Correio do Estado/LD
A primeira fazenda independente energeticamente do Brasil está em Brasilândia, município próximo à divisa com o estado de São Paulo. A propriedade, da SF Agropecuária, é um dos maiores produtores de suinocultura do Estado, e toda a implementação do sistema de produção do gás a partir dos dejetos dos animais para um produtor desse porte é inédita no País.
A propriedade tem também o primeiro trator movido a gás biometano do Brasil. O suinocultor e proprietário do empreendimento, Fábio Pimentel de Barros, explicou que o projeto tem foco na sustentabilidade unida à economia e à estratégia.
“É um projeto que tem três pilares: primeiro a sustentabilidade, porque é uma energia limpa; segundo, ele é muito mais econômico do que o diesel; e o terceiro, tem capacidade de ser autossuficiente”.
FAZENDA INDEPENDENTE
O sistema da fazenda independente energeticamente utiliza a decomposição dos dejetos gerados pelos porcos para a produção de fertilizante, gás natural e energia. Em média, são produzidos 50 m³ de biometano por hora na fazenda.
A solução foi feita em parceria com as empresas New Holland Agriculture, Air Liquide, Sebigas-Cótica e FPT Industrial, cada uma com uma parte do processo.
A captação do gás começa com a coleta dos resíduos a partir dos locais onde ficam os animais.
Segundo o veterinário Jurandir Minervino de Souza, a coleta dos resíduos é contínua.
“A limpeza é feita diariamente. Dentro dos cercados onde os animais ficam, a limpeza precisa ser diária, então todo o líquido vai por meio de encanamentos para o biodigestor”, explica.
O biodigestor já era uma parte que existia na fazenda. “Tecnicamente falando, o material é coletado via tubulação, entra no biodigestor e ali acontece a degradação da matéria orgânica.
Tem diversas colônias de microrganismos que estão no biodigestor, que se alimentam desse material e essa alimentação gera o biogás”, detalhou Marildo Gueri Filho, representante na área de novas tecnologias e processos da Sebigas-Cótica.
Ainda segundo ele, o gás terá diferentes características, dependendo do material com o qual o biodigestor é alimentado.
“Nesse caso, como é de dejetos suínos, a gente tem um biogás que tem na faixa de 60% de metano, que é a nossa molécula de interesse para produzir o biometano. Dejetos suínos têm uma condição muito boa em relação à condição de metano, em comparação com outras biomassas. Esse gás que é gerado é canalizado via tubulação e encaminhado para a unidade de purificação”, acrescentou.
O gás passa por um sistema de purificação que começa em uma torre de carvão que faz primeiro a separação com o sulfeto de hidrogênio.
Após isso, o gás passa para uma purificadora de onde então sai o biometano verde, que segue para uma bomba para abastecimento da máquina. A tecnologia foi desenvolvida pela francesa Air
Liquide, que precisou criar um novo sistema de transformação energética para pequena escala e para o mercado agro.
Os equipamentos que a empresa normalmente comercializa são de capacidade de produção de mais de 500 m³. Assim, o sistema na fazenda em Mato Grosso do Sul significa um novo segmento.
“O desafio foi desenvolver um equipamento para o setor agro simples de operar e que fosse um produto nacional também. Precisávamos fazer um equipamento que fica longe de grandes centros e que não pudesse ser de difícil operação. Ficou um ano na fazenda sendo testado”, disse Nilda Silva, gerente da Air Liquide.
Além da produção de biometano para abastecer o trator movido a biogás, todo o excedente vai para a produção de energia, em um gerador de energia elétrica e calor especificamente para o projeto do ecossistema da FTP Industrial.
MAQUINÁRIO
O biogás produzido após toda a captação é de uso principal do primeiro trator movido a biometano comercializado no Brasil pela empresa New Holland Agriculture.
O maquinário é produzido em Basildon, na Inglaterra, e custa em média 30% a mais do que um trator movido a diesel. Dados da própria empresa afirmam que, ao usar o biometano, o impacto de carbono da máquina é praticamente zero, além de representar uma redução de custos entre 25% e 40% dos combustíveis.
Para o proprietário da fazenda e do trator, toda perspectiva de ter uma alternativa ao diesel produzida dentro da própria fazenda é o que se destaca.
“Hoje, eu tenho 64 anos e é a primeira vez que eu vejo o diesel ficar acima do preço da gasolina, é incrível. No pós-pandemia, tivemos um problema de produção no óleo diesel que hoje precisa ser importado. Então, é um projeto que produz combustível limpo, renovável e mais barato que o diesel”.
O vice-presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Suinocultores (Asumas), Alessandro Boigues, afirma que não é surpresa que a suinocultura puxe a fila de ações práticas da sustentabilidade.
“O setor sempre foi antenado em iniciativas sustentáveis e reaproveitamento dos dejetos, além dos cuidados ligados à biossegurança”.