde R$ 1. Eu ganho todo o valor se mantiver a casa\n arrumada. Não preciso arrumar, é só não bagunçar. Se eu deixar copos e pratos\n espalhados, perco R$ 1. E se não fizer o dever de casa, é um pouco mais,\n explica Rafael.\n \n A preocupação com os estudos se deve à dificuldade\n que Rafael enfrentou para se adaptar à exigência da nova escola. O menino conta\n que no Rio de Janeiro estudava em uma escola com média mais baixa. Saí de uma\n escola muito fraca, reconhece. O fato de ser novo na classe também dificultou\n a vida escolar do menino, que era visto com ressalvas pelos colegas do Colégio\n Rosário. Mas no segundo ano na capital gaúcha, ele garante que a situação está\n mais tranquila. Agora já melhorei bastante. Estou me socializando e me\n adaptando melhor, garante.\n \n Incentivador dos estudos, o arquiteto\n estipula regras mais rígidas no controle da mesada quando o assunto é a escola.\n Um aviso de algum professor, de que ele tenha deixado de realizar alguma\n tarefa, tira R$ 2 dos R$ 15 semanais. E uma nota baixa em alguma prova deixa o\n menino sem a mesada.\n \n Por outro lado, o adolescente tem a\n chance de aumentar o valor. Se ele lavar a louça, ganha R$ 1 ou R$ 2,\n dependendo do volume da louça. E se tirar todas as notas acima de 7 também,\n afirma o pai.\n \n Rafael ressalta que o dinheiro da mesada\n não inclui despesas do dia a dia e programas feitos com o pai. Cinema, lanche,\n coisas assim o meu pai paga. Minha mesada é para eu comprar coisas para mim,\n conta.\n \n O menino, que gosta de ler, ouvir música\n e assistir à televisão nas horas vagas, gasta a maior parte do valor da mesada\n com revistas especializadas em\n ciência. Ele reconhece que o sistema o ensinou a economizar\n mais. Mesmo que isso exija um grande esforço. Quando eu vou ao shopping, nada\n me segura. Tem vezes que eu respiro fundo e me controlo para não gastar tudo. E\n consigo, mas dói um pouco, conta.\n \n O aprendizado do filho é visível para\n Marcelo. Vejo que ele dá bastante valor e economiza. Às vezes me pede um troco\n a mais, da passagem de ônibus ou da merenda, para guardar, explica o pai. Para\n os dois, o mais importante é ter honestidade.\n \n Diálogo para orientar
\n A psicopedagoga e especialista em orientação educacional Paula Falcão Cruz vê\n com ressalvas a utilização da mesada como instrumento para a orientação. O\n importante é que a criança perceba o sentido do que está sendo negociado, que\n se não fizer os deveres ela vai sair prejudicada, e que a bagunça vai gerar\n desconforto para todos. Colaborar com as tarefas domésticas é obrigação de\n todos que convivem em um espaço comum, disse ao G1 a profissional.\n \n A orientadora educacional recomenda que os pais apostem nos\n diálogos para orientar crianças e adolescentes. O fundamental é que os adultos\n sejam persistentes e pacientes, explicando às crianças a importância de sua\n contribuição nas regras firmadas, destaca.\n \n \n \n