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Ainda lidando com prejuízos, causados principalmente pelo fenômeno El Niño, a atividade agropecuária em Mato Grosso do Sul pode enfrentar novos desafios climáticos nos próximos meses. Segundo previsão de agrometeorologistas da Embrapa, há grande probabilidade de ocorrência do La Niña no Estado.
Este evento climático, conhecido por alterar padrões de temperatura e precipitação, deve afetar o próximo ciclo da safra de soja e ainda a pecuária a partir do segundo semestre do ano. Caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico, um processo que já está em andamento de acordo com modelos meteorológicos.
Segundo o Agrometeorologista e pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Danilton Flumignan, o El Niño se dissipou nos meados de maio e no momento há uma neutralidade dos fenômenos.
“Durante a transição entre eles [El Niño e La Niña], há uma fase de neutralidade, com 83% de probabilidade, caracterizada por temperaturas oceânicas dentro da normalidade”.
Para o próximo mês, agosto e setembro, o pesquisador indica que a probabilidade de ocorrência do La Niña seja superior a 49%. “Isso ainda pode impactar a cultura do milho em razão das adversidades climáticas, como chuvas abaixo da média histórica, granizo, geadas e baixas temperaturas”, detalha.
O pesquisador e agrometeorologista da Embrapa Agropecuária Oeste, Éder Comunello, nos últimos anos, o clima tem desafiado sobremaneira os produtores rurais brasileiros.
“Entre junho de 2023 e abril de 2024, tivemos a ocorrência do fenômeno El Niño. Embora esse fenômeno seja geralmente associado ao aumento das chuvas no sul e em MS, desta vez foi marcado por bloqueios atmosféricos e ondas de calor, ocasionando vários episódios de escassez hídrica e impactando fortemente a atividade agrícola no Estado. Apesar de atualmente estarmos sob condição de neutralidade, as cheias vivenciadas no sul do Brasil em maio podem ser consideradas um efeito residual do El Niño”.
Comunello ainda destaca que o cenário de neutralidade não deve perdurar, pois diversas projeções apontam para o estabelecimento de La Niña já a partir do próximo mês.
“Isso implica que há grandes chances de que nossa próxima safra de verão seja cultivada sob essas condições. Durante La Niña, espera-se uma maior ocorrência de secas na região sul. Em Mato Grosso do Sul, costumamos enfrentar uma versão atenuada do que ocorre no sul do Brasil, o que ainda é desafiador, especialmente em um cenário onde temos registrado recordes de altas temperaturas por vários meses consecutivos. Os impactos de La Niña na agricultura podem ser severos”, conclui.
O economista do Sindicato Rural de Campo Grande (SRCG), Staney Barbosa Melo, explica que o plantio da soja começa em meados de setembro, “mas a extensão do período seco até novembro pode forçar muitos agricultores a adiar o plantio ou a enfrentar riscos de perdas de produtividade nas primeiras áreas semeadas”.
Os efeitos climáticos do El Niño mal terminaram e já há a estimativa de grandes prejuízos. Segundo o boletim da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a quebra na produção agrícola é projetada em 25%. Conforme o levantamento, a produção agrícola de Mato Grosso do Sul sai de 28 milhões de toneladas na safra 2022/2023 para 21 milhões de toneladas na safra 2023/2024.
MILHO
Dados da Conab apontam que a área destinada ao cultivo de milho no Estado para este ciclo está estimada em 2 milhões de hectares, marcando uma redução de 7,4% em comparação com o ciclo anterior, quando registrou 2,2 milhões.
Esta diminuição reflete ajustes nas condições de plantio e nas projeções de produção, influenciadas por fatores climáticos e também econômicos.
Em termo de produtividade a diferença e acentua ainda mais, passando de 5,7 mil toneladas por hectare no ciclo anterior para a atual projeção de 4,2 mil toneladas, queda de 25,9% estimada para o milho segunda safra em Mato Grosso do Sul.
Já a produção passa de 13,1 milhões toneladas no ciclo anterior, para um montante estimado em 8,9 milhões de toneladas na safra 2023/2024. A quebra prevista na comparação com o ano anterior é de 31,4%. Os dados apresentados pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) para a safrinha ainda são mais otimistas, levando a estimativa de 11,4 milhões de toneladas.
O economista do SRCG destaca que comparando com levantamentos anteriores, verifica-se um ajuste nas estimativas de produção de milho para esta safra. “Apesar das dificuldades enfrentadas, a expectativa é de que a safra seja suficiente para atender à demanda local, embora com números ajustados em relação às projeções iniciais”, analisa.
SOJA
A principal cultura afetada pela escassez hídrica foi a soja, conforme o levantamento da Conab, com uma queda de produtividade de 23,4% em relação a safra anterior, uma vez que safra passada produziu 3,7 mil kg por hectare e este ano as lavouras produziram 2,8 mil kg/ha. É a segunda maior queda de produtividade entre os estados, perdendo apenas para as lavouras localizadas no estado de São Paulo, que tiveram queda de 26% na produtividade.
Com isso, conforme a última estimativa, a produção de soja de MS caiu de 14 milhões de toneladas na safra 2022/2023 para 11,4 milhões de toneladas nesta safra, queda de 18,8% na produção. Mesmo diante de um aumento considerável de área cultivada, que este ano chegou a 4 milhões de hectares, alta de 6,1% na comparação com a safra anterior.