Mundo
27/11/2012 09:00:00
Mulher conta como luta contra depressão sete anos após 1º transplante de rosto
Na entrevista à BBC ela parece relaxada e autoconfiante, mas sua experiência traumática deixou suas marcas, físicas e mentais.
R7/LD
\n \n Ao se olhar\n no espelho, o que a francesa Isabelle Dinoire, 45 anos e mãe de dois\n filhos,nbsp;vê é uma mistura de duas pessoas ela própria e a mulher cujo\n rosto recebeu no primeiro transplante facial da história, há sete anos.\n \n O mais\n difícil é me encontrar outra vez, como a pessoa que eu era, com a face que eu\n tinha antes do acidente. Mas eu sei que isso não é possível.nbsp;A doadora\n está sempre comigo.\n \n Após um\n momento ela complementa: "Ela salvou minha vida".\n \n Dinoire\n regularmente recusa pedidos da mídia por entrevistas e raramente concorda em\n ser fotografada. Na entrevista à BBC ela parece relaxada e autoconfiante, mas\n sua experiência traumática deixou suas marcas, físicas e mentais.\n \n Ela ainda\n tem uma cicatriz visível que passa por cima de seu nariz e sob o queixo, onde\n os médicos especialistas do Hospital Universitário de Amiens, no norte da\n França, passaram 15 horas costurando o rosto da doadora ao seu. Um de seus\n olhos ainda parece levemente caído.\n \n Poça de sangue \n \n Falando com\n um pouco de dificuldade e com uma simplicidade quase alarmante ela conta como,\n em uma crise de depressão em maio de 2005, tomou uma overdose de pílulas para\n dormir em uma tentativa de suicídio.\n \n Ela acordou\n ao lado de uma poça de sangue, com seu cão labrador ao seu lado. O cachorro\n aparentemente encontrou-a inconsciente e, desesperado para acordá-la, arrancou\n um pedaço de seu rosto.\n \n Não podia\n nem começar a imaginar que era minha cara ou meu sangue ou que o cachorro\n havia mastigado meu rosto.\n \n Os\n ferimentos em sua boca, seu nariz e seu queixo eram tão graves que os médicos\n imediatamente descartaram uma reconstrução facial de rotina. Em vez disso, eles\n propuseram um pioneiro transplante de face.\n \n Desde a\n primeira vez que eu me vi no espelho após a operação sabia que era uma vitória.\n Eu não parecia bem por causa de todos os curativos, mas tinha um nariz, tinha\n uma boca era fantástico. Eu podia ver nos olhos das enfermeiras que tinha\n sido um sucesso.\n \n Incapaz de\n falar direito por causa da traqueostomia feita para a operação, tudo o que ela\n podia murmurar era um simples "obrigado".\n \n Olhares curiosos \n \n A felicidade\n de Dinoire ao ver sua nova face, porém, rapidamente azedou. Ela estava\n completamente despreparada para a atenção que o caso atraiu para ela.\n \n Perseguida\n pela mídia, acossada por gente na rua e por olhares curiosos, Dinoire passou\n meses após a operação escondida em sua casa, sem se aventurar do lado de fora.\n \n Foi\n penoso. Eu vivo em uma cidade pequena, então todo mundo sabia da minha\n história. Não foi fácil no começo. As crianças riam de mim e todos diziam:\n "Olha, é ela, é ela".\n \n Ela diz ter\n se sentido como "um animal de circo".nbsp;Dinoire passou um tempo\n reclusa após o transplante por temor à atenção recebida da mídia.nbsp;Hoje em\n dia, as pessoas ainda a reconhecem na rua, mas a atenção não é "tão\n brutal" como antes, ela diz.\n \n Com o tempo\n eu me acostumei à minha própria cara. É assim que eu me pareço, como eu sou. Se\n as pessoas me olham com insistência, eu não ligo mais, só fico olhando de\n volta.\n \n Riscos e benefícios \n \n Mas será que\n sua personalidade mudou também com sua aparência exterior? "Não", ela\n responde rapidamente.\n \n Eu ainda\n sou a mesma, só com uma face diferente.\n \n De acordo\n com a professora Sylvie Testelin, uma das médicas que operou Dinoire em Amiens,\n nem todos os pacientes com ferimentos faciais graves podem receber um\n transplante.\n \n Em 2005,\n ninguém estava realmente seguro sobre os efeitos de longo prazo em pacientes\n que tomavam coquetéis de drogas para o resto de suas vidas para prevenir a\n rejeição do novo tecido pelo corpo.\n \n Mas no caso\n de Dinoire e de duas outras pessoas na França que passaram com sucesso por\n transplantes de face desde então - os benefícios de longe superam os riscos.\n \n Ninguém\n pode imaginar o que é viver sem um rosto. Ela (Dinoire) pode. Mas precisamos\n garantir que é a opção correta para o paciente.\n \n Em todo o mundo,\n já houve cerca de uma dezena de operações do tipo com sucesso nos Estados\n Unidos, na Espanha, na Turquia e na China.\n \n Você não\n pode imaginar o número de pessoas que querem transplantes, mas não é um jogo ou\n uma corrida para fazer mais e mais.\n \n Segundo\n Testelin, um dia Dinoite poderá ter que enfrentar a possibilidade de uma\n rejeição da face por seu corpo. Como sua médica, ela também tem que estar\n preparada para isso, mas diz esperar que isso nunca ocorra.\n \n Dinoire é\n mais serena sobre seu futuro.\n \n Eu digo a\n mim mesma que tudo vai ficar bem. Se eu tomar meus remédios, tudo vai ficar\n bem.\n \n Doação mágica \n \n Ela passa\n seus dias visitando alguns poucos amigos próximos e passeando com seu novo cão\n de estimação - ela ficou arrasada quando o labrador que ela tinha em 2005 teve\n que ser sacrificado.\n \n Ainda\n sujeita a crises de depressão, ela diz pensar constantemente sobre a mulher\n morta cuja face recebeu. Logo após a operação, ela se via surfando na internet\n à procura de detalhes sobre a doadora anônima - cuja identidade deverá ficar\n protegida, de acordo com as leis francesas.\n \n Quando me\n sinto para baixo, ou deprimida, eu me olho no espelho outra vez e penso nela. E\n digo a mim mesma que não posso desistir. Ela me dá esperança.\n \n Dinoire diz\n que gostaria até mesmo de um dia poder encontrar a família da doadora, para\n agradecê-los pelo que descreve como sua "doação mágica".\n \n \n \n \n