Geral
29/04/2013 09:00:00
MPF/MS processa 19 pessoas por venda ilegal de lotes da reforma agrária
A denúncia do MPF foi aceita pela Justiça e agora os acusados são réus em ação penal por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e falsidade ideológica.
MPF/AB
\n \n Dezenove pessoas foram acusadas pelo Ministério Público Federal de\n fazer parte de organização criminosa que cobrava propina para autorizar a\n ocupação ou regularizar a comercialização de lotes da reforma agrária em\n Corumbá e Ladário, fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia. A denúncia do\n MPF foi aceita pela Justiça e agora os acusados são réus em ação penal por\n formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e falsidade ideológica. \n \n Investigação comprovou a comercialização de lotes nos\n Assentamentos Taquaral, Tamarineiro II-Sul, Paiolzinho e São Gabriel. Os lotes\n chegavam a custar R$ 60 mil e a propina, R$ 6 mil. O MPF descobriu que\n comerciantes e empresários locais estão entre os beneficiados das negociações\n ilícitas realizadas entre o assentado que queria desistir do lote e o terceiro\n interessado em sua aquisição. \n \n Longe de ser uma prática isolada, as transações entre ocupantes e\n interessados em lotes tornou-se a regra nos assentamentos situados nesta\n fronteira, avalizadas por meio de documentos fraudulentos elaborados pelos\n sindicatos de trabalhadores rurais e pelas associações de assentados, e regularizadas\n por servidores do Incra, afirma o texto da denúncia do MPF. Alguns acusados\n possuíam vários lotes, obtidos com o mesmo esquema. \n \n Na maioria das vezes, os servidores exigiam a concordância do\n sindicato e das lideranças dos assentamentos, que forneciam documentos e\n declarações de autorização. Para o interessado conseguir as assinaturas, era\n preciso pagar. A fase seguinte era a formalização de um processo na Unidade\n do Incra em Corumbá, para dar aparência de legalidade à ocupação do lote. Para\n isso, forjavam procedimentos com documentos falsos que atestavam que pessoas\n sem perfil de beneficiário e que não estavam inscritas no Programa Nacional de\n Reforma Agrária, possuíam os requisitos para receberem os lotes. \n \n O MPF descobriu que, nesse processo, os servidores não atualizavam\n os dados no Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (Sipra), que\n apresentava sempre o nome de um assentado que não estava mais no lote. Assim,\n os servidores poderiam conceder a ocupação a quem bem entendessem, ou\n regularizar a transferência feita pelos assentados livremente, pois o lote\n nunca seria reclamado por outra pessoa e o esquema criminoso não chamaria muita\n atenção. \n \n Divisão do crime\n \n Havia até divisão de atribuições entre os dois núcleos da\n quadrilha. Alguns lotes pertenciam aos servidores do Incra. Nesse caso, os\n servidores solicitavam a propina diretamente do interessado, sendo a transação\n e o pagamento realizados diretamente no Incra. Por sua vez, o sindicato detinha\n o poder sobre outra parte dos lotes de assentamentos, e nesses casos, se\n surgisse algum interessado, a negociação da propina era feita diretamente com\n os seus membros, que sinalizavam o pagamento aos servidores do Incra por meio\n de declarações de concordância com a ocupação. \n \n Para o MPF, os crimes cometidos resultaram em grave\n desvirtuamento do Programa Nacional de Reforma Agrária, pois, ao invés de\n beneficiar pessoas que se enquadravam no perfil, os lotes acabaram na posse de\n pessoas que sequer estavam cadastrados, em prejuízo dos verdadeiros\n trabalhadores rurais, em sua maioria pessoas humildes e de pouca instrução, que\n se sentiam intimidados em denunciar as irregularidades que ocorriam nos\n assentamentos. \n \n Operação Gaia\n \n Após a investigação iniciada pelo Ministério Público Federal, as\n informações foram encaminhadas para a Polícia Federal, que cumpriu, em 5 de\n março de 2012, mandados de busca e apreensão nas unidades do Incra em Corumbá e\n Campo Grande e no Sindicato dos Pequenos Produtores Rurais em Corumbá. A\n comercialização de lotes de assentamentos foi plenamente comprovada através dos\n documentos apreendidos, depoimentos dos investigados - que foram presos\n preventivamente além das interceptações telefônicas. \n \n A pedido do MPF, a Controladoria-Geral da União em Mato Grosso do Sul\n auxiliou no cumprimento dos mandados de busca e apreensão de documentos e\n analisou todo o material apreendido, tendo apresentado quatro relatórios\n conclusivos independentes sobre a análise do material: Relatório de Análise de\n Mídias, Relatório Gaia Paiolzinho, Relatório Gaia São Gabriel e Relatório Gaia\n Tamarineiro. Estes documentos também contribuíram para subsidiar a denúncia do\n Ministério Público Federal. \n \n Para o MPF, o conjunto dos procedimentos de investigação\n deflagrados comprovou a existência de uma extensa organização criminosa formada\n por servidores do Incra, membros do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de\n Corumbá e líderes de assentamentos, além de diversos particulares, em sua\n maioria comerciantes e empresários locais, que se valeram da estrutura\n criminosa para ocuparem lotes dos assentamentos. \n \n \n \n \n