CGN/LD
A rede de tráfico de armas baseada no Paraguai e que abastece facções criminosas brasileiras é alvo nesta terça-feira (5) da Operação Dakovo, deflagrada no país vizinho pela Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) e em cidades brasileiras pela Polícia Federal. Apesar de forte atuação do crime organizado na linha internacional, Mato Grosso do Sul não está entre os estados onde mandados são cumpridos hoje pela PF.
O esquema envolve empresários, servidores corruptos da Dimabel (agência de controle de armas do Paraguai) e doleiros, inclusive baseados nos Estados Unidos. O nome da operação faz alusão à cidade de Dakovo, na Croácia, um dos três países do leste europeu que forneciam o armamento (veja o vídeo acima).
Segundo a Senad, a Dakovo é a maior operação contra o tráfico internacional de armas já desencadeada no Paraguai após um ano de investigações envolvendo agentes paraguaios, policiais federais brasileiros e da Seal of the United States Department of Homland Security, dos Estados Unidos.
As armas eram importadas da Europa pela empresa IAS (Internacional Auto Suply), com sede em Asunción. De propriedade do empresário argentino Diego Dirisio e da mulher dele, Julieta Nardi, a empresa era dedicada à importação de veículos, mas em 2012 passou a atuar na importação de armas.
Com apoio de doleiros radicados no Paraguai e no estado de Arkansas (EUA), a empresa usava “laranjas” para simular compra e venda das armas em nome de pessoas físicas. Os pagamentos eram feitos através de depósitos em centenas de contas, sempre em valores baixos, para não chamar atenção dos órgãos fiscalizadores.
No Paraguai, as armas – inclusive fuzis e metralhadoras usadas em guerras – eram adulteradas, para remoção da numeração de série e depois despachadas para facções criminosas brasileiras. Com apoio de servidores da Dimabel, os documentos eram fraudados, para disfarçar a venda a pessoas físicas.
Em território paraguaio, a Senad cumpre 20 mandados de busca nos departamentos Central e Alto Paraná. Segundo a agência paraguaia, o esquema contava com participação de militares de alta patente que integram a Dimabel. A varredura ocorre também em empresas de caça e pesca, usadas como fachada para disfarçar a venda do armamento.
No Brasil – Em território brasileiro, os mandados foram cumpridos no Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Sorocaba (SP), Praia Grande (SP), São Bernardo do Campo (SP), Ponta Grossa (PR), Foz do Iguaçu (PR), Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG).
As investigações começaram na Delegacia da Polícia Federal em Vitória da Conquista (BA) em 2020, quando dois homens foram presos em flagrante com 23 pistolas de origem croata e dois fuzis com indícios de adulteração, além de munições e carregadores. A investigação mostrou que as armas vieram da Europa para o Paraguai, através da IAS.
Conforme o Grupo de Investigações Sensíveis da Polícia Federal na Bahia, a complexa e multimilionária engrenagem foi responsável pela importação de milhares de pistolas, fuzis e munições de vários fabricantes europeus sediados na Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia.
Estimativa aponta que a empresa investigada tenha importado cerca de 43.000 armas para o Paraguai, movimentando em 3 anos cerca de R$ 1,2 bilhão. Neste período foram feitas apreendidas 659 armas em 10 Estados brasileiros: Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Ceará.