Época/PCS
O gênero Araucaria está incluído no grupo das Gimnospermas, as primeiras plantas a conquistarem definitivamente o ambiente terrestre há mais de 300 milhões de anos.
Há 19 espécies no mundo todo, dentre elas, a Araucaria angustifolia, mais conhecida como pinheiro do Paraná ou, simplesmente, como araucária, árvore símbolo do Sul do Brasil que confere fisionomia única à Floresta Ombrófila Mista que, por este motivo, é também denominada Floresta com Araucária. O Dia Nacional da Araucária, celebrado neste sábado (24 de junho) deveria ser um alerta.
A araucária possui ciclo de vida lento quando comparada a outras espécies, como o pinus, uma espécie exótica. A primeira atinge a vida adulta somente após 15 ou 20 anos, enquanto a segunda leva metade desse tempo. Só mais de uma década e meia depois de plantada é que a araucária passa a produzir sementes (pinhões) em pinhas, que não são envoltas por frutos, nem desenvolvem flores.
Essas características primitivas das gimnospermas condicionam sua polinização à disponibilidade de vento e sua dispersão fica limitada a espécies específicas, como a gralha azul, que se alimenta do pinhão. Esse é um fator limitante em comparação ao grupo das angiospermas, as árvores com flores e frutos, que possuem diversos aparatos e atrativos para polinizadores e dispersores.
Além dessas características peculiares, a intensa exploração madeireira a que a araucária foi submetida por décadas, associada ao constante desrespeito à legislação de proteção da espécie – incluindo o corte e a colheita do pinhão fora de época e a omissão de órgãos ambientais estaduais na fiscalização e impedimento de irregularidades – levaram as populações restantes a severos índices de fragmentação, em uma condição de fragilidade e ameaça que não pode passar despercebida.
Cabe ressaltar que a biodiversidade ou diversidade biológica se expressa em três níveis, partindo do ecológico – contemplando diferentes biomas e ecossistemas – passando pelo orgânico – caracterizado pelo número de espécies distintas – e chegando ao genético – que é o nível de diversidade que cada espécie carrega nos genes de seus indivíduos.
Diante dessa lembrança, é possível considerar que, com a constante ampliação da distância entre os remanescentes de Floresta com Araucária, ocorre a chamada “erosão genética”, que é a redução drástica do fluxo gênico das espécies, como a araucária, que habitam um ecossistema. Com a troca de material genético entre os indivíduos no momento da polinização comprometida, a manutenção da biodiversidade é afetada.
Uma espécie em risco com populações reduzidas, portanto, possui menos possibilidades de fluxo gênico com outros indivíduos e acaba elevando seu índice de endogamia, que é o cruzamento entre aparentados. Com isso, há uma redução de seu tamanho efetivo populacional. No caso da araucária, estudos realizados já comprovam a perda de pelo menos 50% da variabilidade genética.
Em uma definição mais prática, essa condição reduz a habilidade de a espécie evoluir em resposta às adversidades ambientais como, por exemplo, mudanças climáticas, doenças, contaminação ambiental e outros fatores resultantes da ação humana direta ou indireta. A redução da diversidade biológica no planeta tem sido tão severa que já é conhecida como a “sexta extinção”, em alusão às outras extinções em massa a que a Terra foi submetida, como a dos dinossauros há 65 milhões de anos.
A araucária é uma das protagonistas desse drama ambiental, sendo atualmente classificada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) como espécie em risco extremo de extinção, a última instância de alerta antes de ser considerada dizimada da natureza.
O pinheiro do Paraná entrou para a chamada “Lista Vermelha” em 1998, sendo considerado raro na época. Em nova atualização, passou para a categoria “vulnerável” e, desde 2006, foi para a categoria “criticamente em risco”, com redução de mais de 97% de sua ocorrência em relação à porção original.
É necessário manter a araucária protegida para garantir a biodiversidade da Floresta Ombrófila Mista e dos demais ecossistemas associados ao bioma Mata Atlântica. Mas é também imprescindível considerar a diversidade biológica que a espécie carrega em seu código genético, em grande parte, responsável pela sua perpetuidade no planeta. Por vezes, esse tipo de biodiversidade é relegada a segundo plano, por ser uma característica invisível a olho nu, microscopicamente codificada nas moléculas de DNA, mas sua perda é drasticamente irreparável.