Agência Brasil/LD
Um áudio do cardiologista Fábio Jatene, diretor do serviço de cirurgia torácica do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas, apresenta um cenário dramático para a disseminação do coronavírus no país.
Na gravação, cuja veracidade foi confirmada pelo médico à reportagem, ele relata sobre uma reunião que teve com alguns dos mais renomados médicos de São Paulo. O áudio, segundo Jatene, foi enviado apenas a seus colegas, mas vazou e foi disseminado por aplicativos de mensagem.
Os médicos na reunião estimaram que em quatro meses haverá 45 mil pessoas com coronavírus só na Grande São Paulo. A previsão é que 11 mil delas vão necessitar de UTIs (que não existem nessa quantidade).
Segundo a reportagem apurou, por ora as autoridades médicas do governo de São Paulo estimam que serão necessários cerca de 5.000 leitos de UTI, embora a amplitude da estimativa vá de 2.500 a 9.000 leitos, apenas na Grande São Paulo. Ainda não há elementos no Brasil para estimar o número de casos que necessitem de acompanhamento intensivo.
Segundo essas estimativas preliminares, o pico do número de novos casos ocorreria daqui a um mês nessas estimativas preliminares.
No estado de São Paulo, o número de casos poderia ir de 80 mil a 100 mil. No entanto, segundo pessoas envolvidas nos preparativos para enfrentar a doença no governo do estado, pouco se sabe sobre as características da epidemia em São Paulo ou no Brasil. Será preciso levar em conta, por exemplo, as medidas de contenção (no caso, paralisação de atividades que envolvam aglomerações e transporte de massa) e a adaptação do vírus ao clima (se será mais ou menos perigoso em ambiente com temperaturas mais elevadas).
O Hospital das Clínicas de SP já teria reservado 75 leitos de UTI destinados às vítimas do coronavírus. Participaram da reunião científica, entre outros médicos, Davi Uip (infectologista), Esper Cavalheiro (neurologista) e Marcelo Amato (intensivista, especializado em UTIs).
Segundo o relato de Jatene, Uip disse que os casos devem explodir no país a partir de agora e os mais vulneráveis e que devem ter foco máximo de atenção são os idosos. A taxa de mortalidade entre eles chega a 18%, enquanto entre os jovens é de 0,2%.
Segundo os médicos, o cenário é de muita preocupação. Eles preveem também que em quatro meses o pico da doença deverá passar.
Nos próximos 15 dias será mais claro como a doença vai afetar o Brasil, se o país seguirá o modelo da França ou da Itália. Ambos tinham cerca de 12 casos confirmados em 21 de fevereiro. Em 10 de março, a Itália tinha mais de 10 mil e a França cerca de 1.700. O Brasil, por ora, está no ritmo da França.