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Neto voltou à frente das câmeras e novamente para dar uma lição de vida. Um dos sobreviventes do acidente no voo que levava a Chapecoense para a Colômbia em novembro, o zagueiro concedeu entrevista coletiva na Arena Condá na tarde desta terça-feira. Com a voz ainda fraca em função da recuperação, mas já um pouco melhor em relação à última semana, ele falou pouco sobre tragédia. Mais sobre sentimentos, lições e futuro. Perguntando sobre o que sentia em relação aos responsáveis pela queda, o jogador demonstrou não guardar mágoas.
- Não fico com raiva de ninguém, não. Lógico que foi uma loucura o que aconteceu. Eu lembro bem, a gente estava tranquilo, mas não consigo ter raiva do que o piloto fez. Creio que na nossa vida, quando se lê a Bíblia, você entende o que Deus quer da nossa vida, ele deu livre arbítrio pra cada um e muitos vivem vida de rei aqui, roubando, eu consigo entender que a vida não é só isso para cada. A vida é curta, passa rápido. Se perguntar para um idoso de 80 anos, ele vai falar que a vida passa rápido.
Um dos três jogadores que sobreviveu, ao lado de Alan Ruschel e Jakson Folmmann, Neto também falou sobre a nova realidade. Muito apegado a religião, o zagueiro diz que sua missão é deixar um legado positivo.
É uma situação nova pra mim, eu era exemplo para os jovens, mas como atleta, e hoje está muito além disso. Minha expectativa é deixar um legado de uma pessoa que quer vencer, que luta pelos seus ideais.
Muitos falavam que eu fiquei vivi oito horas sem socorro porque eu sou um atleta, mas não tem nada disso. Foi Deus que me permitiu ficar vivo.
Com perspectivas de voltar a campo em seis meses, Neto ainda considera a evolução demorada, mas se diz paciente.
- Pra mim tem sido tudo muito demorado, com algumas dores ainda, tive algumas fraturas. Não é mais o Neto de antes do acidente. Tenho que ter paciência. Eu fico muito em casa, procuro ver futebol, eu assisti a Copa SP e fico me imaginando quando voltar. Hoje quando eu me vejo entrando em campo eu me emociono e eu sei que não vou poder me emocionar como eu me emociono hoje, mas isso vai ter que acontecer e eu vou ter que estar preparado.
Dos novos jogadores contratados, Neto jogou no Metropolitano com Andrei Girotto. Com muito carinho, o zagueiro falou sobre o atual colega de elenco.
- O Andrei é um menino especial, conheci ele quando ele era juvenil. Era um atacante que fazia muitos gols e hoje é volante. Quando eu cheguei aqui ele entrou junto comigo, me deu um abraço e a gente conversou.
O CLUBE
A Chapecoense é um clube diferente de todos que joguei, porque aqui a vaidade fica de fora. Quando você vê que o nosso comandante do clube é gente da gente, você não tem como se colocar em uma posição maior. Isso permaneceu com seu Plinio (atual presidente do clube). As pessoas vem pra cá e sentem que aqui é um clube familiar, onde todos se abraçam e todos se cumprimentam. Desde o Chiquinho que cuida da grama, o pessoal que varre o vestiário, então todos são iguais. Antes de tudo isso acontecer as pessoas já ouviam falar do ambiente do clube. Espero que a essência do clube fique, de humildade, de companheirismo e de amizade.