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Especialistas ouvidos pela Folha de São Paulo foram unânimes em afirmar que a contribuição de raios e outras causas espontâneas para os incêndios florestais no Brasil, é irrelevante. Matéria que discute o assunto foi publicada ontem (24).
Foram consultadas 10 fontes do setor público e da sociedade civil, que reforçaram o que já havia sido divulgado quando a temporada de secas começou.
Assim, mesmo que os motivos de grande parte dos já iniciados não tenham sido identificados, é possível dizer que "a maioria absoluta dos que atingem o País têm origem humana", segundo publicou o jornal.
Já que não existem nos biomas brasileiros outros elementos naturais relacionados ao início do fogo, como vulcões ativos, as análise mirou as descargas elétricas.
Temporada de raios X Incêndios - Segundo falou à Folha a coordenadora do Lasa-UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Renata Libonati, o pico de incêndios no Brasil não coincide com a alta temporada de raios. Desde fevereiro, o número de descargas elétricas vem reduzindo enquanto o de focos de calor aumenta de maio até setembro.
Foram registrados no Pantanal, entre janeiro a julho deste ano, 36,3 mil focos de calor, sendo que apenas 80 (0,002%) podem ter causas naturais relacionadas. A estimativa é do Lasa.
Osmar Pinto Junior, coordenador do Elat (grupo de eletricidade atmosférica, que monitora os raios no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), explica que o número de raios que caíram desde maio é muito baixo comparado à alta temporada para os fenômenos no céu. Fora isso, o fogo que eles produzem têm proporção pequena. O instituto ainda trabalha para medir o percentual precisamente.
Entre janeiro e julho, caíram 10,6 milhões de raios apenas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, segundo o Elat.
Quando pensadas possíveis queimas espontâneas a partir da fricção de rochas em deslizamentos ou refração do sol em cristais, por exemplo, a conclusão é que são ocorrências muito raras, explica também a matéria. O mesmo vale para focos iniciados por garrafas de vidro, latas de metal e outros lixos expostos ao sol com potencial de produzir fogo.
"O quão multiplicável é isso para gerar o que a gente está vendo? Seria muito improvável que acontecesse em vários lugares ao mesmo tempo", disse ao jornal paulistano a Diretora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar.
Renata e Osmar destacam ainda que incêndios de enormes extensões e que se alastram descontroladamente, como os registrados neste ano, indicam conhecimento da dinâmica do fogo pelo autor. Isso pode ser indício de uso criminoso do fogo, como um dos constatados no Pantanal de Corumbá (MS) pela Operação Prometeu, da Polícia Federal.
Setembro - Na atual temporada, o Brasil entra na transição para o período chuvoso. A época aumenta a incidência de raios enquanto a vegetação ainda está seca. Sendo assim, é possível algum crescimento na contribuição das descargas elétricas, mas ainda pequeno.
"Esse número de raios vai aumentar em cinco vezes, a quantidade de incêndios produzido por raios pode subir para 5% ou até 10%, dependendo do local", estima Osmar.
Situação em MS - A semana quente e seca em Mato Grosso do Sul continua com, pelo menos, sete focos de incêndio ativos e em combate pelo Corpo de Bombeiros e Força Nacional. O Ministério do Meio Ambiente ainda não divulgou o último boletim sobre a situação contendo dados também do trabalho de brigadistas do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis).
Até ontem (24) à noite, estavam em chamas áreas florestais em Aquidauana, Aparecida do Taboado, Cassilândia, Corumbá, Coxim, Inocência e Naviraí.
Nesta semana, o Estado recebeu reforço de 10 bombeiros do Rio Grande do Sul para ajudar no combate ao fogo.