Globo Esporte/LD
A vinda do Comitê Olímpico Internacional ao Rio de Janeiro para a reunião de revisão de projetos, na semana passada, coincidiu com uma série de problemas em relação às Olimpíadas que começam daqui a 201 dias, 5 de agosto. Desde obras paradas, passando por falta de voluntários e o processo de corte de custos do Comitê Rio 2016, entidade organizadora dos Jogos.
A principal questão nas obras é em relação à reta final da construção do Centro de Tênis e da reforma do Centro de Hipismo, que estão paradas. O imbróglio é entre a Prefeitura do Rio e a construtora Ibeg. No tênis, a empresa lidera o consórcio ITD com Tangram e Damiani, e no hipismo opera sozinha. Na última quarta-feira, a Prefeitura anunciou o rompimento de contrato na obra do tênis pelo não cumprimento dos prazos e cláusulas contratuais, além de multar o consórcio em R$ 11 milhões. No dia seguinte, o Município suspendeu a multa ao consórcio e estipulou prazo de cinco dias para a defesa da empresa.
As decisões aconteceram após uma semana de protestos de operários da obra que foram demitidos sem que o consórcio pagasse as rescisões. Houve manifestações em frente ao Parque Olímpico e o galpão da fiscalização do Centro de Tênis acabou incendiado. A Prefeitura assumiu o pagamento aos ex-operários, e Eduardo Paes acusou a Ibeg de ter feito "chantagem". A Ibeg já havia sido notificada pela Prefeitura por atraso na obra no Centro de Hipismo.
A construtora entrou com duas ações na Justiça. Uma liminar para não ser afastada da obra do hipismo, e com outra para que a Prefeitura apresentasse os projetos básicos das duas frentes de trabalho em 24 horas. Segundo a Ibeg, a demora para apresentação dos projetos básicos e o atraso nos repasses dos recursos comprometeram os trabalhos. Em uma planilha da Riourbe, no entanto, verifica-se que 30 das 33 parcelas foram repassadas à Ibeg antes da data do vencimento das faturas.
O Centro de Tênis do Parque Olímpico está 90% concluído. Já consumiu 149,6 milhões de dinheiro do governo federal e tem custo final estimado em R$ 175,4 milhões, sem contar os R$ 36 milhões de aditivos pela inflação e pela mudança de projeto, que elevaram o custo final para R$ 211,4 milhões. Já o Centro de Hipismo tem previsão de custo de R$ 157,1 milhões, também com recursos do governo federal e execução da Prefeitura. As duas instalações já receberam evento-teste e deveriam ter sido concluídas até o final do ano passado.
O velódromo, obra mais atrasada do Parque Olímpico, teve o seu evento-teste adiado de março para o fim de maio. A demora para a instalação da pista de pinho siberiano determinou a mudança. Empreiteira da obra 76% concluída, a Tecnosolo já recebeu duas notificações da Prefeitura e desde o início da construção opera em recuperação judicial.
Já no Estádio de Remo da Lagoa, a previsão é que a obra seja retomada nesta semana, após um mês parada. A Giver Engenharia deixou a reforma da instalação, 80% concluída, após parar de receber da Secretaria de Estado de Obras, que por sua vez alegou falta de repasse do Banco do Brasil. Se a obra for realmente retomada, ela vai demorar mais três meses para ser concluída.
Ecobarcos sem pagamento
Na Baía de Guanabara, o trabalho dos ecobarcos está prestes a parar pela falta de pagamento da Secretaria Estadual de Ambiente. As duas empresas que recolhem o lixo flutuante da água estão sem receber desde outubro. A empresa que gerencia o trabalho, a Prooceano, ainda não recebeu R$ 600 mil pelos seis meses do contrato-teste. A qualidade da água da Baía de Guanabara foi novamente questionada pelo COI após reclamações de velejadores durante a Copa Brasil de Vela, mês passado, nas mesmas raias dos Jogos Olímpicos. Ainda há preocupação com os testes de vírus e bactérias da água da baía e da Lagoa Rodrigo de Freitas. O COI pediu exames diários, mas como o resultado só sai em 48h, a medida não seria coerente.
Comitê Rio 2016 segue cortando gastos
A tesoura do corte de custos continua voando pelo Comitê Rio 2016. A definição do quanto será possível cortar só deverá ser definida em fevererio. Algumas áreas tiveram cortes de até 30%, mas a média deverá ficar em 10% para manter o orçamento de R$ 7,4 bilhões com dinheiro privado. O COI não concordou com alguns cortes, como nas impressoras nas arenas para que jornalistas recebem a relação dos resultados em papel. Também falta finalizar a compra de passagens aéreas dos cerca de 10.500 atletas. Para gastar menos serão comprados bilhetes para viajar durante a semana, mais baratos do que as viagens nos fins de semana.
Na Vila dos Atletas, aparelhos de ar condicionado serão providenciados, deixando-se para trás a ideia de alugá-los aos atletas. Não haverá televisão em cada quarto, apenas nas salas dos apartamentos.
Um corte praticamente definido é o da arquibancada flutuante do espelho d´água da Lagoa Rodrigo de Freitas. A instalação temporária para 4.000 pessoas está sob a responsabilidade do Comitê Rio 2016. A definição será dada no início de fevereiro, em uma reunião entre dirigentes de federações internacionais na Suíça. Entidade que comanda o remo, a World Rowing foi convidada a bancar a instalação.
À espera da energia temporária
Na questão da energia temporária, falta a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro aprovar a isenção de ICMS para a Light, no valor de R$ 160 milhões, para a instalação de geradores nas áreas de competição de Deodoro, Maracanã e Copacabana. Só dessa forma o governo estadual, em grave crise financeira, poderia assumir a responsabilidade. Coube ao prefeito Eduardo Paes, do mesmo partido do presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), garantir ao COI a aprovação da isenção na volta do recesso dos deputados estaduais, em fevereiro.
Na região da Barra da Tijuca, a principal dos Jogos, está definido que o trabalho será feito pela Tecnogera, com um custo de R$ 290 milhões orçados pelo governo federal. A escocesa Aggreko, líder mundial no fornecimento de energia temporária, e que já atuou em nove edições dos Jogos Olímpicos, se retirou da concorrência.
Faltam voluntários
As dificuldades também estão nas cerimônias de abertura e encerramento, no Maracanã. O Comitê Rio 2016 conseguiu selecionar apenas 3.000 dos 12.000 voluntários que precisa nas audições no fim do ano passado. A campanha para atrair voluntários começou em maio do ano passado, e mesmo prorrogada não atraiu gente suficiente que precisa ter habilidades como dança, acrobacia, skate, patinação, malabares ou grafite, entre outros. Uma nova campanha será lançada.