ANSA/PCS
A Venezuela virou notícia no mundo inteiro ontem (23), quando o deputado opositor Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional da Venezuela, autoproclamou-se novo presidente do país. O ponto principal é que o atual presidente, Nicolás Maduro, não renunciou ao cargo e nem deu sinais de que pretende abandonar o país.
A situação cria um imbróglio político e faz a Venezuela ter "dois presidentes" ao mesmo tempo. O fato, porém, não é inédito.
O exemplo mais claro de um país com dois presidentes é o da Líbia, do norte da África, que enfrenta essa situação há anos, como resultado do vácuo político criado com a queda do ditador Muammar Kadafi, em 2011. Dois grupos políticos reivindicam ser o legítimo governo da Líbia: um na cidade de Trípoli (oficialmente a capital do país) e outro em Tobruk (cidade no nordeste).
Fayez Al-Sarraj é o primeiro-ministro do governo da Líbia com sede em Trípoli, apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelos Estados Unidos.
Já Khalifa Haftar é um general que comanda o Exército Nacional Líbio, próximo ao governo de Tobruk. Tem apoio da França, do Egito e dos Emirados Árabes. Por fim, Omar Al-Hassi é um autoproclamado primeiro-ministro da Líbia.
Nenhum dos líderes líbios quer deixar o poder, o que provoca uma crise política. Para solucionar a situação, a comunidade internacional pressiona para que sejam convocadas novas eleições livres, a fim de estabelecer um governo com legitimidade nacional.
Na Venezuela, neste momento, também existem dois presidentes: Nicolás Maduro, que tomou posse em 10 de janeiro para seu segundo mandato de seis anos, apesar de sua eleição não ser reconhecida por vários países; e Juan Guaidó, deputado que se autoproclamou presidente devido à falta de apoio popular e internacional a Maduro.
Países como Estados Unidos, Brasil, Argentina, Chile, União Europeia e Canadá reconhecem Guaidó como presidente, enquanto Bolívia, Turquia, China, Rússia e México permanecem ao lado de Maduro.
As Nações Unidas fizeram um apelo para que Guaidó e Maduro evitem a violência e o aumento dos confrontos na Venezuela, mas a situação só deve se resolver se um dos dois desistir do cargo.
Maduro pode permanecer na Presidência, com o apoio do Exército, elevando a tensão política, ou renunciar e buscar o exílio, permitindo que Guaidó convoque novas eleições. Como a comunidade internacional também está dividida em relação à crise venezuelana, ainda há o risco de tensões entre grandes potências, como EUA, Rússia e China.
A Venezuela entrou nesta quinta-feira (24) no terceiro dia consecutivo de protestos e já acumula 14 mortos e 218 prisões. O país vive uma grave crise sócia, política e econômica, com milhares de venezuelanos vivendo na miséria e passando fome devido à escassez de alimentos e suprimentos.