VERSÃO DE IMPRESSÃO
Geral
23/06/2013 10:47:26
Vítima da polícia paulistana pedirá indenização de R$ 700 mil
As bandeiras do Brasil e do estado na fachada de um hotel na esquina da Consolação com Maria Antônia, em São Paulo, estão estáticas.

O Globo/LD

\n \n O sinal está\n vermelho, e a luz fria de um poste de rua ilumina a fumaça em volta de 11\n policiais da Força Tática paulistana, que carregam escudos e estão em posição\n de ataque. No primeiro plano, a cem metros dali, três manifestantes ensaiam uma\n aproximação. As bandeiras do Brasil e do estado na fachada de um hotel na\n esquina da Consolação com Maria Antônia, em São Paulo, estão estáticas.\n \n O fotógrafo\n Sérgio Silva, de 31 anos, abaixou a câmera para conferir a imagem que acabara\n de fazer e ajustar o tempo de abertura do obturador. Antes do segundo disparo,\n sentiu o impacto no olho direito e uma dor lancinante.\n \n — Pensei que\n era pedra, ou um pedaço da banca onde tinha me escondido. Mas logo vi que era\n bala de borracha da polícia — conta o rapaz, que pedirá R$ 700 mil de\n indenização ao estado.\n \n Para o\n advogado Paulo Sérgio Fernandes, não será preciso provar quem foi o policial\n que fez os disparos contra o fotógrafo, nem se teve a intenção de acertá-lo.\n \n — Precisamos\n mostrar apenas que alguém disparou e feriu um fotógrafo no exercício legítimo\n da profissão — explica o defensor de Silva, que prevê uma longa briga judicial\n em busca da indenização.\n \n Antes disso,\n ele ingressará com uma ação cautelar cobrando do Estado um tratamento de\n qualidade para o profissional, que, na melhor das hipóteses, perderá 70% da\n visão, de acordo com os médicos.\n \n O fotógrafo\n foi ajudado por um professor, que o socorreu e caminhou ao seu lado por 40\n minutos até o hospital mais próximo, ajudando a conter o sangramento no nariz.\n \n — Estava\n sufocado. Ele falava para eu ficar tranquilo, porque tinha que sair dali. Foi\n meu anjo da guarda — conta o fotógrafo.\n \n Do dia em\n que a polícia decidiu encerrar à bala a manifestação pela redução da tarifa de\n ônibus nas ruas de São Paulo, restou um trauma permanente e uma conta\n hospitalar de R$ 3,1 mil a ser paga.\n \n Petição\n contra uso de balas\n \n Uma petição\n on-line criada no site “Change.org” pede ao governador a proibição do uso de\n bala de borracha contra manifestantes. Já foram reunidas 38 mil assinaturas. O\n fotógrafo ficou indignado quando o comandante da Polícia Militar, Benedito\n Roberto Meira, disse que ferimentos em jornalistas cobrindo manifestações são\n “riscos da profissão”.\n \n — Não estava\n no Afeganistão, nem era o Taleban à minha volta. Eu me senti desrespeitado, foi\n um comentário extremamente infeliz — reclama.\n \n De hora em\n hora, Silva precisa colocar uma compressa de água fria no olho ferido, porque\n involuntariamente tenta mover as pálpebras. Usa colírio com antibiótico e\n precisa ficar sob repouso absoluto. Ambientes escuros aliviam a sensação no\n olho esquerdo, agora mais sensível, mas agravam a angústia de quem não sabe se\n voltará a fotografar:\n \n — É minha\n profissão, minha paixão. Temo não conseguir mais exercê-la tecnicamente. É\n mistura de medo e esperança.\n \n A música é\n outra paixão e, nessa semana, ele chorou quando a mulher botou para tocar uma\n canção de Iggy Pop.\n \n Considera a\n foto que fez no aniversário da mãe, em abril deste ano, a mais importante da\n sua vida.\n \n — Foi a\n última vez que pude olhar para ela com os meus dois olhos.\n \n \n \n \n