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Joe Biden afirmou ontem, em primeiro discurso após derrotar Donald Trump e ser eleito o 46º presidente dos Estados Unidos, que o seu governo terá como objetivo unir o país em um momento tão difícil e polarizado. Em palanque montado na cidade de Wilmington, no estado de Delaware, o democrata disse ainda que vai se apoiar na ciência e na compaixão para enfrentar os obstáculos que vêm pela frente, além de governar para todos os americanos.
"O povo desta nação falou. Nos deu uma vitória clara, convincente. Uma vitória para nós, o povo. Ganhamos com o maior número de votos na história do país: 74 milhões. Mas o que mais me surpreende, pelo país e pelo mundo, é a alegria e a esperança que amanhã vai trazer um novo dia. Prometo ser um presidente que não divide, mas que une. Que não vê estados azuis ou vermelhos [referência às cores dos partidos Democrata e Republicano]. Mas que vê os Estados Unidos", disse. Relacionadas Donald Trump volta a se declarar vencedor das eleições nos EUA Em dia de vitória de Biden, Bolsonaro ignora EUA e faz propaganda política Biden deve manter maioria na Câmara; Senado segue indefinido
Falando sobre o medo do coronavírus, cujos números cresceram nas últimas semanas no país, Biden disse que semana que vem já vai nomear uma equipe especificamente para cuidar da pandemia a partir de janeiro, quando a chapa Biden-Harris começar o mandato.
"Na segunda, vou montar uma equipe de cientistas e especialistas [para começar a transição]. Vamos construir um plano baseado na ciência e da compaixão. Não economizarei comprometimento. Sou um democrata orgulhoso, mas vou governar como presidente americano. Trabalharei duro por aqueles que votaram e os que não votaram em mim", sinalizando uma moderação oposta ao radicalismo de Trump.
No discurso que durou 15 minutos, logo após a vice-presidente Kamala Harris celebrar a força feminina e que começou com Biden subindo ao palco ao som de "We Take Care of Our Own", de Bruce Springsteen, o novo presidente pregou a cooperação entre todas as pessoas, independentemente de raça, gênero, preferência política, classe social e orientação sexual. "Nós estamos em um ponto importante. Podemos construir uma nação de prosperidade. Eu acredito. Faz tempo que falo sobre isso: precisamos restaurar a alma dos Estados Unidos", completou.
"Que essa demonização nos EUA comece a acabar aqui e agora. Não é preciso uma força misteriosa, fora de controle, para levar democratas e republicanos a cooperaram. É uma decisão. Se decidimos não cooperar, então podemos decidir cooperar", disse Biden
O novo presidente agradeceu o apoio que recebeu da comunidade negra, principalmente após o movimento antirracista Black Lives Matter, e afirmou que vai lutar para tentar acabar com o racismo no país. Por fim, ele mandou um recado para os eleitores de Trump, ainda na proposta conciliadora para os Estados Unidos.
"Para todos que votaram em Trump, eu entendo a sua lamentação, já estive do outro lado [dos que perderam]. Mas nos dê agora uma chance. É hora de colocar as diferenças de lado, de ouvir de novo e, para ter progresso, temos que parar de tratar nossos oponentes como inimigos. Eles não são inimigos, são americanos."
Kamala Harris: 1º vice mulher, mas não a última
Antes de Biden, a vice-presidente eleita Kamala Harris destacou em discurso poderoso que é a primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos, mas que não será a última.
Em tom inspirador e otimista, ela, mulher negra de ascendência jamaicana e indiana, afirmou que as eleições deixaram uma clara mensagem:
Toda pequena criança assistindo vê que esse é um país de oportunidades. Sonhe e se veja como nunca te viram antes.
E ela prosseguiu: "Para os americanos, não importa em quem você votou. Eu serei uma vice leal, preparada e que pensa em você todo dia. É agora que o trabalho começa".
Vitória com mais de 270 delegados
Biden derrotou o atual presidente Donald Trump no início da tarde de hoje após vitória no estado da Pensilvânia, que lhe rendeu 273 delegados — três a mais do que o necessário para ganhar o pleito.
A vitória de Biden foi declarada pelas redes CNN e Fox News, pelos jornais The New York Times, e The Washington Post, entre outros veículos, após mais de três dias de indefinição dos resultados.
Até o momento, Biden soma 279 delegados após o New York Times também projetar a vitória do democrata no estado de Nevada. Os estados cujo resultado ainda está indefinido são Carolina do Norte, Arizona, Alasca e Geórgia.
O resultado oficial pode demorar ainda mais para ser conhecido, e a expectativa é de que haja uma batalha judicial no país.
Trump cita fraude, mas não apresenta provas
Pelo menos quatro estados seguem indefinidos, mas, pelas regras eleitorais, um candidato precisa de no mínimo 270 delegados para ser eleito. Os Estados Unidos não têm um órgão oficial que divulga, em tempo real, os resultados das urnas, como o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no Brasil.
Por isso, as projeções da imprensa são relevantes na divulgação da conquista dos delegados. Sem apresentar provas, Trump tem falado em "fraude" nas eleições. Ele já recorreu à Suprema Corte para pedir a suspensão da contagem dos votos em diferentes estados.
Em um comunicado que veio a público na tarde de hoje, Trump se recusou a aceitar a vitória de Biden e prometeu tomar medidas legais para questionar o resultado da disputa.