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Pegos de surpresa, a família de garotinha que morreu em janeiro deste ano protestou contra proposta pela Prefeitura de Campo Grande. O pai da criança, Jean Carlos Ocampo da Rosa, e o marido, Igor de Andrade, que é considerado pai afetivo da menina, querem impedir que complexo de acolhimento para crianças e adolescente em situação de vulnerabilidade e risco de violência mantido pela administração municipal seja batizado de “Casa Sophia”.
Durante o lançamento da programação da Semana da Criança, no fim desta manhã, a prefeita Adriane Lopes (PP) anunciou que vai inaugurar, na próxima terça-feira (10), o espaço para colher meninos e meninas. Acontece que Jean Ocampo não foi consultado previamente e ficou sabendo da “homenagem” pela imprensa. Imediatamente, por meio da advogada, Janice Andrade, o casal oficial a prefeitura informando que não autorizavam o uso do nome e imagem da garotinha.
Para Ocampo e Andrade, a iniciativa soou como promoção política e de pastores evangélicos, uma vez que a prefeita fez o anúncio ao lado do pastor Wilton Acosta, que é liderança partidária do Republicanos e presidente do Conselho de Pastores de Mato Grosso do Sul, entidade que se associou ao Executivo municipal para promover a Semana da Criança. “Não fizeram absolutamente nada quando a menina estava viva, não fizeram absolutamente nada após a morte. Os pais não autorizam o uso do nome para promoção e se for necessários, tomaremos medidas judiciais”, informou a advogada à reportagem.
A morte da criança, no dia 26 de janeiro deste ano, jogou luz sob processo lento e longo que a menina protagonizou com idas frequentes à unidade de saúde, tentativa do pai em obter a guarda após suspeita de que a criança era vítima de agressão e provocou série de audiências públicas, protestos e mobilização para criação da Casa da Criança – projeto diferente do anunciado pela por prefeita –, bem como soluções ao falho sistema de proteção à criança e ao adolescente em todo o Brasil.
Outro detalhe lembrado pela família da menina é que igrejas evangélicas tentaram interferir diretamente na eleição para conselheiros tutelares que aconteceu nesse domingo, dia 1º. Muitos pastores fizeram campanha para candidatos, o que rendeu denúncias por abuso de poder religioso e impugnações a candidaturas.
Os pais também tentaram mobilizar a população a ir às urnas e escolher profissionais com conhecimento técnico sobre o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), deixando de lado convicções religiosas ou outros critérios de escolha, que não fosse a atuação e conhecimento sobre defesa dos direitos de meninos e meninas.
Para a família, o Conselho Tutelar, órgão mantido pela prefeitura que ouviu do pai suspeitas que a filha sofria agressões na casa onde vivia com o padrasto e a mãe, foi negligente. Por isso, a tentativa de homenagem proposta pelo município foi vista como desrespeito e afronta.
O Campo Grande Newspediu posicionamento do Executivo municipal sobre a possibilidade de haver a troca do nome escolhido para o espaço, mas até o fechamento da matéria, não houve retorno. A prefeitura também não deu ainda detalhes sobre a inauguração. Informou somente que o complexo ficará no Parque dos Poderes.
A reportagem apurou que depois de ser comunicada oficial da insatisfação da família, a prefeita Adriane Lopes está ponderando escolher outro nome para a casa de acolhimento.
A morte –Na tarde do dia 26 de janeiro deste ano, a menina deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, no norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, Stephanie de Jesus, 24, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica encontrou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes da chegada ao local.
O atestado de óbito apontou que a menininha morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica). Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que sofreu violência sexual.
Para a investigação policial e o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), a criança foi espancada até a morte pelo padrasto, Christian Campoçano Leitheim, 26, depois de uma vida recebendo "castigos" físicos, além de ser vítima de violência sexual. Ele responde por homicídio e estupro. Já a mãe da menina, pelo assassinato, como o Christian, mesmo que não tenha agredido a filha, mas porque, no entendimento do MP, ela se omitiu do dever de cuidar. No início deste mês, ambos também foram denunciados pelo crime de tortura.