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Jamil Name Filho, mais conhecido como "Jamilzinho", mudou sua estratégia para o segundo julgamento a que será submetido, em setembro deste ano. Depois de ir até o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para garantir a participação presencial no primeiro júri da operação Omertà, agora, ele que é acusado de chefiar a milícia armada em Campo Grande, deseja acompanhar a sessão a 4 mil quilômetros de distância, por videoconferência, sem a necessidade de deslocamento de Mossoró (RN) para Campo Grande.
Em 2023, no 1º júri da operação Omertà, Jamilzinho saiu do Fórum condenado como mandante da execução por engano do estudante Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos, ocorrida em abril de 2019.
“Com relação à possibilidade do acusado se fazer presente no julgamento ora designado, esta defesa informa, desde logo, que dispensa seu comparecimento pessoal, possibilitando, todavia, que acompanhe toda a sessão plenária e seja interrogado por videoconferência", diz Petição à 2ª Vara do Tribunal do Júri.
Responsável pelo caso, o juiz Aluizio Pereira dos Santos, já havia solicitado a transferência de “Jamilzinho” para Campo Grande. Na determinação, citou o habeas corpus 799.556/MS, concedido pelo STJ, ordenando a presença dos réus, em contraponto à ideia inicial do juiz, de fazer o procedimento com os réus à distância.
A briga envolvendo a vinda ou não dos réus para o júri do Caso Matheus provocou mais demora na marcação do julgamento, diante da exigência da defesa de que o réu estivesse no Fórum de Campo Grande. Além disso, foi feita uma operação de segurança reforçada para a transferência de Jamil Name Filho e do ex-guarda civil metropolitano Marcelo Rios, outro réu custodiado em Mossoró (RN).
Segundo o advogado de Marcelo Rios, Márcio Widal, o cliente não manifestou desinteresse em acompanhar de longe o julgamento marcado para setembro.
Além de “Jamilzinho” e “Rios”, vão sentar no banco dos réus o ex-guarda civil metropolitano Rafael Antunes Vieira e o policial federal aposentado Everaldo Monteiro de Assis, o “Jabá”. Os dois estão em Campo Grande.
O quarteto será levado a júri popular nos 16, 17, 18 e 19 de setembro deste ano, sob acusação de participação na execução Marcel Hernandez Colombo, conhecido como “Playboy da Mansão”. A vítima foi assassinada no dia 18 de outubro de 2018, quando estava em uma cachaçaria na avenida Fernando Correa da Costa, no fim da tarde. O amigo de Marcel que estava sentado à mesa com ele ficou ferido.
Ainda vai ser avaliado pelo juiz Aluizio Pereira dos Santos a manifestação da defesa “Jamilzinho” para que ele acompanhe o julgamento à distância.
Milícia armada
Extremamente organizada e com ligação direta ao esquema ilegal do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul. Os membros da milícia armada ligada à Jamilzinho tinham funções e tarefas bem definidas, de acordo com as investigações do MPMS.
Conforme as operações investigativas, o grupo criminoso era composto por agentes treinados, muitos das forças de segurança do estado, da ativa e aposentados, que praticavam homicídios qualificados, contando com a impunidade e para demonstrar força e intimidar.
À época, a polícia e o MPMS identificaram que a milícia armada se organizava em quatro grupos distintos:
Da liderança, com os líderes;
O da gerência, com os gerentes operacionais;
O grupo de atividade de apoio, com logística, segurança e suporte;
O grupo da execução, formada pelos executores dos homicídios.
Segundo o MPMS, a milícia de Jamilzinho é responsável por matar pelo menos três pessoas em Mato Grosso do Sul.
Primeira morte: Ilson de Figueiredo, de 62 anos, que era chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, foi assassinado no dia 11 de junho de 2018, na avenida Guaicurus, no Jardim Itamaracá. O homem foi perseguido e foi morto a tiros por suspeitos que estavam em outro veículo.
Segunda morte: Outra execução que teria sido cometida pela milícia, conforme a representação do MPMS à Justiça, foi a de Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018. A segunda vítima foi segurança do narcotraficante Jorge Rafaat, executado em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil.
Terceira morte: A terceira morte cometida pela milícia, segundo o MPMS, foi a do estudante Matheus Xavier, de 20 anos, no dia 9 de abril de 2019, no bairro Jardim Bela Vista. Segundo as investigações, o estudante foi morto por engano, o alvo do grupo seria o pai da vítima.
Jogo do bicho
O início da milícia armada se deu a partir da participação de Jamilzinho e Jamilzão no jogo do bicho, uma contravenção penal em Mato Grosso do Sul.
Pai e filho chefiaram a organização criminosa do jogo do bicho, que criou uma milícia para matar desafetos em Mato Grosso do Sul. A milícia era ligada a exploração dos jogos de azar.
O MPMS detalhou em uma das acusações o “conhecimento geral do envolvimento da família Name com o jogo do bicho e que embora se trate de contravenção penal, tal conduta fomenta outros crimes como corrupção, extorsão, lavagem de dinheiro e até mesmo homicídios”.