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Esportes
14/04/2016 12:00:00
Blindado e focado, Cielo tenta ressurgir por vaga nas Olimpíadas

G1/AB

Foram três meses de concentração total. Restando uma única oportunidade para garantir presença no Rio 2016, Cesar Cielobuscou evitar qualquer tipo de distração. O medalhista de ouro em Pequim 2008 e dono de outros dois bronzes olímpicos se isolou nos Estados Unidos ao lado da esposa e do filho.

Sob comando de um de seus treinadores de confiança, fez o possível para tentar pôr fim à má fase que o acompanha há um ano. Um período de treinos intensos, algumas competições e atenção redobrada ao físico, que já é de um veterano de 29 anos. Agora, o esforço será colocado à prova no Troféu Maria Lenk, que começa nesta sexta-feira e vai até a próxima quarta (dia 20) - última seletiva olímpica brasileira e evento-teste para os Jogos.

O risco de o único campeão olímpico da natação do Brasil ficar fora dos Jogos do Rio é real. Algo que preocupa a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), que acompanhou com cuidado a preparação de Cielo para o Maria Lenk. O superintendente executivo da entidade, Ricardo de Moura, foi aos EUA no início do mês para observar e conversar com o atleta. Segundo o dirigente, a briga pelas vagas será apertada, mas ele acredita que Cesar chegará forte para a última seletiva.

  • Eu estive conversando com ele. Fui até os Estados Unidos para encontrá-lo, assisti à última competição que disputou. Ele me disse que melhorou bastante, que está se sentindo muito melhor… A disputa vai ser muito acirrada. Temos que pensar nesse Cielo de hoje. Eu vi um Cielo mais motivado, com muita vontade de estar nas Olimpíadas, de participar bem dos Jogos. Foi o que senti dele. Acredito que vai estar muito competitivo - disse Moura.

Para o técnico da seleção brasileira masculina, Alberto Silva, o desfalque de Cielo teria um impacto pesado no time brasileiro para os Jogos. No entanto, ele reforça a confiança na preparação feita para a seletiva e na capacidade do nadador, principal referência da equipe nacional na última década.

  • O Cielo é um atleta que não tem nem o que falar sobre a importância dele para a seleção brasileira, de estar com o Brasil nos Jogos. Só a figura dele, o peso de um atleta desse no time... Fora isso, para o que a gente espera buscar em termos de medalha individual e de revezamento, ele estar fazendo parte do time e nadando bem é de importância enorme. Ele está usando todos os recursos para chegar muito bem. Está dando os 100% dele. A gente acredita que o normal, o natural para o Cesar, é ele fazer um grande Maria Lenk - afirmou Albertinho.

Preparação nos EUA: a cartada final

A temporada de 2015 foi decepcionante para Cielo. Um ano marcado pelo frustrante Mundial de Kazan, em agosto, onde o nadador não conseguiu a conquista do terceiro título mundial nos 50m borboleta (terminou em sexto) e, alegando uma lesão no ombro, saiu da competição antes dos 50m livre, onde buscaria o tetracampeonato. Voltou a competir apenas em dezembro, no Torneio Brasileiro/Open, primeira seletiva olímpica da natação brasileira, que terminou com mais uma desistência: após ficar fora da final dos 100m livre, Cesar deixou o campeonato antes da disputa dos 50m livre e sem índice para os Jogos do Rio.

Veio então a cartada final na tentativa de não ficar fora das Olimpíadas no Rio. Em janeiro, Cesar Cielo decidiu iniciar o ano olímpico com mudança. Trocou São Paulo e a comissão técnica que o acompanhava há 11 meses, comandada por Arilson Silva, pelo estado americano do Arizona, onde voltou a trabalhar com o treinador Scott Goodrich, responsável pela preparação do brasileiro em seus dois últimos grandes momentos: os Mundiais de Barcelona, em 2013, e Doha (piscina curta), em 2014, que renderam três ouros e um bronze em provas individuais.

Com a tranquilidade da pacata cidade de Scottsdale, na região metropolitana de Phoenix, e sob supervisão de Goodrich, amigo pessoal desde os tempos em que nadaram juntos pela Universidade de Auburn (entre 2005 e 2008), Cielo iniciou a preparação específica para o Maria Lenk. Além do aspecto técnico, o brasileiro manteve também os cuidados com o físico. O corpo já não é o mesmo do auge, entre 2008 e 2009, quando tinha 21 anos. A quiropraxia, para cuidar da coluna, foi uma das especialidades médicas utilizadas pelo nadador, que recebeu suporte da CBDA e do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Para completar o ambiente favorável nos EUA, Cielo também contou em todo o período com a presença da família por perto. Ainda em janeiro, a esposa, Kelly Gisch, e o primeiro filho do casal, Thomas, que está perto de completar seis meses, se juntaram ao atleta no Arizona, inclusive, marcando presença em alguns dias de treino.

Ainda devendo nos tempos

Todo o trabalho específico realizado nos Estados Unidos nos últimos três meses ainda não foi traduzidos em resultados por Cielo. A expectativa é de que o recordista mundial dos 50m e 100m livre (tempos de 20s91 e 46s91, anotados em 2009) consiga voltar a nadar bem no Maria Lenk. Inscrito para as duas provas, Cesar nada os 100m livre na segunda-feira e os 50m livre na quarta-feira.

Uma das principais dificuldades enfrentadas pelo nadador no período de preparação foi o calendário escasso de competições. Nas poucas vezes em que pôde testar o rendimento nos EUA, as marcas ficaram abaixo do esperado.

Em 2016, Cielo só disputou um torneio de alto nível: o GP de Orlando, no início de março. Na ocasião, nadou os 50m livre, sua principal prova, para 22s67 nas eliminatórias e 22s47 na final, terminando na sexta colocação. Tempos ainda distantes de seus melhores mesmo em períodos de treino pesado, sem descanso.

Além da competição na Flórida, o campeão olímpico nadou 50m livre apenas outras duas vezes este ano, em torneios pequenos. No fim de janeiro, anotou 23s87 no Arizona, em prova sem traje de competição. Por último, venceu no dia 3 de abril outro torneio pequeno na cidade de Austin, no Texas, com a marca de 22s28.

O melhor tempo de Cielo em 2016 ainda está acima do índice olímpico para o Rio, que é de 22s27. Mas essa marca não será suficiente para garantir a classificação aos Jogos. Até o momento, os donos das duas vagas brasileiras nos 50m livre são Bruno Fratus e Ítalo Manzine, que marcaram 21s50 e 22s08 na primeira seletiva, o Torneio Brasileiro/Open, em dezembro do ano passado.

Para buscar a terceira medalha olímpica consecutiva nos 50m livre, Cielo terá que superar ao menos o tempo de Manzine no Maria Lenk. Ainda é preciso levar em conta que os adversários terão a oportunidade de melhorar suas marcas na última seletiva.

Desde de maio de 2015, Cielo não nada abaixo dos 22s08 de Manzine. Na ocasião, durante o GP de Charlotte, o brasileiro levou a prata com o tempo de 22s05, atrás do americano Josh Schneider (21s96). Depois daquela competição, Cesar nadou apenas mais uma vez os 50m livre naquele ano. Foi durante o Aberto da França, em julho, onde marcou 22s23 na eliminatória e 22s15 na final.

A última vez que Cielo quebrou a barreira dos 22s foi justamente há 12 meses, no Troféu Maria Lenk de 2015, quando conquistou a medalha de prata com o tempo de 21s84. Um tempo que, para o comentarista de natação dos canais SporTV, Alex Pussieldi, seria suficiente para garantir a classificação olímpica.

  • Não tem no mundo nadador que tenha nadado mais vezes na casa dos 21 segundos do que o Cielo. São mais de 50. Não tem ninguém que fez isso. Então, o que o Cesar Cielo precisa fazer é só ser o Cesar Cielo. Ele precisa nadar para 21s. Como eu acho que 21s será suficiente para garantir a vaga, acho que só precisa ser ele mesmo. Ele não pode ficar pensando em Olimpíadas neste momento. Ele tem que pensar no Maria Lenk. Em ganhar a vaga e depois pensar no Rio - disse Pussieldi, que também assina o "Blog do Coach", no SporTV.com.

Além dos 50m livre, Cielo nadará os 100m livre no Troféu Maria Lenk. Medalhista de bronze nesta prova em Pequim 2008, ele tem como principal foco ficar entre os quatro melhores da seletiva para garantir vaga no revezamento 4x100m livre do Brasil nos Jogos do Rio.

Na primeira seletiva, quatro nadadores ficaram abaixo do índice olímpico dos 100m livre (48s99) e, por enquanto, vão montando o time para o Rio 2016: Nicolas Oliveira (48s41), Matheus Santana (48s71), Marcelo Chierighini (48s72) e Alan Vitória (48s96). A última vez que Cielo nadou a prova na casa de 48s foi também no Maria Lenk de 2015, quando anotou 48s97.

  • Acho que ele tem tanto a chance de pegar a vaga nos 50m livre como também acredito nele disputando uma vaga no revezamento 4x100m livre. Não na prova, mas no revezamento acredito nele sim. E esse acreditar no Cielo é muito mais pelo passado que pelo presente. Minha opinião é baseada no que conheço do Cielo. Não no que tenho visto. Estou acreditando que ele vai voltar a ser o que ele sempre foi. Se for, ele ganha essa vaga - concluiu Pussieldi.