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Esportes
16/06/2017 07:57:00
Fifa saberá em março se terá árbitro de vídeo na Copa; veja como funciona o VAR

Globo Esporte/LD

Mundial de Clubes em 2016, Mundial Sub-20, Copa das Confederações e mais um Mundial de Clubes em 2017. Estes são os quatro eventos da Fifa antes da Copa do Mundo de 2018 com testes do sistema VAR (“vídeo assistent referee”), criado para auxiliar a arbitragem com vídeos. Mas a decisão sobre a utilização desse mecanismo no torneio do ano que vem só sairá em março, quando a International Football Association Board (IFBA) - entidade responsável pelas regras do jogo - fará uma reunião para bater o martelo após analisar os relatórios enviados pela Fifa sobre a experiência nestes campeonatos. Mas o que é o VAR? O GloboEsporte.com ouviu pessoas envolvidas na criação e implementação do sistema para explicar como funciona na prática o uso da televisão no esporte.

Na manhã desta quinta-feira, o alemão Johannes Holzmüller, o suíço Massimo Busacca e o holandês Marco Van Basten conversaram com a imprensa para explicar as novidades propostas pela Fifa. Eles são chefes dos departamentos de Inovação Tecnológica, Arbitragem e Técnico, respectivamente. À tarde, o brasileiro Sandro Meira participou do treinamento dos juízes selecionados para a Copa das Confederações, no qual os jornalistas tiveram acesso ao processo de funcionamento do mecanismo - o mineiro é um dos oito escolhidos para atuarem como “árbitro VAR” no torneio que começa neste sábado e já está escalado para a abertura entre Rússia e Nova Zelandia, em São Petersburgo.

Primeiro, é preciso frisar que nem todo lance polêmico poderá ter o auxílio do VAR. Apenas quatro situações estão no protocolo para serem analisadas pela equipe de arbitragem que ficará dentro de uma sala com os monitores:

1-Situações de gol 2-Marcação de pênaltis 3-Cartões vermelhos 4-Confusão da identidade de jogadores

A sala montada pela Fifa não dará visão ao gramado e contará com quatro pessoas: o árbitro VAR, o auxiliar VAR, um auxiliar somente para prestar atenção em impedimentos e um operador de vídeo (profissional da empresa contratada pela Fifa).

A mensagem dos envolvidos foi clara: o árbitro VAR só deverá procurar o árbitro de campo em situações de “erro claro”, ou seja, jogadas em que é possível haver diferentes interpretações não devem ser avisadas:

  • Minha pergunta como árbitro VAR não é se o árbitro tomou a melhor decisão. E sim se houve um equívoco claro dele. Se a resposta for sim, eu devo intervir – explicou Sandro.

O sistema começou a ser testado pela Fifa em setembro de 2016, com partidas na sede da entidade. Em dezembro do mesmo ano, o mecanismo foi levado ao Japão para o Mundial de Clubes. E já começou com polêmica, com reclamações dos jogadores na semifinal e final. Para Holzmüller, o VAR nunca será perfeito:

  • Temos um ser humano atrás das telas e as pessoas comentem erros. Por isso que fazemos muitos treinos, para melhorar o processo. Mas é sempre possível ter erro humano.

Dentro da sala, o árbitro VAR assiste ao jogo em dois monitores: um “ao vivo”, com a transmissão oficial; outro com atraso de três segundos das mesmas imagens. Assim, ele consegue rever a jogada logo em seguida ao acontecimento. Caso precise rever o lance para tirar dúvidas, o árbitro VAR (ou um auxiliar) aciona imediatamente o operador, que providencia novos ângulos. A equipe VAR poderá ter à disposição até 30 câmeras em competições da Fifa.

Se perceber um “erro claro” do juiz de campo, o árbitro VAR faz contato pelo sistema de comunicação sem fio com o juiz de campo e o informa sobre o que viu na repetição da TV. Cabe ao árbitro no gramado tomar a decisão final, de preferência depois de também assistir ao vídeo em um monitor localizado em uma mesa ao lado do campo.

A iniciativa de usar o VAR também pode partir do juiz no gramado. Sempre que o vídeo estiver sendo utilizado para a análise de um lance, o árbitro deve fazer um sinal “desenhando” uma TV com as mãos para informar aos jogadores e torcedores que o procedimento foi tomado. Ao anunciar sua decisão – mudando ou não a marcação anterior -, o telão do estádio anunciará o motivo da troca.

  • Quando há intervenção com VAR e há mudança de decisão, é importante que o público saiba a razão – afirmou Van Basten.

Segundo Busacca, a orientação aos árbitros é que usem a presença do VAR como fator de prevenção. Ou seja: os juízes poderão “ameaçar” os jogadores dizendo que tudo está sendo filmado e qualquer atitude irregular poderá ser vista e gerar punições. Assim, a Fifa espera maior respeito dentro de campo, aumentar o tempo de bola rolando e evitar jogadas desleais.

  • O que nós queremos é “fair play”, jogo limpo, respeito ao futebol. Isso tem que ser claro para o jogador: “Olha, a câmera está te mostrando. Respeite os jogadores, os rivais, o juiz, porque se você não fizer assim alguém vai descobrir” – disse o chefe de arbitragem, acrescentando que a tecnologia não serve só para prejudicar os atletas, pois também será usada para corrigir injustiças (como pênaltis mal marcados ou faltas inexistentes).

No Mundial Sub-20, realizado recentemente na Coreia do Sul, o VAR foi usado em 12 vezes nas 52 partidas disputadas: cinco impedimentos e sete faltas (pênaltis ou cartões). Para a Fifa, estas 12 intervenções poderiam ter mudado a história do campeonato se não tivessem sido feitas pelos árbitros de vídeo, já que gols poderiam ser marcados e os resultados seriam outros.

  • A Fifa deixa claro que mais importante que a pressa é a precisão. Depois que o árbitro VAR abriu a checagem, é mais importante tomar uma decisão correta do que rápida. No fim das contas o que importa é a decisão correta – disse Sandro Meira.

O setor de Holzmüller já havia sido o responsável pela implementação da tecnologia da linha do gol, que avisa ao árbitro imediatamente se a bola entrou ou não no gol – o sistema foi usado na Copa do Mundo de 2014 e segue em vigor nos torneios da Fifa. Para o alemão, ainda não dá para garantir o VAR no Mundial de 2018, mas a entidade mostra-se confiante em conseguir a autorização da IFAB.

  • O momento é positivo. Mas muitas coisas podem acontecer, temos que encarar isso. É um teste. Recebemos muitas reclamações, principalmente na hora que algo não funciona bem, mas 99% das vezes a decisão do árbitro é correta. O processo pode melhorar, algumas áreas temos que desenvolver mais. Nós queremos evitar os erros claros. E os árbitros estão fazendo o melhor, estão sendo muito treinados – concluiu.