Exame/PCS

Um novo escândalo de doping pode abalar o esporte mundial e alguma de suas principais estrelas. Nesta terça-feira, um grupo de hackers russos, identificado como “Fancy Bears’”, divulgou documentos que seriam exames vazados da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês).
Os hackers, que dizem “lutar pelo fair play e pelo esporte limpo”, acusam a entidade de acobertar casos de doping de atletas dos Estados Unidos, incluindo a ginasta Simone Biles e as irmãs tenistas Serena e Venus Williams.
Em seu site oficial, a Wada confirmou que teve dados confidenciais relacionados à Olimpíada do Rio de Janeiro invadidos por um grupo de espionagem russo. “A Wada condena estes ataques cibernéticos que estão sendo realizados em uma tentativa de afetar a Wada e o sistema global antidoping”, disse em comunicado o diretor-geral da agência, Olivier Niggli. A entidade, porém, não confirma a veracidade dos documentos divulgados, nem se defende das acusações.

Em seu site e nas suas redes sociais, o grupo “Fancy Bears’” divulgou exames das atletas realizados entre 2010 e 2016. Segundo os hackers, constam substâncias proibidas nos documentos, mas médicos da Wada teriam apresentado receitas médicas que indicavam “uso terapêutico” dos compostos – que, segundo os russos, seria uma forma de acobertar o doping.
Os dados do Fancy Bears’ mostram que Simone Biles, que conquistou quatro medalhas de ouro na Rio-2016, utilizou metilfenidato, um psicoestimulante, e anfetaminas com prescrição médica. Seus exames datam de agosto, durante a disputa da Rio-2016. Já Serena Williams, que não ganhou medalha no Brasil, é acusada de ter utilizado as substâncias oxicodona e hidromorfona (usados para tratamento de dores), prednisona e prednisolona (que aumentam a capacidade de energia) e metilprednisolona (que também é usada em tratamentos inflamatórios), em exames mais antigos.
Sua irmã, Venus Williams, teria utilizado triancinolona e prednisolona (ambas anti-inflamatórios). O grupo também acusa a jogadora de basquete Elena Delle Donne, campeã da Rio-2016, de ter utilizado anfetaminas e hidrocortisol.
TUE
Jornalistas americanos, como T.J Quinn, repórter investigativo da ESPN, saíram em defesa das atletas, alegando que os documentos não apresentam nenhuma comprovação de irregularidade. A Wada informa em seu site que autoriza que atletas utilizem determinadas substâncias proibidas em caso de necessidade, desde que com autorização prévia – a chamada “isenção de uso terapêutico”, (TUE, na sigla em inglês).
“Os atletas podem ter doenças ou condições que os obrigam a tomar medicamentos específicos. Se o medicamento necessário para tratar uma doença estiver na lista de substâncias proibidas, uma TUE pode dar a esse atleta a autorização para tomar o medicamento necessário. As atletas citadas ainda não se pronunciaram sobre as acusações.
Escândalos
O vazamento dos exames de atletas americanos vem na esteira do escândalo de doping que puniu mais de uma centena de atletas, em sua maioria russos, da Rio-2016. Em julho, a Wada divulgou um relatório produzido por Richard McLaren, um professor e advogado canadense comissionado pela entidade e pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), que comprovava um “elaborado esquema de trapaça” patrocinado pelo Ministério do Esporte russo, a agência antidopagem e o serviço federal de segurança do país.
Meses antes, a Wada já havia apontado participação do presidente russo Vladimir Putin no escândalo de doping no atletismo do país. Escrito por Dick Pound, o chefe da comissão, o documento denunciou a “corrupção enraizada na federação internacional de atletismo (IAAF)” e destacou que os casos não foram apenas isolados e que Putin sabia de tudo.
Putin sempre negou participação nos escândalos e disse que as investigações tinham motivações políticas. A equipe russa de atletismo foi inteiramente banida da Rio-2016. No mês seguinte, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou o banimento de todos os atletas russos da Paralimpíada do Rio.