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Quatro dias depois do afastamento de Felipe Melo, a diretoria do Palmeiras se pronunciou oficialmente sobre o assunto. No fim da manhã desta terça-feira, Alexandre Mattos concedeu entrevista coletiva na Academia de Futebol e confirmou a saída do volante do Verdão.
Em pronunciamento, o dirigente explicou os acontecimentos no vestiário do Mineirão após o empate com o Cruzeiro, que eliminou o Verdão da Copa do Brasil, e condenou o conteúdo do áudio vazado na última segunda-feira, que mostra uma declaração do atleta contra o treinador.
– Ele vai seguir outro caminho – confirmou Alexandre Mattos.
– Acima de qualquer coisa, temos que ter respeito, ambiente bom. O Palmeiras vem vivendo momento bom, mas acima de tudo precisa haver esse respeito. Tudo o que foi dito por parte do Palmeiras, tanto do Cuca e do Felipe, eu vi alguma coisinha. Depois do jogo no Mineirão, o Felipe teve uma situação de desrespeito muito forte com o Cuca – disse o dirigente, em comunicado antes do início da entrevista coletiva.
Ainda segundo Mattos, a decisão do afastamento em definitivo havia sido tomada já na última sexta-feira. A informação, no entanto, é de que, antes do vazamento do áudio, havia no clube quem defendesse a ideia de reintegrá-lo ao time, contra a vontade do treinador. O presidente Maurício Galiotte, que em momento algum se pronunciou a respeito do assunto, não se sentia confortável diante da forma como caminhava a saída do jogador.
Ao contrário da programação inicial do clube, Felipe Melo não esteve na Academia na manhã desta terça-feira. O volante se reapresenta no período da tarde, quando o elenco alviverde estará no Rio de Janeiro, onde o time de Cuca enfrenta o Botafogo, na quarta-feira, pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Veja outros tópicos da entrevista coletiva de Mattos:
Reação sobre o caso
– O Felipe tem relação boa dentro do grupo, cobra muito. As pessoas entendem isso de várias maneiras, mas o grupo está reagindo. Fizemos bons jogos. Acima de tudo, tem que ter foco. Venho batendo muito com eles que o foco tem que existir como no ano passado. Futebol não tem muito segredo. O Palmeiras está novamente encontrando o caminho.
Sobre a contratação
– Não vamos passar todo dia, 'olha, tivemos que conversar com jogador X, por conversa com funcionário Y, Z.' Para chegar nesse nível, pode ter certeza de que chegou num nível que não dá mais para ter continuidade. Repito: foi uma grande contratação, infelizmente foi se perdendo por algumas situações. Tem nosso respeito, mas aconteceram erros.
– A gente tentou policiar, tentou colocar rédea. E aí, sim, fomos preventivos. Se não tomamos situação agora, pode acontecer coisa pior. Ou não. Mas temos que nos basear no momento. Pelo áudio, pela fala, o momento é esse. De um novo caminho, para que todos fiquem em paz.
Comando no clube
– Estou aqui desde 2015, sou responsável pela gestão do futebol profissional. Sou muito enfático em assumir todos os erros, e todas as glórias divido com os funcionários, jogadores. O comando existe claramente, todos sabem quem procurar, a hierarquia. Todos sabem a quem recorrer.
– Problemas de relacionamento, é em todo lugar. Talvez, no Palmeiras, seja um pouco maior, por esse momento ímpar de arrecadação, de protagonismo. Isso é do clube, tudo se torna muito maior. Os problemas estão em todos os clubes, com os mesmos problemas. Aqui, é fala maior, tem mais gente que fala. Mais blogueiro, especulação, invenção. Quando venho aqui, foi exatamente para a palavra oficial.
– Mas, se não tem caos, a gente não consegue o que tem conseguido. No sábado, disse ao presidente que fiquei feliz com a manifestação, porque o Palmeiras é o quarto colocado. Vi matéria de que nos últimos 10 jogos, é o primeiro. Está em uma crescente como time, vem arrecadando, pagando sua dívida. Palmeiras tem patrocinador forte, primeira opção de todos os jogadores ou uma das primeiras.
– Quando tudo isso está acontecendo, e ainda estão reclamando, é porque estamos no caminho certo. É porque isso mostra que aqui não é casa da mãe Joana. Nada é maior do que a instituição. Nenhum jogador, dirigente, funcionário, membro de comissão técnica. O ambiente está absolutamente tranquilo, sorrisos. Quando não tem comando, ordem, isso não acontece.
– Com caos, não teria sido campeão brasileiro, não teria essa arrecadação, patrocinador... Não estaria recebendo ligações diárias de jogadores querendo vir para cá, clubes da Europa querendo jogadores do Palmeiras. Parece que está desordem, mas a atitude está sendo tomada. Isso é normal, porque no Palmeiras se aflora mais. Aqui é maior mesmo. Talvez pelo investimento, tornou-se mais forte ainda.
– Mas o torcedor pode ficar tranquilo. Gosto muito do Felipe, como pessoa, como atleta. Mas, em primeiro, a instituição. É isso o que estamos colocando aqui.
Decisão já era irreversível na sexta-feira?
– Já tinha sido colocado na sexta-feira. Não tem problema de relacionamento do Cuca com o Felipe. Teve alguns casos. A gente conhece o Felipe, é aquele que coração que... Ele mesmo disse que estava fora de si naquele momento.
– O caso específico que internamente sabemos, quando pediu desculpas, ele pediu para não levar (a sério), que não tinha sido de coração. O próprio Felipe me disse. No aniversário, tomando uma, um cara me mandou mensagem... O Cuca teria dito que ele tumultuava o ambiente. Nunca teve isso. Nunca teve reunião com o Cuca e o grupo. Isso é mentira.
– O que houve foi conversa do presidente com o grupo para passar tranquilidade para o grupo. Eu falei com Felipe que não daria mais, que tinha que seguir caminho. Naquele momento, ele pediu para falar, pediu desculpas. Não teve reunião. Posterior à fala do presidente, ele entrou, por espontânea vontade. O presidente falou do compromisso, ele sentiu que pisou na bola.
– Aí as coisas aconteceram. O Cuca aceitou a desculpa e informou, como estava sendo na frente de todo o mundo, que estava desculpado, não ficava nada no coração, apertaram a mão, mas que o Felipe precisaria atuar mais. Mas entendia que iria utilizar outro jogador. Vi torcedor pegando no pé do Cuca. Torcedor pode ficar tranquilo, que essa decisão é difícil, mas não vai interferir em nada.
– O que eu quero transmitir é que ninguém da diretoria veio falar isso - o áudio está me fazendo falar hoje - porque não havia necessidade. Segue a vida em paz. Infelizmente, o áudio, que foi algo natural com alguma pessoa, acarretou essa confusão toda. O Cuca já tinha deixado claro na fala dele que o Felipe poderia seguir o caminho dele. Precisamos ter convicção, certa ou errada. Depois vemos.
– De novo: na quinta-feira à noite, conversei com nosso treinador, perguntei sobre a questão técnica. Ele disse que não, e foi tomada a decisão. Na sexta de manhã, fui à casa do Felipe, comuniquei que tinha feito um ato que não dava mais. Veio, pediu desculpa. Mas não tinha necessidade de expor isso. Só está expondo agora por causa do áudio. Aí torcedor acha que está a casa da mãe Joana.
Ausência do presidente
– Esse assunto, sinceramente, ninguém ia colocar. Seria uma solução interna, pacífica, calma. O fato fora da curva me fez vir aqui. Segundo, o presidente sabe de tudo. Mas eu assumo a responsabilidade, inclusive do afastamento do Felipe. O Cuca cuida dentro de campo. Ele transmitiu o porquê de não ter sido convocado.
– Tentamos evitar a exposição, mas o áudio nos fez vir aqui. O presidente tem quatro anos e meio de Palmeiras. Adoro esse momento de assumir a responsabilidade, porque desde 5 de janeiro de 2015, tudo o que passou, passou pela minha cabeça, com respaldo do presidente, o ex e o atual. Os erros eu assumo, as glórias divido. Não tem problema eu estar aqui.
Entenda o caso
Na sexta-feira passada, Cuca informou ao próprio jogador que não contava com ele para o duelo de sábado, contra o Avaí, pelo Brasileirão. Posteriormente, a mesma informação foi repassada pelo treinador a todo o elenco, durante reunião que havia sido marcada pelo presidente do clube, Maurício Galiotte, com o intuito de cobrar os atletas.
O treinador já havia reclamado a algumas pessoas no Palmeiras que o volante estava "tumultuando o ambiente". Ao falar a sós com o jogador para comunicá-lo sobre o seu afastamento, Cuca explicou que havia tentado várias formas de encaixá-lo no time, sem sucesso. Felipe Melo não gostou, mas acatou a decisão e foi para casa. A ideia era se reapresentar normalmente nesta segunda-feira, mas ele recebeu liberação da diretoria.
Com 27 partidas, mas apenas cinco delas pelo Campeonato Brasileiro, o volante ainda pode defender outra equipe na atual edição da primeira divisão nacional. Ele só não poderia se já tivesse feito sete jogos. Seu contrato com o Palmeiras é válido até o final de 2019.