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Quando fazia campanha pela presidência dos EUA, Donald Trump se gabava do tino para os negócios e prometia arregimentar executivos de renome que o ajudariam a reativar a economia americana.
O bilionário se comprometeu em insistir pessoalmente para que eles mantivessem empregos nos EUA.
Esses líderes de empresas agora o abandonam, humilhando um governante que não escondia o prazer em convocar titãs corporativos a comparecer à Casa Branca e pressioná-los a aceitar suas ideias.
Após comentários que pareciam dar legitimidade a movimentos de supremacia racial, Trump enfrenta o êxodo em massa dos executivos que cortejava e um repúdio em praça pública que ameaça todas as propostas de governo dele — do regime tributário ao comércio internacional.
Na quarta-feira, Trump anunciou que está desmontando dois grupos de conselheiros formados por líderes empresariais dos EUA, após a saída de muitos deles nesta semana.
Vários se preparavam para se juntar à debandada após o presidente comentar que algumas “pessoas ótimas” estavam entre os neonazistas que participaram de uma manifestação em Charlottesville que acabou em violência no fim de semana.
Os últimos acontecimentos ameaçam manchar a reputação de Trump como presidente do mundo dos negócios, abalando o pilar de seu apelo político e enfraquecendo a aliança entre o Partido Republicano e os interesses do setor privado.
O estrago político aumenta os riscos que o partido corre nas eleições locais de 2018.
Os executivos agora fazem um cálculo pragmático, avaliando que a marca do presidente republicano se tornou nociva, disse Carlos Gutierrez, presidente do conselho da Albright Stonebridge Group, firma de assessoria em estratégia corporativa em Washington. Marca tóxica
“Há sempre o risco de os líderes das companhias se recusarem a ter suas marcas associadas às iniciativas do governo, o que é extremamente perigoso para a agenda do presidente”, disse Gutierrez, que foi secretário do Comércio durante o mandato de George W. Bush.
“O presidente precisa da comunidade empresarial, mas a comunidade empresarial prefere estar fora da Casa Branca.”
Trump iniciou o mandato destacando seus relacionamentos com magnatas do setor privado, regularmente trazendo repórteres e câmeras de televisão para documentar a posição dele na cabeceira da mesa.
Tanto o Conselho Americano de Manufatura quanto o Fórum Estratégico e de Políticas — desmantelados na quarta-feira — foram promovidos aos quatro ventos nos primeiros dias da presidência dele, quando a Casa Branca se esforçava para mostrar seu foco na expansão da economia.
Líderes empresariais eram frequentemente fotografados ao lado do presidente no Salão Oval, em cerimônias de assinatura de novas leis e ordens. “Sai caro demais”
O Partido Republicano ocupa a Casa Branca e tem maioria na Câmara de Deputados e no Senado. A Casa Branca contextualizava as visitas constantes de executivos como evidências de que a agenda de Trump para impulsionar a atividade econômica estava a todo vapor.
Porém, com as dificuldades do Congresso para aprovar legislação da era Trump, o caos que rodeia a Casa Branca prejudica ainda mais a imagem dos republicanos aos olhos de uma comunidade empresarial avessa a riscos, de acordo com especialistas e estrategistas.
Graham Wilson, professor da Universidade de Boston que estuda a intersecção entre negócios e política, afirma que o alcance e a profundidade dos sentimentos de rejeição aos comentários de Trump são grandes demais para serem ignorados pelos executivos.
“Estar ao lado de Trump neste momento, após os comentários bizarros dele, simplesmente sai caro demais para as corporações”, avalia Wilson.
“Esse sinal da América Corporativa também poderá ter impacto mais amplo sobre a opinião pública e sobre a lealdade de republicanos tradicionais a Trump.”
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Bloomberg.