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O ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, irá depor à Polícia Federal nesta quinta-feira 18 após ser preso acusado de participar de um esquema criminoso de falsificação de dados de cartões de vacinação no sistema do Ministério da Saúde.
O auxiliar do ex-capitão é suspeito de organizar e operar as alterações, que incluem os cartões de Bolsonaro e sua filha Laura. O ex-presidente, inclusive, já foi ouvido e negou ter participação na fraude. Segundo disse aos policiais, era Mauro Cid quem tinha suas senhas e cuidava do seu cadastro no sistema. Segundo os investigadores, até o dia 22 daquele mês, a conta era administrada pelo ex-ajudante de ordens. A oitiva do tenente-coronel, portanto, será determinante para sustentar ou não a tese de defesa do ex-presidente. Ele será perguntado se recebeu ou não ordens para operar as falsificações.
Cid terá também que fornecer mais explicações sobre o esquema evidenciado até aqui. As provas – colhidas no seu celular e no sistema fraudado – apontam para uma falsificação realizada em papel, com a ajuda de um médico, e digitalizada posteriormente com o auxílio de servidores da prefeitura de Duque de Caxias. Até o momento, os indícios apontam para a liderança de Cid no esquema. A suspeita é de que ele tenha iniciado o processo para driblar a legislação que restringia a circulação de não-vacinados na pandemia. Ele emitiu cartões para sua esposa e filhas.
Ainda no caso, o militar também deverá explicar aos policiais se usou ou não os documentos falsos nos Estados Unidos. A suspeita é de que a fraude tenha acontecido para que ele pudesse acompanhar Bolsonaro no País sem qualquer restrição. Caso o uso internacional fique comprovado, o caso poderia escalar também para o sistema de Justiça norte-americano. Por lá, a pena para o crime é de 10 anos.
Tentativa de golpe e dinheiro para Michelle Bolsonaro
O depoimento de Mauro Cid, porém, não deve ficar apenas nos questionamentos sobre a fraude nos cartões de vacinação. É esperado que a PF questione o militar sobre o plano de golpe traçado em conversas entre Cid e outros aliados de Bolsonaro. A trama foi encaminhada ao ajudante de ordens por Ailton Barros, ex-major do Exército preso na operação, e há participação de Élcio Franco, coronel que auxiliava Eduardo Pazuello.
Nas mensagens a Cid, os aliados do ex-presidente indicavam uma sequência de atos para fazer com que Lula não assumisse e Bolsonaro ficasse no poder. O plano envolvia a hostilização do STF, das urnas eletrônicas, o convencimento de generais e tropas a romperem com a democracia e até a prisão do ministro Alexandre de Moraes.
O ajudante de ordens de Bolsonaro também será questionado sobre a origem de 35 mil dólares e 16 mil reais em espécie encontrados em sua casa durante a operação da PF que o levou para a prisão. Ele também deverá fornecer explicações sobre as remessas de dinheiro encaminhadas para os Estados Unidos. A revelação de uma fortuna ligada ao militar também é alvo de apurações.
Por fim, os depósitos e pagamentos de conta da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) feitos por Cid usando dinheiro vivo também devem ser alvo de questionamentos da corporação. Sete comprovantes de depósitos para Michelle foram encontrados no celular do militar. Há comprovações de pagamentos de contas de familiares da ex-primeira-dama. A preocupação sobre a prática ser considerada rachadinha – menção feita por Cid em uma das conversas interceptadas – também será questionada neste caso.