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Levantamento feito pela Defesa Civil identificou que os danos estruturais causados por vendaval que atingiu Corumbá são estimados em R$ 3,7 milhões. Decreto que estabeleceu a situação de emergência foi publicado no Diário Oficial do município 24 horas após as devastações.
Além dos prejuízos materiais, o temporal causou a morte de um menino de sete anos e feriu outras quatro crianças e professores. As vítimas estavam no ginásio da Escola Municipal Dr. Cássio Leite de Barros.
Índice que mede a intensidade dos ventos, a Escala de Beaufort apontou um dos níveis mais severos de ventania. Na escala de 0 a 13, as rajadas em Corumbá alcançaram o nível 10. A tempestade durou 30 minutos, conforme a Defesa Civil municipal, com forte deslocamento de massa de ar na zona urbana, no sentido norte/sul, caracterizado como tempestade local, com o subtipo denominado vendaval.
Essa tempestade não foi a mais forte na região do Pantanal sul. Em 2021, houve rajada que chegou a 145 km/h. Na época, uma embarcação que estava no Rio Paraguai foi atingida.
A Defesa Civil apontou que a velocidade máxima das rajadas de vento chegou a 96,1 km/h, conforme registro do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Já o Cemtec registrou velocidade de 107 km/h. A declaração de situação de emergência levou em consideração a precipitação pluviométrica que chegou a 27,5 mm no pluviômetro do Inmet.
Com o decreto, fica autorizado o poder público a entrar nas casas para prestar socorro ou para determinar a pronta evacuação, usar da propriedade, inclusive particular, em circunstâncias que possam provocar danos ou prejuízos ou comprometer a segurança de pessoas, instalações, serviços e outros bens públicos ou particulares, assegurando-se ao proprietário indenização caso o uso da propriedade provoque danos ao local.
Essas intervenções só podem ocorrer em áreas que comprovadamente foram atingidas por danos causados pelo vendaval.
Entre os locais com maior necessidade de intervenção está a região do Residencial Jatobazinho, na parte alta de Corumbá. Vivem no local em torno de 800 pessoas e cerca de 80% dos prédios foram danificados, principalmente com a queda do teto.
“A Câmara está montando uma comissão especial para ajudar a prefeitura. Nós precisamos dessa união e tenho certeza de que essa comissão, além de acompanhar, vem para fortalecer a transparência das ações do Executivo”, disse o prefeito da cidade, Marcelo Iunes (PSDB).
Em termos financeiros, a Casa de Leis avalia o valor do duodécimo deste ano e deve realizar o repasse para a prefeitura ainda neste mês.
Outra medida anunciada foi o cancelamento da festa para o aniversário de Corumbá, celebrado em 21 de setembro. “Decidimos pela suspensão do desfile do dia 21 de setembro e também do show do cantor Léo Chaves, que seria pago pelo Estado, com estrutura do Estado”, disse o prefeito.
“Chegamos à conclusão de que não temos clima para que o desfile aconteça, por tudo o que houve e principalmente pelo óbito do nosso aluno Matheus. As escolas são as responsáveis por abrilhantar o desfile e, por estarmos em luto, decidimos também suspender o desfile”, completou a secretária-adjunta de Educação, Maria do Carmo de Arruda Brum.
O aluno que morreu foi atingido por uma parte do telhado do ginásio. O material acertou principalmente as costas da criança. O professor que estava com os estudantes tentou intervir quando houve a queda do telhado e sofreu ferimento no braço. A criança foi sepultada nesta quarta-feira, sob forte comoção. O estudante era filho único da família. Houve decreto de luto oficial de três dias em Corumbá.
A investigação da Polícia Civil sobre as causas da queda de parte do telhado da escola municipal vai demorar pelo menos 30 dias. Será averiguado se havia problema estrutural no telhado, o qual foi construído há 10 anos.
Além disso, nesta quarta-feira teve início uma vistoria da prefeitura em todas as 37 escolas municipais e extensões de ensino para verificar se há estruturas que apresentam problemas. As UBSs também serão vistoriadas. Esse trabalho deve durar até a próxima semana.
A limpeza de danos na cidade não terminou e nesta quarta-feira ainda havia muitas ruas com árvores e galhos caídos. A religação de energia elétrica em toda a cidade só foi concluída ontem, após reforço de funcionários lotados em Miranda e Aquidauana.
CAUSA
A meteorologista e coordenadora do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec), Valesca Fernandes, analisa que as condições meteorológicas que favoreceram a formação dessa tempestade foram a combinação de calor e umidade.
Segundo Fernandes, a tempestade se formou no setor quente, antes da passagem de uma frente fria, e gerou fortes rajadas de vento, causando um alto impacto no município.
A meteorologista esclareceu que houve relatos de uma nuvem funil, porém, sem confirmação de que tocou o solo, para se configurar como um tornado, nem de que tocou a água, para ser classificada como uma tromba-d’água. A nuvem funil é um fenômeno que pode gerar vórtices em razão das grandes diferenças de velocidade e direção do vento.
SAIBA
Eventos que estavam previstos para acontecer em Corumbá foram todos cancelados. Uma escola particular da cidade iria realizar evento no principal poliesportivo de Corumbá na sexta e no sábado, reunindo pelo menos 500 estudantes, mas a data foi alterada para os dias 29 e 30.