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Geral
30/09/2013 09:00:00
Cratera em Mato Grosso pode ser prova da maior extinção em massa no planeta
O impacto de um meteorito na região onde hoje fica o município de Araguainha, no interior do Estado de Mato Grosso, pode ter levado a uma sequência de eventos geológicos que teriam causado a maior extinção em massa da Terra.

Terra/LD

\n \n O impacto de um meteorito na região onde hoje fica o município de\n Araguainha, no interior do Estado de Mato Grosso, pode ter levado a uma\n sequência de eventos geológicos que teriam causado a maior extinção em massa da\n Terra. \n \n Uma pesquisa científica internacional levantou uma nova hipótese\n para justificar a extinção até agora sem explicações. Esse desaparecimento\n definitivo de espécies aconteceu há 250 milhões de anos, entre o período\n Permiano (último perído geológico da Era Paleozóica) e o Triássico (primeiro\n período da chamada Era Mesozóica), e é considerado o mais importante desde o\n surgimento da vida no planeta, há 541 milhões de anos. \n \n O estudo teve início na década de 1990 com a participação de\n geólogos da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Ouro\n Preto (Ufop), da Universidade Estadual de São Paulo (Unicamp), da St. Andrews\n University, no Reino Unido, e da University of Western Australia. \n \n Conforme os pesquisadores, a queda do meteorito em Araguainha não\n causou impacto suficiente para ameaçar a vida no planeta, já que formou uma\n cratera de "apenas" 40 quilômetros de diâmetro – relativamente\n pequena se comparada à cratera de 180 quilômetros de diâmetro no México,\n resultado da colisão de um asteroide com a Terra que teria levado ao\n desaparecimento dos dinossauros, há 65,5 milhões de anos. \n \n Porém, outros fatores que se seguiram ao impacto do meteorito em\n Araguainha teriam ampliado seu efeito para todo o hemisfério sul da Pangeia\n (continente que existiu até há 200 milhões de anos e no qual todos os atuais\n continentes estavam unidos). \n \n "Araguainha foi um impacto importante, embora não tenha tido\n uma magnitude tão grande quanto os outros impactos que você espera que possam\n levar à extinção diretamente. Mas a gente tem evidências de campo de que o\n evento de Araguainha gerou terremotos de grande magnitude ao longo da Bacia do\n Paraná", esclarece Ricardo Trindade, pesquisador do Instituto de\n Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. \n \n Trindade aponta que o impacto do meteorito causou uma sequência de\n terremotos de magnitude até 9,9 na escala de Richter (na qual a magnitude\n máxima é 10), afetando um raio entre 700 e 3 mil quilômetros do lugar da queda.\n Os tremores de terra teriam partido as rochas da Formação Irati, que existe sob\n a Bacia do Paraná, ricas em metano e dióxido de carbono. Com a fratura, cerca\n de 1.600 gigatoneladas desses gases teriam sido liberadas na atmosfera da\n Terra, cinco vezes mais do que já foi liberado desde a Revolução Industrial. \n \n "Nós encontramos feições geológicas na Bacia do Paraná\n inteira, desde lá do norte, perto de Goiás, até São Paulo, com os efeitos que\n caracterizam esses tremores. A África e o Brasil estavam juntos nessa época,\n então foi um evento que com certeza afetou as bacias dessas regiões”, explica\n Cristiano Lana, professor da Ufop. \n \n O efeito estufa repentino causado pela alta concentração de metano\n e dióxido de carbono na atmosfera teria ocorrido ao mesmo tempo que a erupção\n de diversos vulcões na Sibéria. Juntos, os dois eventos teriam levado à\n extinção de até 90% das espécies marinhas e 60% das terrestres. Plantas e\n répteis chamados de Mesossauro, os antepassados dos dinossauros, também\n morreram massivamente. \n \n Os seres marinhos foram os mais afetados porque o carbono (CO2)\n dilui mais rapidamente nesse meio. Entre eles, estariam estrelas-do-mar,\n caramujos e répteis marinhos. Estima-se que 99% das espécies de plânctons\n também tenham desaparecido. \n \n Novidade levanta questionamentos\n \n Embora a cratera de Araguainha seja a maior da América do Sul e\n uma das 20 maiores do planeta, os pesquisadores não tinham ligado o evento à\n extinção de vida que aconteceu no fim do período Permiano. Isso porque a última\n datação, feita na década de 1990 pelos pesquisadores alemães Konrad\n Hammerschmidt e Wolf von Engelhardt, apontava 10 milhões de anos de diferença\n entre a queda do meteorito e o desaparecimento das espécies. \n \n Foi somente depois de reavaliar a datação que os pesquisadores\n começaram a desconfiar de uma possível ligação entre os dois eventos: em 2012,\n o pesquisador Eric Tohver, da University of Australia, determinou com uma\n equipe que a cratera de Araguainha tinha 254,7 milhões de anos, com uma margem\n de erro de 2,5 milhões de anos tanto para cima como para baixo. \n \n Por outro lado, os próprios autores do estudo reconhecem que, para\n ter certeza que os períodos coincidem, os métodos de análise ainda precisam ser\n refinados. \n \n O geólogo Alvaro Penteado Crósta, professor da Universidade\n Estadual de Campinas, que pesquisa a cratera de Araguainha desde a década de\n 1970, discorda da nova teoria apresentada. "Não há evidências suficientes\n de que seria possível liberar uma enorme quantidade de [gás] metano a partir de\n sedimentos ricos em matéria orgânica em decorrência de eventos sísmicos",\n afirma. \n \n Segundo Crósta, é mais provável que a grande extinção tenha\n ocorrido em fases diferentes, que podem ter envolvido diversos fatores, como\n mudanças climáticas graduais, vulcanismo, impacto de diversos meteoritos,\n liberação de metano do fundo do oceano e falta de oxigênio. \n \n Para o professor Wolf Uwe Reimold, do Museu de História Natural de\n Berlim e especialista em impactos de crateras na superfície terrestre, a\n ligação entre o impacto do meteorito e a liberação dos gases também ainda\n precisa ser confirmada. Mas, mesmo assim, ele considera o novo estudo sobre\n Araguainha um divisor de águas: "A ideia é bem-vinda, assim como o ímpeto\n que ela vai dar aos cientistas que estudam o período Permiano, aos\n especialistas de várias áreas, sismólogos, pesquisadores sobre crateras e\n impactos, geologistas e paleontologistas que irão agora avaliar essa\n hipótese", aponta Reimold. \n \n Ameaças ao planeta\n \n Até o momento, apenas uma das extinções de massa da história da\n Terra teve as causas comprovadas – ou, pelo menos, é a teoria mais aceita no\n mundo. No período Cretáceo, há 65 milhões de anos, a queda de um meteorito na\n região Chicxulub, na Península de Yucatan, no México, aliada à atividade\n vulcânica da região de Deccan, na Índia, teria dizimado 60% da vida do planeta\n e levado ao desaparecimento dos dinossauros. \n \n Crósta aponta que catástrofes como esta acontecem somente a cada\n 80 milhões de anos, aproximadamente. Para Reimold, os meteoritos, corpos\n sólidos que podem chocar com a Terra, apresentam um risco estatisticamente\n baixo à vida no planeta, mas real porque são o único fenômeno catastrófico\n natural com energia suficiente para ameaçar a vida. "Conhecer a órbita\n deles e sua composição interna é extremamente importante se quisermos ter uma\n chance de nos proteger e prevenir com antecedência, encontrando formas de\n talvez destruir ou desviar o projétil", afirma. \n \n O efeito estufa repentino causado pela alta concentração de metano\n e dióxido de carbono na atmosfera teria ocorrido ao mesmo tempo que a erupção de\n diversos vulcões na Sibéria. Juntos, os dois eventos teriam levado à extinção\n de até 90% das espécies marinhas e 60% das terrestres. Plantas e répteis\n chamados de Mesossauro, os antepassados dos dinossauros, também morreram\n massivamente. \n \n Os seres marinhos foram os mais afetados porque o carbono (CO2)\n dilui mais rapidamente nesse meio. Entre eles, estariam estrelas-do-mar,\n caramujos e répteis marinhos. Estima-se que 99% das espécies de plânctons\n também tenham desaparecido. \n \n Novidade levanta questionamentos\n \n Embora a cratera de Araguainha seja a maior da América do Sul e\n uma das 20 maiores do planeta, os pesquisadores não tinham ligado o evento à\n extinção de vida que aconteceu no fim do período Permiano. Isso porque a última\n datação, feita na década de 1990 pelos pesquisadores alemães Konrad\n Hammerschmidt e Wolf von Engelhardt, apontava 10 milhões de anos de diferença\n entre a queda do meteorito e o desaparecimento das espécies. \n \n \n \n \n