Geral
11/06/2013 07:00:46
Em nota, entidades criticam mudanças em campanha para prostitutas
Na última semana, uma campanha do Ministério da Saúde causou polêmica ao destacar a frase Sou feliz sendo prostituta. Em meio à polêmica, o ministro Alexandre Padilha cancelou o lançamento da campanha e demitiu o diretor do departamento de DST, Aids e hepatites virais do ministério, Dirceu Greco.
Correio do Estado/LD
\n \n Na\n última semana, uma campanha do Ministério da Saúde causou polêmica ao destacar\n a frase Sou feliz sendo prostituta. Em meio à polêmica, o ministro Alexandre\n Padilha cancelou o lançamento da campanha e demitiu o diretor do departamento\n de DST, Aids e hepatites virais do ministério, Dirceu Greco. Para Padilha, a\n campanha deveria se limitar a mensagens de prevenção de doenças sexualmente\n transmissíveis. Já para Greco, a mensagem tinha conteúdo de saúde, por\n trabalhar a redução do preconceito associado às prostitutas. Após cancelar a\n campanha, o Ministério da Saúde relançou a mesma, porém, sem o cartaz que\n contém a frase que gerou a polêmica.\n \n Diante\n do lançamento, cancelamento e posterior relançamento da campanha, além da\n demissão de Greco, entidades representativas de profissionais do sexo e outras\n organizações saíram em defesa da mensagem original da campanha. Em nota, a\n Associação Pernambucana de Profissionais do Sexo (APPS), Fórum LGBT de\n Pernambuco, Instituto PAPAI, Centro das Mulheres do Cabo e dos Núcleos de\n Pesquisa da UFPE (Gema, LabEshu e Gepcol) repudiou a suspensão do material com\n a frase Eu sou feliz, sendo prostituta!.\n \n A\n nota enfatiza que a campanha foi elaborada na Oficina de Comunicação em Saúde\n para Profissionais do Sexo, realizada entre os dias 11 e 14 de março de 2013,\n em João Pessoa. As entidades defendem que as mensagens foram produzidas pelas\n próprias destinatárias das ações de promoção à saúde, inclusive a supostamente\n polêmica afirmação Eu sou feliz, sendo prostituta!. As entidades reforçam\n que a prostituição no Brasil não é crime e que projetos de felicidade,\n inclusive de prostitutas, não devem ser reprimidos e sim considerados como\n ponto de partida de qualquer iniciativa em saúde pública.\n \n Leia a íntegra da nota: \n \n Nota\n pública da APPS, Fórum LGBT-PE, Instituto PAPAI, CMC, Gema, LabEshu e Gepcol\n \n Os/as\n ativistas da Associação Pernambucana de Profissionais do Sexo (APPS), Fórum\n LGBT de Pernambuco, Instituto PAPAI, Centro das Mulheres do Cabo e dos Núcleos\n de Pesquisa da UFPE (Gema, LabEshu e Gepcol) vêm a público manifestar sua\n indignação pela suspensão e posterior relançamento de material de comunicação\n alusivo ao Dia Internacional das Prostitutas (2 de junho), produzido pelo\n Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.\n \n No\n texto que informa o relançamento do material (agora em formato de Campanha),\n o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa argumenta que É\n fundamental que grupos vulneráveis tenham conhecimento dos locais de\n distribuição da camisinha. A camisinha feminina permite que a mulher decida\n sobre o uso do preservativo, de modo que essa escolha não seja apenas do homem.\n É uma estratégia que faz parte da política brasileira de ampliar as opções de\n proteção às doenças sexualmente transmissíveis.\n \n Porém,\n é importante lembrar que o alardeado internacionalmente (e atualmente\n questionado) sucesso da Resposta Brasileira à Epidemia não está baseado\n exclusivamente na promoção do acesso ao uso de preservativos e da oferta de\n medicamentos para quem vive com HIV. Considerando o problema em sua\n complexidade, ao longo das últimas décadas, a sociedade e o governo brasileiro\n tem investido esforços em tratar o problema pela raiz e não pelo sintoma.\n \n Nesta\n perspectiva, mensagens do tipo Cidadã, use camisinha! assumem sentido bem\n mais complexo. Para populações mais vulneráveis, o primeiro passo é a afirmação\n da cidadania, afinal, séculos de tradição e práticas sexistas, machistas,\n homofóbicas e racistas produziram em nosso país, estigmas e consequências\n indeléveis à autoestima e autoaceitação de LGBT, negros/as, pobres, mulheres e,\n particularmente, as prostitutas.\n \n Em\n outras palavras, qualquer medida de prevenção em saúde, ao tratar de populações\n em situação de maior vulnerabilidade, deve considerar, antes de qualquer coisa,\n as condições e possibilidades de existência para essas pessoas, ou seja, as\n diversas formas a partir das quais essas pessoas foram impedidas de existir em\n sua plenitude, que as impediram de realizar seu projeto de felicidade.\n \n José\n Ricardo Ayres (2007), Doutor em Medicina e Professor Titular em Medicina\n Preventiva da USP, define projeto de felicidade como totalidade compreensiva\n na qual adquirem sentido concreto as demandas postas aos profissionais e\n serviços de saúde pelos destinatários de suas ações (p. 54).\n \n Assim,\n é importante que fique claro que o material censurado, como informa o próprio\n site do Ministério da Saúde, foi produzido a partir de uma Oficina de\n Comunicação em Saúde para Profissionais do Sexo, realizada entre os dias 11 e\n 14 de março de 2013, em João Pessoa (PB). Participaram da Oficina\n representantes de organizações não-governamentais, associações e movimentos\n sociais que atuam junto a profissionais do sexo de todas as regiões do país,\n apoiando o enfrentamento às DST, aids e hepatites virais.\n \n Ou\n seja, as mensagens foram produzidas pelas próprias destinatárias das ações de\n promoção à saúde, inclusive a supostamente polêmica afirmação Eu sou feliz,\n sendo prostituta!.\n \n Como\n bem referiu Fernanda Benvenutty, enfermeira e militante transexual brasileira,\n em evento sobre gestão de riscos, promovido recentemente pelo Departamento de\n Aids do Ministério da Saúde (entre 3 e 4 de junho): ao dizer que são felizes,\n sendo prostitutas, o que essas mulheres estão afirmando é que, APESAR de uma\n cultura machista, APESAR de uma sociedade que não as respeita, que as\n discrimina e que insiste em invisibilizá-las, apesar de um governo que não\n respeita seu verbo e suas práticas, APESAR DE TUDO elas são felizes! E esse\n direito humano à felicidade não lhes pode ser negado.\n \n E\n como podemos, então, lidar com esse projeto de felicidade? Ayres (2004)\n defende que não devemos lidar com os projetos de felicidade de indivíduos e\n populações como se fossem alguma espécie de planejamento. Antes que uma planilha,\n onde são fixados metas, recursos e estratégias, a ideia que mais se aproxima à\n do projeto de felicidade é o de uma obra de arte uma pintura, um poema, uma\n escultura pela qual se expresse a vida e o aspecto de saúde em questão (
)\n Além disso, na expressão do projeto de felicidade, como na produção do poema,\n da pintura, da escultura, misturamse razão e afetos, luz e sombra, o explícito\n e o suposto, o retratado e o nãoretratado, o retratável e o nãoretratável. O\n projeto de felicidade é, no modo como se expressa, uma totalidade compreensiva\n (p. 57).\n \n Portanto,\n o material de comunicação produzido em homenagem às prostitutas, em sua arte,\n inscreve profundo respeito por essas pessoas, as afirmam como cidadãs e\n certamente promovem autoaceitação e, consequentemente, as capacitam a promover\n prevenção, defendendo-se da tradição que as subjulga e que tenta calá-las.\n \n Vale\n lembrar que no Brasil, prostituição não é crime, é ocupação incluída pelo\n Ministério do Trabalho e Emprego, na Classificação Brasileira de Ocupações,\n inclusive com atribuição de participar em ações educativas no campo da\n sexualidade, conforme descrito a seguir.\n \n 5198-05\n Profissional do sexo (Garota de programa, Garoto de programa, Meretriz,\n Messalina, Michê, Mulher da vida, Prostituta, Trabalhador do sexo)\n \n Descrição\n Sumária: Buscam programas sexuais; atendem e acompanham clientes; participam em\n ações educativas no campo da sexualidade. As atividades são exercidas seguindo\n normas e procedimentos que minimizam a vulnerabilidades da profissão\n \n Portanto,\n pela cidadania, pelo respeito, pela efetividade das medidas de prevenção em\n saúde projetos de felicidade, inclusive de prostitutas, não devem ser\n reprimidos e sim considerados como ponto de partida de qualquer iniciativa em\n saúde pública
sem medo de ser feliz!\n \n \n \n \n