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Mundo
14/07/2012 11:33:12
Em tempos de legalização, delegacia e "loja da maconha" são vizinhas no Uruguai
No balneário uruguaio de La Pedrera (228 km de Montevidéu), a delegacia de polícia local convive com uma loja vizinha que já virou ponto turístico por vender acessórios para o consumo da maconha e até camisetas com mensagens sobre o consumo da droga.

BBCBrasil/LD

\n \n No balneário uruguaio de La Pedrera (228 km de Montevidéu), a delegacia de polícia\n local convive com uma loja vizinha que já virou ponto turístico por vender\n acessórios para o consumo da maconha e até camisetas com mensagens sobre o\n consumo da droga.\n \n Com uma folha de cannabis como logotipo, a Yuyo Brothers (algo\n como Erva Brothers) funciona desde 2002.\n \n Hoje ela é um ícone da postura liberal de parte da sociedade\n uruguaia. Cidadãos que o presidente José Mujica tenta agradar com uma proposta\n para legalizar a maconha e tornar a sua produção e comercialização atribuições\n do Estado.\n \n A Yugo Brothers já foi revistada durante uma operação policial. Os\n agentes da lei encontraram apenas papéis para enrolar cigarros,\n "pipes" - cachimbos típicos dos usuários do entorpecente - e uma\n grande diversidade de roupas com as mais diversas mensagens de apreço à\n maconha. Porém, a droga não foi encontrada no local e por isso nada aconteceu.\n \n "Não existe o delito de apologia (ao crime) aqui (no\n Uruguai), nem se criminaliza o consumo. Assim que não podemos ser enquadrados\n em nenhuma lei", disse Juan Tubino, de 35 anos, um dos proprietários do\n estabelecimento.\n \n Debate\n \n No Uruguai, consumir maconha não é crime, mas comercializá-la\n ainda é. Projetos de lei que tramitam no Congresso tentam descriminalizar\n também o plantio do tóxico.\n \n Contudo, a proposta de Mujica para tornar a legislação do país\n ainda mais liberal começa a perder apoio no país.\n \n Uma pesquisa divulgada pela consultora Cifra nesta semana indica\n que 66% dos uruguaios são contra a legalização da maconha.\n \n O resultado foi publicado pouco depois de o presidente relativizar\n sua proposta inicial dizendo que só a levaria adiante se "pelo menos 60%\n da população" a apoiasse.\n \n Entre os consultados, 24% disseram estar a favor da legalização do\n comércio da droga e 10% não quiseram opinar. A margem de erro máxima é de três\n pontos porcentuais.\n \n O projeto de Mujica ainda não foi apresentado formalmente ao\n Congresso.\n \n Para a semana que vem, o governo espera a visita de uma delegação\n da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), a quem\n informará sobre a proposta.\n \n A ONU havia considerado o projeto presidencial uma\n "violação" à Convenção das Nações Unidas sobre Drogas, que adota a\n política da "guerra às drogas".\n \n De acordo com o secretário da Presidência, Alberto Breccia, estão\n sendo estudadas "em profundidade" legislações como a holandesa. O\n objetivo seria saber "de que modo esses países chegaram a soluções que não\n violam tratados internacionais aos que também aderem".\n \n Filial\n \n A Yuyo Brothers prosperou e já abriu uma filial na capital,\n Montevidéo.\n \n "Desenhamos, confeccionamos e vendemos roupas. Aos poucos\n fomos importando materiais para consumo de maconha. Há outras lojas no Uruguai,\n mas creio que nós somos os que tratam mais explicitamente o que vendemos",\n disse Tubino.\n \n A filial não perde para sua sede praiana: está situada a um\n quarteirão de distância da sede da polícia da capital. "Pura\n coincidência", diz o proprietário, entre risos.\n \n Ele afimou que o projeto presidencial não o convence - "É\n necessário tomá-lo com cautela", afirmou.\n \n Tubino disse acreditar mais em um projeto mais antigo que visa a\n legalizar o plantio da droga.\n \n "É mais produtivo, possibilita a existência de lojas e, além\n disso, vai ocupar o tempo de muita gente, vai gerar trabalho. Seria um produto\n agrícola a mais."\n \n Se o projeto for aprovado, ele pretende plantar cannabis.\n "Dois holandeses já me visitaram, querendo me vender sementes e tudo o\n mais."\n \n Propostas\n \n Enquanto Mujica debate sua proposta, tramitam no Congresso dois\n outros projetos, mais antigos, que descriminalizam o cultivo da maconha para\n uso próprio.\n \n Um é de Luis Lacalle Pou, deputado do opositor Partido Blanco, e\n outro de Sebastián Sabini e Nicolás Núñez, deputados da coalizão governista\n Frente Ampla.\n \n Essa normativa - que conta com apoio de parlamentares de outros\n partidos da oposição, como o Colorado - teve origem na preocupação em se\n estabelecerem parâmetros equânimes no tratamento da questão, segundo afirmou\n Sabini à BBC Brasil.\n \n Segundo ele, as penas aplicadas para pessoas flagradas comprando a\n droga ou a cultivando em casa dependem da origem social do suspeito e de suas\n possibilidades de pagar um advogado.\n \n "Por isso se criam injustiças, se termina punindo jovens que\n são consumidores, e não traficantes."\n \n Sabini afirmou que seu projeto pode terminar com a\n "insegurança jurídica" dos consumidores.\n \n Em linhas gerais, a proposta estabelece a quantidade de cannabis\n que pode ser plantada para consumo próprio e também o quanto de maconha pode\n ser transportado na via pública.\n \n A quantidade estabelecida (de oito plantas) é a considerada a\n habitual para fins de consumo pessoal. Segundo a proposta, estarão livres de\n punição o plantio o cultivo e a colheita dos frutos da planta. Para o\n transporte na rua a quantidade a ser liberada será de 25 gramas por pessoa.\n \n "O objetivo do projeto é também reduzir o narcotráfico em\n escala internacional, já que será muito simples produzir maconha dentro de casa\n ou em um clube de consumidores, e essa maconha não terá em sua origem o mercado\n negro com todas as suas consequências negativas", diz Sabini.\n \n \n \n \n