Agência Brasil/LD
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, faz nesta terça-feira (7) visita de Estado a Brasília – a primeira desde a sua posse, há 14 meses. O objetivo é reforçar a relação com o Brasil, principal parceiro argentino na região, no momento em que os dois países querem eliminar barreiras comerciais e conquistar terceiros mercados e que os Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, ameaçam adotar uma politica mais protecionista.
“O encontro dos presidentes Mauricio Macri e Michel Temer abre novas possibilidades, já que pela primeira vez em muito tempo a Argentina e o Brasil estão sintonizados em termos de politica monetária, cambial e comercial”, disse à Agência Brasil o economista Dante Sica, da consultora Abeceb. Ele lembra que, apesar de os dois países serem os principais sócios do Mercosul (mercado comum integrado também pelo Paraguai, o Uruguai e a Venezuela), o intercâmbio comercial em 2016, de US$ 22,5 bilhões, foi o mais baixo dos últimos dez anos. “Nas duas últimas décadas, a agenda do Mercosul foi repetitiva e os interesses brasileiros e argentinos muitas vezes estavam cruzados, com cada país tentando administrar sua própria crise”, acrescentou Sica.
Em abril de 2013, a ex-presidenta Dilma Rousseff visitou Cristina Kirchner em Buenos Aires. Macri viajou a Brasília para se encontrar com Dilma duas semanas após a vitória nas eleições presidenciais, que marcaram o fim de 12 anos de governos kirchneristas, de Nestor Kirchner (2003-2007) e de sua mulher e sucessora, Cristina Kirchner (2007-2015). Dilma compareceu à posse de Macri, em dezembro de 2015, mas foi afastada do cargo oito meses depois, encerrando 13 anos de governos petistas. Seu sucessor, Michel Temer, viajou a Buenos Aires em outubro do ano passado, para se encontrar com Macri – mas foi uma visita de trabalho.
Apesar das incertezas politicas no Brasil, abalado pelas investigações da Lava Jato, diplomatas brasileiros e argentinos concordam que o diálogo entre os governos dos dois países está "mais fluido" que no passado recente e que existe boa vontade, de ambas as partes, de "ouvir" sugestões para superar os problemas. “Existe uma sintonia porque tanto o Brasil quanto a Argentina adotaram câmbio flexível, estabeleceram metas inflacionárias e defendem negociações para integrar o Mercosul a terceiros mercados”, disse Dante Sica.
A Argentina ocupa a presidência rotativa do Mercosul neste primeiro semestre e depois passará o cargo ao Brasil. Um dos temas do encontro entre Macri e Temer é a adoção de normas técnicas comuns (como as sanitárias e fitossanitárias) para reativar o bloco econômico e facilitar as negociações com terceiros mercados, como a União Europeia.
Nos encontros entre as delegações dos dois países também serão discutidos problemas bilaterais, como o déficit argentino de US$ 4,3 bilhoes na balança comercial, que preocupa Macri. O empresário foi eleito presidente com a promessa de reduzir a inflação (que, em 2016, atingiu 40%) e a pobreza (que afeta um terço dos argentinos), além de atrair novos investimentos. Mas o primeiro ano de governo dele coincidiu com a recessão no Brasil e, agora, com a eleição de Donald Trump, que prometeu rever os acordos de integração comercial dos Estados Unidos. Neste ano, Macri (que está com 45% de aprovação), ainda enfrenta eleições legislativas e o desafio de conquistar maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, onde hoje tem minoria.
O Brasil, por sua vez, quer incluir a entrada do açúcar na união aduaneira – uma proposta a que a Argentina resistiu nos últimos 20 anos e que agora pode ser revista. Os argentinos produzem açúcar no Norte do pais e mantinham seu mercado fechado às importações do Brasil, alegando que os produtores brasileiros recebiam incentivos do governo.
Outra questão que preocupa o Brasil é a nova lei argentina que incentiva a indústria automobilística a comprar autopeças produzidas no país. Os fabricantes de veículos na Argentina que tenham, no mínimo, 30% de conteúdo nacional, serão beneficiados por uma redução de impostos. O Brasil quer que suas autopeças sejam consideradas “nacionais” pelos argentinos.
Para Macri, a relação com o Brasil é fundamental: 40% das exportações industriais argentinas são destinadas ao mercado brasileiro. E o Brasil tem um estoque de investimento de US$ 12 bilhões na Argentina. Tanto Macri quanto Temer estão apostando na retomada do crescimento econômico nos dois países e no fim da recessão.