VERSÃO DE IMPRESSÃO
Meio Ambiente
21/06/2015 08:13:00
Extinção de espécies: Terra pode estar no início de uma nova onda de defaunação

UOL/PCS

Ameaçado de extinção, panda vermelho é recuperado por zoo

Estudos divulgados em maio pela prestigiada revista Science alertam que a Terra pode estar à beira de uma nova onda de extinção de espécies em massa e a provável causa seriam as atividades antrópicas (provocadas pelo homem).

Nos últimos anos houve uma rápida e drástica queda na biodiversidade animal do planeta, ao que a publicação se refere com o termo ‘defaunação’. A estimativa de especialistas é que a atual taxa de extinção das espécies seja mil vezes maior do que a taxa natural (que ocorre sem a interferência humana). Em 1995, essa taxa era cem vezes acima do índice de extinção natural.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Extinção é o desaparecimento de todos os indivíduos de uma determinada espécie. O fenômeno sempre ocorreu na natureza, mas existem períodos em que eles assumem grandes proporções num curto espaço de tempo. A extinção em massa acontece quando pelo menos 75% das espécies do planeta desaparecem.

As evidências sugerem que a rápida velocidade de desaparecimento da diversidade da vida na Terra seria o indício do início de uma extinção em massa, causada por atividades como o desmatamento, a caça e pesca em larga escala e a poluição da atmosfera e dos oceanos. A última grande crise ocorreu há cerca de 65 milhões de anos, quando os dinossauros foram extintos.

De acordo com um dos estudos, pelo menos 322 espécies de vertebrados foram extintas desde 1500. As populações de vertebrados declinaram em uma média de mais de um quarto nos últimos quarenta anos.Já para os invertebrados, como os insetos, lesmas, minhocas e crustáceos, o cenário também é pessimista. Segundo cientistas da universidade americana de Stanford, 67% das espécies monitoradas tiveram um declínio populacional de 45% ao longo das últimas quatro décadas.

Os répteis e anfíbios também estão correndo risco. Outro recente estudo da Universidade da Califórnia (EUA) publicado em outra revista científica importante, a Nature, diagnosticou que 50% das espécies dos répteis tiveram extinção plena nos últimos cinco séculos.

Segundo dados da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês), divulgados em 2009, os anfíbios são a classe de vertebrados mais ameaçada de extinção. Cerca de 30% das espécies de sapos e rãs correm risco de desaparecer nos próximos anos.

O número total de espécies em todo o mundo ainda é desconhecido e muitas sequer foram descobertas, fato que torna ainda mais difícil a sua proteção. Aproximadamente 1,9 milhão de espécies já foram classificadas pela comunidade científica, mas estima-se que existam entre cinco e 11 milhões no planeta. As extinções em massa

A perda de espécies sempre ocorreu na história da Terra e pode ser causada por diversos motivos, como catástrofes naturais de grande impacto ou eventos geológicos, como a erupção de um vulcão, um terremoto ou a glaciação.

Outros motivos seriam a seleção natural (animais bem adaptados ao ambiente sobrevivem), a introdução de espécies exóticas e invasoras que desequilibram ecossistemas, variações climáticas, a radiação ultravioleta (UV) e a ação do homem em atividades como a caça e pesca predatória, poluição por agentes químicos, a agricultura e a destruição do habitat onde os animais vivem.

Estudos de fósseis indicam que nos últimos 550 milhões de anos a Terra já passou por cinco grandes extinções em massa, todas provocadas por fatores naturais. Já desapareceram do planeta animais de grande porte como mamutes, tigres-dentes-de-sabre, preguiças-gigantes, entre outros.

A mais recente delas teria ocorrido no período Cretáceo, há 66 milhões de anos atrás. A teoria mais aceita é que 80% das espécies desapareceram (incluindo os dinossauros) num curto prazo devido à queda de um meteoro de mais de 10 quilômetros de diâmetro no planeta.

Acredita-se que, atualmente, vivemos a sexta crise de extinção, que teria começado há cerca de 10 mil anos, marcada pela última glaciação. Esse período é chamado de Holoceno. Mas para muitos geólogos, o advento das mudanças climáticas e as intervenções do homem na natureza indicariam um novo período, chamado de Antropoceno, iniciado após a Revolução Industrial (século 18). Essa última classificação ainda não é um consenso na comunidade científica. Os impactos do desaparecimento de espécies

A perda de uma única espécie pode provocar efeitos em todo o ecossistema e cadeia alimentar, já que predadores maiores controlam a população de diversos animais e também influenciam nos ciclos vitais de plantas.

Outras graves consequências poderiam afetar a humanidade. Um dos impactos diretos seria a queda na produção de alimentos pela falta de agentes polinizadores. É o caso das abelhas e insetos que estão desaparecendo por causa do uso de inseticidas, principalmente na Europa. Esses animais são responsáveis por cerca de 75% da polinização agrícola do mundo.

A diminuição de espécies também traz doenças infecciosas, afetando diretamente nossa saúde. Isso porque eliminado o animal que é hospedeiro natural de patógenos como vírus e bactérias, eles buscam novos hospedeiros, contaminando os humanos.

A falta de animais também pode ser fonte de problemas sociais. Um estudo da Universidade de Berkeley que envolveu sociólogos e ecologistas e também publicado na edição da Science relaciona o desaparecimento de espécies a novos conflitos mundiais.

Para eles, essa queda pode influenciar a segurança alimentar e a sustentabilidade de comunidades tradicionais. Com menos peixes para pescar e animais para caçar, os trabalhadores teriam que buscar outras fontes de renda e estariam mais expostos à exploração da mão de obra barata e ao trabalho escravo e infantil.

Como exemplo, os autores associam o aumento da atividade de pirataria na Somália à queda dos estoques de peixes da região, o que teria levado muitos pescadores a optar pela atividade criminal.

Como salvar espécies ameaçadas?

É possível reverter o declínio de espécies com diversas medidas de conservação da biodiversidade. Uma delas é a criação de unidades de conservação em áreas sem influência humana e que buscam proteger a fauna e flora ameaçadas, como florestas e barreiras de corais marinhos.

Um dos estudos publicados pela Science reconhece que é esse método é “cada vez mais inalcançável” e sugere que um bom caminho seria promover o reflorestamento para restaurar no longo prazo o habitat para a sobrevivência de uma espécie.

O Brasil é reconhecido por ter a maior diversidade biológica do mundo. Parte desse patrimônio está protegido em 310 Unidades de Conservação Federais (UCs) e a maioria das espécies ameaçadas são mamíferos (quase 50%).

Outras medidas são os chamados projetos de refaunação, onde biólogos criam animais em cativeiro para reinseri-los em seu hábitat natural. Um dos símbolos da luta pela preservação dos animais no Brasil é o mico-leão-dourado, considerado uma espécie em estado avançado de extinção. Para salvá-la, o governo brasileiro e ONGs estão tentando reintroduzir na Mata Atlântica animais criados em cativeiro. Desde 1997, o projeto conseguiu aumentar em 25% a população desse primata.

Para proteger espécies ameaçadas, o governo pode promover medidas. No Brasil, um exemplo é a lei que proíbe a pesca predatória durante a piracema, período em que cardumes de peixes sobem os rios para procriar. Outro exemplo é o monitoramento das populações (como a do peixe-boi marinho).