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Esportes
28/03/2018 10:32:00
Belfort sonha finalizar Lyoto no Rio: "Queria dar esse presente ao Carlson Gracie"

Combate/LD

Vitor Belfort encerra - sem jamais dizer que não daria uma segunda chance ao MMA - sua carreira no dia 12 de maio, no UFC Rio 9, na Arena da Barra, contra Lyoto Machida. O "Fenômeno", cuja agressividade no cage foi a tônica de sua longa trajetória, sonha se despedir do Ultimate com uma finalização.

O carioca - autor de 18 nocautes - afirma, em entrevista exclusiva ao Combate.com, que vencer utilizando o jiu-jítsu seria uma forma de homenagear seu falecido mestre Carlson Gracie.

  • Uma vitória por finalização seria top. Estou com saudades de finalizar, queria dar esse presente ao Carlson. Seria muito bom. A minha última finalização foi contra o Anthony Johnson, no Rio - declarou o faixa-preta, que vem de vitória sobre Nate Marquardt, em junho de 2017, na Cidade Maravilhosa.

Em preparação na academia Tristar, no Canadá, Vitor Belfort afirma que está recebendo a ajuda de Georges St-Pierre, ex-campeão do Ultimate e faz um alerta ao compatriota Lyoto Machida.

  • Aqui tem muito carateca para simular o jogo do Lyoto. Estou virando expert no jogo do GSP. Se o Lyoto abrir muito a base e deixar a perna muito na frente, vou pegá-la.

Confira a entrevista completa:

COMBATE.COM: Você viria ao Rio na semana passada para a coletiva do UFC Rio 9. O que aconteceu?

VITOR BELFORT: - Eu fiquei mal, o médico falou que eu poderia piorar... A prioridade é estar pronto para lutar no Rio, não pode haver erro. Devia ser uma virose, mas passou. Não deu para viajar, mas já voltei a treinar.

Como está a preparação?

  • Estou leve, sei que tenho que ir lá no Rio fazer o meu trabalho. É um privilégio lutar contra uma lenda do esporte. Aqui no Canadá é muito gostoso, gosto muito do pessoal do GSP, do Firas (Zahabi, líder da equipe). Aqui tem muito carateca para simular o jogo do Lyoto. Estou virando expert no jogo do GSP. Se o Lyoto abrir muito a base e deixar a perna muito na frente, vou pegá-la.

No que o GSP tem ajudado?

  • Quando ele estreou no UFC, eu fui campeão do cinturão, em 2004. Ele estreou contra o Karo Parisyan. Eu o conheço desde aquela época. Eu sou um estudante, estou sempre aprendendo. A melhor maneira de ensinar é aprendendo. Aprendi muita coisa, single leg, double leg, botar pra baixo, o tempo de luta, as mudanças de direção... A versatilidade do GSP é muito boa.

Como é a relação de vocês?

  • A gente sai, conversa, fala de planos para o futuro. Tem muita coisa por vir. Conversamos planos para o futuro, muta coisa boa para vir. Vamos revolucionar esse esporte, aumentar o salário de todo mundo. As coisas vão melhorar, é questão de paciência e tempo. Será um processo longo, a primeira coisa é vencer essa luta. Tem que ter conscientização. As pessoas precisam compreender melhor, se respeitar mais, independentemente de rivalidade. Ao mesmo tempo que somos rivais, somos companheiros de trabalho. Vamos aguardar, um passo de cada vez.

É, realmente, a sua última luta na carreira?

  • Foi o que eu falei... Para voltar, tem que ser algo que me incentive bastante. A parte financeira é uma delas, uma luta interessante é a outra. Tem que ter significado. A cabeça é de encerrar meu capítulo, mas a porta está aberta, tudo tem seu preço. É encerrar a jornada e ir para a próxima. Você não pode falar "nunca", essa palavra é muito forte. Eu tenho muito a trazer, já ajudei muito o esporte, principalmente no meu país. Tem muita gente colhendo os louros porque plantei naquela época. Há muito para fazer, é sentar e ver as perspectivas. Todo mundo tem que encerrar um capítulo e ir para o outro. É como um livro: tem início, meio e fim.

Como imagina a vida após "pendurar as luvas"? Do que vai sentir saudades e o que não fará falta?

  • Não estou preocupado com isso, não... Pensar como vai ser... Estou curtindo o momento. Tenho meu lifestyle, não faço nada obrigado, faço por prazer. Tenho prazer em acordar cedo, treinar, me dedicar. Não faço nada por ter que fazer, nem dieta. Eu me reeduco, como o que gosto e sou feliz com o que faço.

Você e Lyoto treinaram juntos cerca de dez anos atrás. Do que você lembra?

  • Ele ficou lá em casa com o Chinzo (irmão de Lyoto) quando se mudou para o Rio para treinar na Black House. A minha mãe cozinhava para ele. Eu só tenho boas lembranças, é um cara que sempre admirei, é bacana, sempre respeitou a arte marcial. Ele tem esse DNA da arte marcial que eu admiro bastante.

O Vinício Anthony, que recentemente trabalhou com você, agora é treinador do Lyoto. Como vê isso?

  • Se todo mundo que treinou comigo não puder treinar outro atleta, ninguém luta comigo. Treinar é o trabalho dele, ninguém bota arma na cabeça de ninguém. É isso, está fazendo o trabalho dele, e o meu é lutar.

É melhor enfrentar um adversário com quem tem boa relação ou alguém que você não tem afinidade?

  • O meu trabalho não é resolver rixa, não sou um guarda-costas para pegar o bandido, sou um lutador, um artista marcial, em combate contra outro artista marcial. É ali e acabou, fica ali dentro. Não tinha adversário melhor do que esse. Estamos ali para cumprir nosso trabalho. É ótimo encerrar a carreira e ver que enfrentei os melhores nomes do esporte, e finalizar enfrentando mais um dos grandes.

Você costuma ser ofensivo no octógono, e o Lyoto atua no contra-ataque. Como essa luta se desenha?

  • No dia 12 de maio vocês verão (risos). É uma boa pergunta, veremos lá. A estratégia é ganhar. Meu nome é Vitor, de vitória.

Os fãs verão um Vitor Belfort agressivo ou comedido?

  • Os dois, tudo depende. Inteligente, versátil... Posso mostrar algo novo no meu jogo, tem tanta coisa que vocês ainda não viram. O artista marcial é como um músico. Imagina se o John Lennon vivesse só de uma única música? O bom cantor faz música até velho, e o bom lutador é igual, está sempre lançando hit.

O que representa encerrar a carreira no Rio de Janeiro?

  • É muito legal, é a minha cidade, é motivo de alegria. Meus amigos de infância estarão lá, foi uma escolha minha lutar aí. Eu pedi essa cidade que eu tanto amo. O Rio passa por tanta dificuldade, mas dia 12 vamos levar alegria. A libertação dos escravos foi no dia 13 de maio, que pela hora da luta, vai ser nesse dia. O Vitor vai libertar o Rio com seus dons, com seu dom de união, de prazer, de otimismo. O Rio precisa de pessoas motivando as outras a irem à luta contra as injustiças. O Rio merece respeito, e essa luta simboliza isso, o respeito.

Serão dois brasileiros no octógono. A torcida estará mais do lado de quem?

  • Isso cabe a quem estiver lá dentro escolher. É difícil impor alguma coisa. Tem que torcer para quem quiser. A gente precisa dessa pequena liberdade. Não sou vidente, mãe de santo... O que tenho certeza é que minha torcida estará lá.

O Brasil possui apenas dois cinturões no UFC. Como analisa o momento atual do país no evento?

  • É um ciclo como a vida, na realidade, se não houver investimento, trabalho de base, não tem como a gente fazer milagre. O Brasil está passando por momentos de transição em todos os esportes, no futebol, no vôlei. A corrupção está afetando todos os lados. (...) A gente tem os elementos para fazer esse trabalho de base, mas é um trabalho de formiga, não é trabalho de tigre. O tigre é solitário, caça sozinho, a formiga atua em equipe, é impressionante. A gente tem que ser formiga.

Os únicos cinturões brasileiros do UFC estão com as brasileiras Amanda Nunes e Cris Cyborg. Você gosta do MMA feminino?

  • A Amanda quando começou foi treinar comigo em São Paulo, fico feliz de ver as mulheres brilhando. Se a Joanna (Prado, esposa) fosse do meu tamanho, ninguém segurava. Mulher tem uma resiliência... Elas estão merecendo o que estão colhendo.

Quem aponta como o próximo campeão do Brasil no UFC?

  • É uma boa pergunta... É difícil... Acho que o José Aldo de novo, em breve.

Quais os planos para o futuro?

  • Quero que a Belfort Fitness Lifestyle se expanda nos Estados Unidos levando qualidade de vida às pessoas. Quero ajudar o MMA a crescer, criar novas modalidades dentro do esporte. Quero, quem sabe, criar algo interessante, que as pessoas digam: "Como eu não pensei nisso antes?". Eu sou um visionário. Se eu tiver oportunidade, levo você para Marte.