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Geral
13/08/2013 10:02:28
Apenas surto explicaria hipótese de menino ter matado família de PMs, diz psiquiatra forense
Guido Palomba, um dos mais experientes psiquiatras do País, tem uma explicação para a linha de investigação defendida pela Polícia Civil de São Paulo no caso da morte da família de policiais militares, na Vila Brasilândia.

R7/LD

\n \n Guido\n Palomba, um dos mais experientes psiquiatras do País, tem uma explicação para a\n linha de investigação defendida pela Polícia Civil de São Paulo no caso da\n morte da família de policiais militares, na Vila Brasilândia. Se for mesmo o\n menino, filho do casal, que cometeu os quatro assassinatos e se matou, ele\n teria que estar em surto, de acordo com o especialista.\n \n A\n versão do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) é de que\n Marcelo Eduardo Pesseghini, de 13 anos, assassinou a tiros os pais, a avó e a\n tia-avó; foi de carro para a escola; dormiu no veículo; foi à aula normalmente;\n voltou de carona com um amigo e se suicidou.\n \n O\n psiquiatra ainda identificou um conjunto de concausas, ou seja, fatores que\n podem ter agravado a situação mental do suspeito. Segundo ele, o fato de o\n menino conviver com os pais policiais, por exemplo, não seria suficiente para ele\n cometer os crimes, mas somado a um estado de alienação mental e com um fator\n desencadeador, tornaria os assassinatos possíveis, do ponto de vista médico.\n \n Leia\n a íntegra da entrevista com o psicólogo forentese Guido Palomba:nbsp;\n \n R7 —\n O que pode ter acontecido com Marcelo? \n \n Guido Palomba — O que deve ter acontecido é um estreitamento\n de consciência naquele momento, na qual ele pega, mata as pessoas da família,\n vai para a escola, dorme dentro do carro, levanta e vai para a aula. Quando ele\n volta [para casa], aquele estreitamento de consciência acaba, ou seja,\n alarga-se a consciência, volta para o estado normal. E aí, ele vê o que ele fez\n e suicida-se. Todo o choro, o pegar no cabelo da mãe e ter se suicidado faz\n parte de tudo, em um segundo momento. Isso não é algo inusitado. É possível. Já\n tivemos casos semelhantes em São Paulo, talvez até mais graves. A única coisa\n que chama um pouco mais atenção é a idade, de 13 anos, e nada mais.
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\n \n \n R7 —nbsp;A\n polícia diz que ele premeditou as mortes. Qual seria a explicação para isso?\n \n Palomba —nbsp;A explicação é psicopatológica, não\n é psicológica. Se você não colocar uma pitada, grande ou pequena, no caso,\n grande, de psicopatologia, de doença mental, de alienação mental, você não vai\n entender esse delito. Existe uma fermentação da ideia. Mas entre a fermentação\n da ideia e o ato existe um abismo quase que intransponível. É preciso que haja\n um fator desencadeante, que possa ser até mesmo muito banal. Nesse caso\n específico você tem uma causa, que seria justamente esse estado de alienação\n mental, e algumas concausas, que sozinhas elas não têm força para desencadear\n um ato dessa natureza, mas elas entram na fórmula.
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\n R7 — Quais seriam esses fatores?\n \n Palomba — Eu identifiquei cinco, sociais e\n biológicos:\n \n 1.\n Os pais eram militares. O assunto em casa deveria ser sobre crime, bandido,\n matar, morrer. Não que eles fossem agressivos entre eles, mas a profissão\n levava a esse tipo de diálogo. Isso deveria existir muito tranquilamente. Tanto\n deveria existir, que eles não faziam muito cuidado com a arma, porque ele teve\n acesso.\n \n 2.\n Ele tinha uma doença degenerativa, que não ataca diretamente o cérebro. Mas\n como é uma doença degenerativa, pode ter uma influência pequena ou grande nessa\n parte cerebral. Ela sozinha não determina, mas ela é concausa. Pode afetar o\n psicológico e o orgânico, de uma forma subliminar, menor.\n \n 3.\n Ele tomava remédios fortes, para a doença. Até uma Aspirina modifica o\n psiquismo. Claro que não vai e você vai perder as suas ideias já arraigadas,\n mas pode ser uma concausa, não a causa. Ela entra como mais um elemento na\n fórmula.\n \n 4.\n Ele tinha um desenvolvimento mental incompleto. Era menor de idade, tinha 13\n anos.\n \n 5.\n Essa que ficará para sempre incógnita, que é, por exemplo, uma bronca da mãe,\n uma repreensão do pai, um castigo, etc., que faz com que ele mate no dia 6 e\n não no dia 5.\n \n R7 —\n Se nenhum desses fatores sozinhos poderia justificar o crime, qual seria o\n motivo?\n \n Palomba — Pode ser um desencadeador banalíssimo.\n Não precisa ser uma bronca, um castigo, aí a gente só pode especular. Se eu te\n xingo, você me xinga. Se eu te dou um soco, você me dá um soco. Se eu estou sem\n dinheiro, eu mato para ficar com a carteira. Isso, ainda que seja condenável\n moralmente, é compreensível. Agora, você dizimar a família não é compreensível\n a não ser que se admita que a pessoa é doente.\n \n R7 —\n Como saber se alguém tem predisposição a esse tipo de doença mental?\n \n Palomba — Ninguém tem como descobrir isso antes.\n Pode surgir de uma hora para a outra. Nem todas as pessoas estão sujeitas a\n isso. São só as pessoas que têm algum determinado tipo de doença que se manifesta\n dessa maneira.\n \n R7 —\n O que explicaria o fato de atentar contra a família? \n \n Palomba — No caso, ela passa por dentro dessas\n concausas. O ambiente familiar, a doença que ele tinha, a predisposição para\n entrar nesses quadros de estreitamento de consciência. A causa vai ficar sempre\n incógnita, aquilo que puxou o gatilho. Pode ter acontecido dias antes ou no dia\n e desencadeou alguma coisa que ele já tinha na mente, digamos, “um dia vou me\n tornar um bandido, matar meus pais”. Até aí não tem nada concreto.\n \n R7 —\n Como o senhor avaliaria o estado mental do garoto, caso tenha sido ele mesmo a\n cometer os crimes? \n \n Palomba — Que é um estado de anormalidade mental,\n para mim, é. [É] um caso de estreitamento [de consciência]. Pode ser até,\n especulando, digamos, uma disritmia cerebral. Seria uma falta de ritmo nos\n próprios neurônios em determinada área cerebral. Ela não é constante, dá e vai\n embora. Pode durar pouco tempo. Por exemplo, se ela durar pouco tempo e pegar\n em uma determinada área, a pessoa tem epilepsia. Você pode ter essa mesma\n disritmia em outra área do cérebro e ter outro tipo de comportamento, como o\n estreitamento de consciência.\n \n R7 —\n Atualmente, é possível dizer se ele sofria de disritmia cerebral? \n \n Palomba — Não seria impossível, no caso de ser\n feita uma perícia retrospectiva, na qual, o médico iria pesquisar, na vida\n dele, através de pessoas que o conheceram, determinados sinais de sintomas que\n poderiam suportar um quadro, por exemplo, de disritmia cerebral. Mas é\n trabalhoso e inútil. Não tem mais sentido, a não ser que seja no ambiente\n acadêmico.\n \n \n \n \n