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O último mês foi repleto de reviravoltas para o peso-médio Paulo Borrachinha. Sétimo colocado no ranking da categoria, ele estava escalado para enfrentar Yoel Romero, dono da primeira posição, na luta principal do UFC Fort Lauderdale, em 27 de abril. No início de março, porém, o brasileiro foi retirado do card e substituído por Ronaldo Jacaré. O motivo de sua saída, até agora não havia sido esclarecido, mas em entrevista exclusiva ao Combate.com em Las Vegas, Borrachinha, explicou o que o tirou do evento:
- Fui chamado pra lutar com o Yoel Romero, assinei o contrato, e ele não tinha assinado. Ele entrou num reality show e ficamos nessa indecisão se ele poderia lutar ou não. Quando ele voltou do reality show e enfim poderia assinar o contrato, na mesma semana, a Comissão Atlética de Nova York me pediu para fazer uma declaração a respeito de uma medicação que eu tomei pro estômago (na minha luta contra o Johnny Hendricks). E aí eles falaram: “Pra você responder isso aqui, infelizmente você não vai poder lutar. Vai estar inelegível pra essa luta, porque você precisa notificar a gente o que você utilizou para o estômago”. Foi um medicamento simples, Plasil, não é doping. Você toma quando sente algum desconforto estomacal. Então, por conta disso, eu também não entendi, mas eles disseram que eu não poderia lutar, teria que resolver isso antes.
Faltando cerca de 20 dias pro evento de Fort Lauderdale, porém, Borrachinha foi novamente surpreendido com uma oferta do UFC para voltar a lutar no evento, dessa vez substituindo Yoel Romero:
- Faltando 20 dias pra luta, tudo foi resolvido, e aí disseram que eu estaria apto a lutar. Mas me deram apenas 20 dias e eu não estava em camp, eu não estava em treinamento intenso, porque eu parei de treinar depois que eu soube que eu não iria lutar com o Yoel Romero. Fiquei quase um mês basicamente descansando, só fazendo uma manutenção leve, de baixa intensidade. Me chamaram pra lutar em 20 dias, me deram uma oportunidade de lutar com o Jacaré. Eu aceitei, mas pra maio, pra 27 de abril seria impossível. Não dá pra perder 18kg e treinar em alta intensidade com 20 dias (de antecedência).
No bate-papo, Borrachinha, que estava em Las Vegas realizando uma série de testes no Instituto de Performance do UFC, também conta que pretende voltar a lutar em maio e que, se a luta contra Romero for reagendada, vai bater no adversário com gosto depois do cubano ter afirmado sem provas que ele saiu da luta por ter sido pego em um teste antidoping:
- É ruim. Apesar de ser um boato falso, cria aquela fumaça. Até as pessoas verem que não tem nada a ver, talvez passe uma imagem ruim. Mas não tem o que falar. Simplesmente não aconteceu nada disso. Nunca usei nada, nenhum tipo de artifício desse, de doping, nada disso. E a USADA está aí para comprovar. Mas eu vou bater nele com mais gosto. Vou, vou sim. Com certeza cada golpe vai ter um prazer maior.
Confira o bate-papo na íntegra:
Combate: O que você está fazendo aqui em Las Vegas?
Paulo Borrachinha: O UFC me convidou para vir fazer alguns testes aqui e gravar esses testes. Nós estamos no Instituto de Performance do UFC e eu vim fazer. Achei que poderia somar muito para eu obter dados novos com toda essa tecnologia que eles possuem, para saber cientificamente e com números o que que funciona pra mim, o que estou fazendo de bom. Na parte física, principalmente, o que está funcionando, o que não está funcionando, o que estou fazendo errado, e obter mais informações pra conseguir ter uma performance melhor ainda, para render mais… Sou um cara muito explosivo, quero apresentar ainda mais explosão, mais potência, mais resistência nas lutas. Então o objetivo foi vir me aperfeiçoar como atleta.
Teve algum resultado desses testes todos que te surpreendeu?
Teve, sim. Primeiramente, eu consegui visualizar no teste de VO2 máximo que eles fazem para saber qual é o nível em que meu corpo começa a entrar no estado de fadiga máxima. Então, de zero a 100%, até 85%, que é um nível alto, eu consigo render sem chegar no estado da fadiga. A partir disso, eu não consigo continuar crescendo, apenas mantenho. Se passar de 95%, começa a cair o nível de energia. Isso foi importante. E, nesse mesmo teste, eu consegui identificar em qual intensidade o meu corpo queima mais gordura do que carboidrato, e a partir de qual intensidade eu consigo queimar mais carboidrato e menos gordura, o que é importante pra fazer um camp bem feito. Você precisa queimar gordura, e não carboidrato. E depois, quando você não tem mais gordura pra queimar, aí sim você usa o carboidrato. Então isso foi importante. Mas também fiz testes de potência, que eles fazem com todos os atletas, nos quais você consegue mensurar em qual nível você está dentre todos os atletas do UFC. Um deles eu quebrei o recorde, foi o teste de potência de membros superiores. Você faz igual uma bicicleta, só que com as mãos. Eu fui o número um, fui o melhor. E no teste de potência de pernas também fiquei entre os dois melhores. Então tive resultados muito bons, significa que estou no caminho certo nesse quesito de potência. Já no quesito resistência, de força, que é manter um nível alto com membros inferiores na bicicleta durante três minutos, eu preciso evoluir mais.
E na parte de nutrição? Teve algo que vai te ajudar com relação ao corte de peso daqui pra frente?
Eu sou um peso-médio bem pesado. A verdade é essa. Eu estou hoje com 102kg, muita massa muscular, densidade física muito grande. Então, eu não consigo perder peso facilmente. Eu preciso de uma dieta muito restrita, não posso fugir da dieta durante 60 dias, é essa a condição para bater 84kg saudável e treinando, tendo performance. Então é muita salada, pouquíssimo carboidrato. Nada de açúcar, nada de gordura saturada, só gorduras boas, tipo castanhas, abacate, coisas assim. Não é fácil, é muito difícil, preciso de 40 a 60 dias de dieta intensa e muitos exercícios para conseguir baixar o nível de gordura e depois baixar o nível de água.
Essa parte do corte de peso foi uma das coisas que você alegou para não enfrentar o Ronaldo Jacaré em Fort Lauderdale no dia 27 de abril. Mas, originalmente, era você quem estava escalado para enfrentar o Yoel Romero na luta principal do evento. Como você recebeu a notícia de que estava fora dessa luta?
Na verdade, esse é um evento muito complicado. Primeiramente, fui chamado pra lutar com o Yoel Romero, assinei o contrato, e ele não tinha assinado. Ele entrou num reality show e ficamos nessa indecisão se ele poderia lutar ou não. Quando ele voltou do reality show e, enfim, poderia assinar o contrato, na mesma semana a Comissão Atlética de Nova York me pediu para fazer uma declaração a respeito de uma medicação que eu tomei pro estômago. E aí eles falaram: “Pra você responder isso aqui, infelizmente você não vai poder lutar. Vai estar inelegível pra essa luta, porque você precisa notificar a gente sobre o que você utilizou para o estômago”. Foi um medicamento simples, Plasil, não é doping. Você toma quando sente algum desconforto estomacal. Então, por conta disso, eu também não entendi, mas eles disseram que eu não poderia lutar, teria que resolver isso antes. Mas agora, faltando 20 dias pra luta, tudo foi resolvido e aí disseram que eu estaria apto a lutar. Mas me deram apenas 20 dias, e eu não estava em camp, não estava em treinamento intenso, porque eu parei de treinar depois que soube que não iria lutar com o Yoel Romero. Fiquei quase um mês basicamente descansando, só fazendo uma manutenção leve, de baixa intensidade. Me chamaram pra lutar em 20 dias, me deram uma oportunidade de lutar com o Jacaré. Eu aceitei, mas pra maio. Pra 27 de abril seria impossível. Não dá pra perder 18kg e treinar em alta intensidade com 20 dias.
A Comissão de Nova York te deu esse aviso agora, mas você chegou a lutar depois da luta em Nova York…
Cheguei. Na verdade, foi uma coisa bem atrasada da Comissão. Eu lutei em Nova York em 2017, depois lutei em Las Vegas em 2018, e agora que eles me pediram essa declaração. Eu não entendi…
E te ofereceram a luta contra o Ronaldo Jacaré quando você já estava chegando em Vegas. Você já vinha pra cá fazer esses testes?
Foi, quando eu estava embarcando. Eu estava vindo para fazer esses testes, e aí, no avião, eu fiquei sabendo que o Romero não ia mais lutar, e que a vaga estava em aberto. Sem pensar eu já falei "sim". Mas quando eu cheguei aqui a gente viu a data que seria, o quanto eu estava pesando – eu não tinha me pesado no avião, no avião não tem balança (risos). Cheguei aqui estava com 102kg. Impossível.
Essa luta com o Yoel Romero já foi marcada e desmarcada várias vezes. Você ainda tem esperança de que ela aconteça um dia?
Olha, eu não faço questão mais de lutar com ele. Sinceramente, eu luto com qualquer um. Qualquer um que tiver melhor ranqueado do que ele pode ser o próximo adversário. Mas acredito que, como o Jacaré aceitou lutar contra o Jack Hermansson, e vai ser dia 27 de abril, então eu e o Romero vamos estar ali pra lutar. Eu acho que a pneumonia não é igual uma lesão, que você precisa de tantas semanas ou meses. Acho que daqui a umas duas semanas ele vai estar pronto pra voltar a treinar. Então a gente pode lutar. Pode ser maio, junho, quando ele estiver pronto. Eu posso lutar em maio. Acredito que se eu lutar contra o Romero, quem ganhar vai estar com a mão na disputa de cinturão.
Você já vai começar a cortar esse peso agora? Como serão seus próximos dias?
Como o Romero saiu da luta e pode lutar a qualquer momento, eu já estou começando a diminuir esse peso, de 102kg. Quero baixar, tentar chegar a uns 95kg, pra quando ele sinalizar, se sinalizar que pode lutar, eu estar com o peso próximo e não precisar de tanto tempo, de 60, 50 dias pra perder o restante. Já vou estar mais ou menos perto, com 92 a 95kg, pra quando ele me der essa oportunidade de lutar com ele, eu estar pronto.
E você está indo passar uma temporada em Phoenix?
Sim. Estou indo pra Phoenix daqui a pouco. A gente vai chegar lá e continuar o treino com o Eric Albarracin, meu treinador de wrestling. Meu irmão, que é do jiu-jítsu, está vindo também com o Badola, meu treinador de boxe. A gente já tem alguns sparrings e parceiros de treino. Preciso continuar, como se fosse o camp. Mesmo sem ter uma luta fechada, quero começar esse treinamento, porque daqui a dois meses acredito que deve ser mais ou menos a data da minha próxima luta. Eu estava em camp, estava bem, sempre me mantenho ativo, mas ali estava focado em lutar contra o Romero. Na verdade, tudo é adaptável, dá pra modificar, mas atrapalhou isso, o agendamento. Nada muito sério, eu só dei o descanso porque não dava pra você continuar no nível que eu estava sem ter uma data. Você precisa de uma data. Eu não gosto disso de fechar luta em cima da hora, porque senão você fica colocando desculpa nisso: “Ah, perdi porque lutei em cima da hora”. Então é melhor você não lutar. É claro que problema todo mundo tem, lesão todo mundo tem. Poxa, problema em camp é o que eu mais tenho. Às vezes eu luto com uma lesão ou outra, mas é normal, é do treinamento de alto nível. Agora, não dá pra você falar: "Ah, eu perdi porque eu só tive 20 dias, me preocupei em tirar o peso e não em treinar". Isso não dá, eu não gosto disso, de lutar com uma desculpa no bolso. Se eu for lutar eu tenho que fazer um treinamento certo. Se eu perder, é porque perdi.
Te incomodou o fato do Romero ter ido a público falar que você tinha saído da luta por conta de doping?
Sim. É ruim. Apesar de ser um boato falso, cria aquela fumaça. Até as pessoas verem que não tem nada a ver, talvez passe uma imagem ruim. Mas, não tem o que falar. Simplesmente não aconteceu nada disso. Nunca usei nada, nenhum tipo de artifício desse, de doping, nada disso. E a USADA está aí para comprovar. Mas eu vou bater nele com mais gosto. Vou, vou sim. Com certeza cada golpe vai ter um prazer maior.
Se você conseguir lutar em dois meses, sendo contra o Romero ou não, como você vê o seu futuro na divisão? O quão perto está de uma disputa de cinturão?
Tudo pode acontecer, a gente sabe que tudo muda muito rápido. O que eu acabei de falar é uma prova real disso. Está embolada, muito confusa essa divisão. Está muito competitiva. A gente tem um campeão que está aguardando o resultado de uma outra luta pelo cinturão interino. Vamos pensar: o Gastelum vai lutar contra o Adesanya, quem ganhar vai lutar contra o Whittaker, teoricamente, se ninguém se machucar até la, se o Whittaker não se machucar de novo. Então tudo pode acontecer. Eu pretendo lutar mais duas ou três vezes esse ano, então a chance de lutar pelo título esse ano ainda existe. De qualquer forma, quem está no top 5 vai acabar se enfrentando. Isso é inevitável. Eu não tenho desespero nenhum, nem pressa de fazer essa luta pelo título. A gente vai acabar se encontrando entre os cinco ali, e isso é inevitável. Seja esse ano ou ano que vem, isso vai acontecer.