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Polícia
06/10/2021 16:57:00
Baixa procura por imunização cria 'estoque de vacina' e 15 cidades de MS recusam novas doses

Luma Danielle Centurion

O ritmo de vacinação contra covid desacelerou em Mato Grosso do Sul e os municípios começam a ficar com os estoques cheios de doses do imunizante: conforme o sistema e-vacinas, MS tem 325.636 doses paradas nas geladeiras. Esta semana, o Estado recebeu mais 106.500 doses de imunizantes e 15 municípios informaram que não precisam receber mais doses, pois possuem grande quantidade em estoque.

As cidades que informaram possuir estoque suficiente para continuar ofertando vacina são: Anaurilândia, Aquidauana, Aral Moreira, Paraíso das Águas, Paranhos, Pedro Gomes, Porto Murtinho, Terenos, Tacuru, Coronel Sapucaia, Japorã, Miranda, Rio Brilhante, Rochedo, Sidrolândia e Ivinhema. A recusa chama atenção para uma pergunta: por que as vacinas, que antes eram disputadas, agora encalham em freezers nessas cidades?

A resposta mais óbvia está na resistência de parte da população. Prefeitos e gestores da saúde veem dificuldade em convencer essas pessoas a se vacinar. Na última terça-feira (5), o secretário estadual de saúde, Geraldo Resende, atribuiu a desaceleração da vacinação aos 'negacionistas' — como ficaram conhecidos os grupos que ignoram evidências científicas, tais como a eficácia de vacinas, afirmando que essa parcela da população segue ideologias políticas antivacina.

De casa em casa...

Diversos municípios passaram a adotar estratégias diferentes para garantir o aumento da cobertura vacinal contra a covid. É o caso de Rio Brilhante, distante 161 quilômetros de Campo Grande, que tem mais de 6,3 mil doses paradas na geladeira. O município tem o 3º menor índice de aplicação das doses recebidas no Estado. A secretária municipal de saúde, Aline de Oliveira, relata a dificuldade em convencer quem não acredita na vacina e explica a nova estratégia adotada pelo município.

"Estamos tentando fazer a conscientização da importância da vacina, mas tem parte da população que pensa o contrário, elas têm acesso a informações contrárias e formam sua opinião em cima disso. Fica difícil o convencimento. Dentro de famílias tem pessoas que tomaram e outras não, justamente por questões ideológicas, porque viram a opinião dos outros e não acreditam", diz.

A gestora municipal de saúde explica que os vacinadores terão meta de pessoas para vacinar. "A gente vai até a população. Os vacinadores vão às ruas fazer busca ativa nas casas para ampliar a cobertura de 2ª e 3ª dose. Vão pedir a carteirinha de vacinação e disponibilizar a lista de quem tomou 1ª dose e falta a D2, vai ser um trabalho de formiguinha", explicou.

De mãos atadas

A situação é semelhante em Aquidauana, a 148 quilômetros de Campo Grande, que está com mais de 7 mil doses na geladeira e pediu à SES (Secretaria de Estado de Saúde) que não recebesse mais vacinas. O prefeito Odilon Ribeiro (PSDB) também atribui a vacinação emperrada aos negacionistas.

"Não tem mais fila nem falta de vacina, pode até escolher [qual imunizante tomar], mas não querem mais. Uma parte da população não quer tomar de jeito nenhum", lamentou. Conforme o prefeito, o município está de mãos atadas. "Não tem o que fazer, eu respeito a opinião deles, mas agora começa a represar [as doses]", avaliou.

Aplicações em baixa

Os dados do e-vacina mostram que a média diária de vacinação é de 19.710 doses aplicadas. Nos últimos 30 dias, apenas os dias 15 e 22 de setembro apresentaram aplicação superior a 30 mil doses diárias. Na semana passada, por exemplo, o pico ocorreu no dia 28 de setembro, com 25.288 doses aplicadas.

No último domingo, apesar do grande estoque, da necessidade de aplicação da 2ª dose e da dose de reforço em idosos, o Estado aplicou apenas 4.470 doses, um dos menores índices para um único dia dos últimos meses.

Assim, MS perdeu a 1ª posição de Estado com maior percentual de pessoas imunizadas contra covid para São Paulo, que ultrapassou os 58,39% verificados em MS e alcançou 58,45% no início desta semana.

Para o secretário estadual de saúde de MS, furar o bloqueio ideológico de quem não acredita na eficácia da vacina é um processo difícil e demorado. "Somos um estado conservador e chegamos ao limite. Mas, sou daqueles que não desiste, vamos lutar bravamente para ficar nas primeiras colocações", afirmou.