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Principal cultura cultivada na segunda safra, o milho tem projeção de queda estimada em 2,8 milhões hectares no ciclo 2023/2024 em Mato Grosso do Sul, na comparação com o ciclo 2022/2023.
Com estragos irreversíveis causados pelas condições climáticas irregulares no Estado, levantamento da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) já aponta redução de 19,23% na produtividade.
Conforme os dados do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga MS) divulgados no fim do ano passado, mostram que no ciclo 2022/2023 a produção do milho safrinha foi de 14,2 milhões de toneladas em MS, enquanto para a safra de inverno atual, a produção está estimada em 11,4 milhões de toneladas.
Em relação a área cultivada, já há uma estimativa de queda em relação à safra passada. No segundo ciclo do ano passado foram 2,3 milhões de hectares cultivados.
Para a safra atual foram semeados 2,218 milhões de hectares, o que resulta em queda de 5,82% na área implantada.
Ao considerar que a saca com 60 kg de milho era comercializada ontem, em média, a R$ 49,13 no mercado físico de Mato Grosso do Sul e que 2,8 milhões de toneladas são 46,666 milhões de sacas de milho, o prejuízo estimado para a safrinha do milho 2023/2024 é de R$ 2,292 bilhões.
A projeção realizada pela reportagem do Correio do Estado é norteada nos dados disponibilizados pelo relatório do Siga-MS e consultoria técnica de agentes do setor.
Dados do boletim Casa Rural, divulgado ontem pela Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul), apontam que até o momento são 46,3% das lavouras consideradas em situação boa, 32,6% avaliadas como ruins e outros 21,1% em condições regulares. O que pode resultar em quebra mais acentuada até o fim da colheita.
O presidente da Aprosoja-MS, Jorge Michelc, pontua que o produtor rural sofreu perdas com as lavouras de soja e agora está passando por mais um desapontamento com as previsões para a safra de milho.
“De fato, estamos passando por um período bastante crítico para a agricultura do Mato Grosso do Sul. Para este momento, o que aconselhamos é que o produtor faça as contas e entenda o seu fluxo de caixa para conseguir honrar com seus compromissos”, recomenda.
Conforme análise da Associação, durante as etapas de implantação da segunda safra de milho deste ano já foram observadas perdas significativas no potencial produtivo, principalmente em decorrência do clima e da escassez hídrica.
“Essa situação adversa afetou uma área total de 508 mil hectares em várias regiões do Estado, incluindo o sul, sudoeste, centro, oeste, nordeste, norte, sul-fronteira e sudeste”, destaca a instituição.
O boletim Casa Rural ainda destaca que nas regiões oeste, norte, nordeste e sudoeste as condições boas estão entre 71% a 82,8%, enquanto as principais regiões produtoras de MS, central, sudeste, sul-fronteira e sul possuem condições abaixo do potencial das outras regiões, podendo-se encontrar lavouras em até 50% em condições ruins.
“Esta safra apresenta irregularidades tanto na diferença de níveis de desenvolvimento do milho como no potencial produtivo. Quanto aos estágios de desenvolvimento, o acompanhamento da Aprosoja-MS mostra que temos aqui, em Mato Grosso do Sul, milho com emissão da segunda folha e em período de maturação dos grãos”, analisa o assistente técnico da Aprosoja-MS, Flávio Faedo.
Ainda conforme análise do analista técnico, o que ocorre com as plantações de milho são uma continuidade do que foi a safra da soja.
“Nesta safra, teve milho que foi plantado em janeiro como também teve milho sendo plantado até o começo de maio. Durante esse tempo, também tivemos veranicos, algumas áreas ficaram de 10 a 20 dias sem chuva, outras ficaram com mais de 30 dias sem chuvas”, explica.
CLIMA
A instabilidade do clima é apontada como uma das grandes responsáveis pelo declínio na safra 2023/2024. Os especialistas indicam que os períodos de seca ocorreram entre os meses de março e abril, sendo de 10 dias a 30 dias de estresse hídrico, e mais recentemente, entre abril e maio, de 10 dias a 20 dias sem chuva.
Agrometeorologista e pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Danilton Flumignan, detalha que no último mês a temperatura ficou muito acima do esperado para o período.
“A gente vem de pelo menos uns 30 a 40 dias muito secos, e o milho safrinha plantado no nosso Estado em uma fase crítica de necessidade de água para uma safrinha que, mesmo assim, também não começou muito bem. Ou seja, estamos passando por uma safrinha que tem experimentado bastante calor e pouca oferta de água, pouca oferta de chuvas”, diz Flumignan.
O agrometeorologista explica ainda que algumas áreas estão boas, porém, com uma grande parte já afetada severamente.
“Isso como consequência desse excesso térmico, dessas temperaturas muito altas que a gente vem experimentando faz tempo”.
O fenômeno El Niño, grande vilão do ciclo deve começar a perder força no segundo semestre do ano, segundo especialistas espera-se que perca força gradualmente, dando espaço ao La Niña.
Durante a transição entre eles, há uma fase de neutralidade, com 83% de probabilidade, caracterizada por temperaturas oceânicas dentro da normalidade.
Já para julho, agosto e setembro, a probabilidade de ocorrência do La Niña é superior a 49%. Isso pode impactar a cultura do milho em razão das adversidades climáticas, como chuvas abaixo da média histórica, granizo, geadas e baixas temperaturas.