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Polícia
22/09/2023 08:53:00
“Ali era o meu fim”, acreditava mulher mantida em cárcere por 30 dias

CGN/LD

Tentando recomeçar a vida em uma nova cidade junto dos filhos de 1 e 3 anos, vendedora de 20 anos contou como foi viver quase 30 dias presa dentro de casa e sofrendo violência doméstica e psicológica. O caso aconteceu na madrugada do último domingo (17) em Nova Andradina.

O relacionamento de três anos gerou um filho para o casal. A jovem já tinha uma menina de 1 ano quando começou a se relacionar com o agressor. “Depois que meu filho nasceu, ele começou a ficar agressivo e sentir ciúmes de relacionamento que tive no passado. Quando ele me agrediu a primeira vez, eu denunciei e ele ficou preso um tempo, quando saiu começou a me procurar jurando que tinha mudado e que seria uma pessoa melhor, que queria a família de volta” contou.

“Ficamos alguns meses separados, mas acabei cedendo e acreditando que ele tinha mesmo mudado e que aquilo [as agressões] não iria acontecer de novo. Meu pior erro foi acreditar.”

A jovem contou ao Campo Grande News que começou a perceber que aos poucos estava ficando presa. “Ele saía e me deixava trancada, falava que foi sem querer, isso aconteceu algumas vezes. Teve vezes que ele saiu e levou a televisão para as crianças não assistirem, fiquei trancada dentro de casa com eles, nessa época ainda eu ficava com o celular e conseguia questionar ele por mensagem”.

“Ele me fazia acreditar que se eu denunciasse, quando a polícia chegasse, ele iria me matar antes que me socorresse, eu ficava apavorada com isso. Depois de um tempo ele deixou claro que eu estava presa, tomou meu celular de vez, só dava às vezes, para ligar para a minha mãe, com ele do lado, postava fotos antigas minhas nos meus stories e respondia alguns amigos, tudo para parecer normal”, relembrou emocionada.

Questionada quando foi a última vez que ela saiu antes de ficar trancada em casa, a jovem contou que foi quando o filho se machucou, o pequeno havia caído da cadeira e machucado o nariz, ela pediu muito para o marido autorizar ela sair para levar a criança no hospital. “Ele deixou, mas ficou com a minha filha em casa, só os dois sozinhos, isso foi uma forma de eu não falar o que estava acontecendo (as agressões e o cárcere dia sim, dia não) e voltar para casa, nisso ele entregou o meu celular só para eu avisar ele de como o nosso filho estava”, contou.

Ainda abalada com tudo que aconteceu, a jovem contou que no dia em que pediu ajuda ela já não aguentava mais. “Ele pegou minha filha pelo pescoço e jogou em cima da cama, eu fiquei desesperada com aquilo, vasculhei a casa toda para ver se eu conseguia achar as chaves, mas acabei encontrando o meu celular escondido atrás do espelho, consegui postar um pedido de socorro e aproveitei que ele não estava em casa e chamei a polícia”, diz.

“Enquanto eu fiquei presa em casa, ele me ameaçava direto, falava que ia matar minha família, que preferia me matar e morrer em seguida do que ficar preso. Falava que se eu o denunciasse de alguma forma a hora que a polícia chegasse aqui, antes deles entrar, ele já teria matado eu e as crianças. Então quando eu chamei a polícia eu criei uma força e tive uma coragem que nem eu sei explicar porque só passava esses tipos de ameaça na minha cabeça”, completou.

Na quinta-feira (21), quatro dias após tudo que aconteceu, a jovem contou que só se imaginava morta, mas que hoje sabe que tudo que ele falava era mentira e que se sente uma mulher forte.

“Eu só conseguia imaginar que ali era o meu fim, não tinha mais o que eu fazer, não tinha para onde eu ir. E ele fazia questão de dizer que ninguém me amava, que a minha família não gostava de mim, que eu não sabia ser mãe. Mas hoje, eu sei que tudo isso era mentira, que sou uma mulher forte e que tenho uma família incrível e que meus filhos me amam”, finalizou.

O autor, de 39 anos, foi preso em flagrante e recentemente transferido para um presídio. O caso continua em investigação na Polícia Civil da cidade, a vítima e a família dela estão com medida protetiva.