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Polícia
08/06/2023 10:12:00
Quadrilhas usam Coxim como porta de saída para cocaína ser distribuída no País
Fazenda localizada na região do Pantanal chamada de Paiaguás servia como base para esconder a droga vinda da Bolívia

CE/PCS

De difícil acesso, fazenda na região do Paiaguás recebia as cargas de cocaína de forma aérea (Foto: Divulgação/PF)

O município de Coxim, localizado às margens da BR-163 e próximo do Pantanal, tornou-se uma região de concentração de quadrilhas envolvidas com o tráfico de cocaína.

Por estar em uma área que fica próxima de dois pantanais, a Nhecolândia e o Paiaguás, e em virtude de o acesso às fazendas ser difícil, esse território é utilizado pelos traficantes para articular entrepostos e distribuir cargas milionárias de entorpecentes para grandes centros, bem como para fora do País.

Essa situação ficou mais evidente após a operação da Polícia Federal (PF) desencadeada ontem, em Coxim. Ainda, houve ações em Corumbá, que está na fronteira do Brasil com a Bolívia, bem como em Campo Grande e nos estados da Bahia e de São Paulo.

Os grupos investigados na Operação Ardea Alba usavam aviões para fazer o transporte de cocaína. Uma fazenda que oferecia diferentes estruturas, localizada na região do Paiaguás, era o principal terminal para a subida e a descida de aviões carregados.

O nome dado à operação é a denominação científica para garça-branca, ave da fauna pantaneira. Foi feita a alusão ao modo como os criminosos agiam, por subirem e descerem das aeronaves de forma constante na região do Pantanal, com o intuito de trazer droga proveniente da Bolívia.

Nessa investigação, que culminou no cumprimento de 6 mandados de prisão, além da busca e apreensão em 25 endereços, o trabalho foi voltado para atingir líderes e subordinados da quadrilha, que movimentou, nos últimos meses, mais de 2 toneladas de cocaína vinda da Bolívia por meio de avião.

Geoseppe Gomes de Almeida, de 35 anos, morreu durante a operação (Foto: PC de Souza)

AÇÃO

Um dos investigados, identificado como Geoseppe Gomes de Almeida, de 35 anos, morreu durante a operação. O investigado morava em um bairro de classe média de Coxim, a Vila São Paulo.

Ele era alvo de mandado de prisão temporária e reagiu com a chegada dos policiais federais. Conforme as autoridades, após ele atirar nos agentes, usou a própria arma e se matou. Além dessa investigação, Geoseppe, que é natural de Coxim, respondia a outro crime, de tentativa de homicídio, na Justiça Estadual.

"A cidade de Coxim já consta há bastante tempo como sendo utilizada por organizações criminosas envolvidas com o tráfico de drogas através do Pantanal, seja com o recebimento dos entorpecentes por modal aéreo, pelos rios da região ou pela [Estrada] Transpantaneira, quando a droga vem de veículos a partir de Corumbá. O principal grupo investigado nessa operação atuava com o recebimento da droga por modal aéreo", informou a PF ao Correio do Estado.

Durante as investigações, a Polícia Federal identificou que os criminosos enterravam a cocaína que chegava de aviões e pousava em fazenda na região do Paiaguás. O local é de difícil acesso, o que reduz a vigilância.

A droga só era desenterrada quando havia acerto para o transporte continuar por via terrestre para grandes centros. Ainda, havia um outro grupo que atuava em conjunto e escondia o entorpecente em cargas lícitas trazidas de Corumbá. O destino, nesse caso, era São Paulo.

PRISÃO

Um dos presos em flagrante foi o "empresário" Geraldo José Bezerra (Reprodução de foto não autorizada) (Foto: PC de Souza)

Os mandados de prisão temporária, preventiva e de busca e apreensão foram expedidos pela Vara Criminal de Coxim, e a Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF, em Campo Grande, conduz a investigação. O município de Coxim, onde estava parte dos principais articuladores desses grupos criminosos, não tem delegacia da PF.

Dessa forma, foram expedidos 12 mandados de prisão ao todo, mas 6 foram cumpridos ontem. Houve presos na Capital, em Coxim e em Corumbá, além de dois flagrantes na cidade coxinense.

Para conseguir chegar à fazenda que era utilizada como base, o Exército Brasileiro deu apoio com o transporte aéreo. No local, houve o cumprimento de mandado de busca e apreensão. Nessa primeira etapa, foram encontradas 38 munições de espingarda, uma espingarda e 8 veículos. A Justiça ainda autorizou o sequestro de valores em nome de 18 pessoas físicas e jurídicas.

As ordens estão sendo efetivadas pela Justiça Estadual, por meio dos sistemas Renajud e Sisbajud, mas os valores obtidos ainda não foram divulgados pelas autoridades.

A atuação desses investigados era monitorada bem antes de a operação ter sido deflagrada. A PF identificou que os grupos que agiam interligados são formados por dezenas de pessoas, em diferentes posições e atribuições, a fim de garantir a entrada da droga no Brasil e seu despacho para localidades diversas.

Em ações pontuais anteriores, já houve a prisão de 12 pessoas ligadas a esse esquema com o uso de aviões para o transporte de cocaína. Aeronaves e veículos também já foram apreendidos, contudo, mesmo assim, os criminosos seguiam na ilegalidade.

A operação desta terça-feira (06) tentou minar de forma mais contundente os recursos humanos e financeiros desse grupo criminoso com várias ramificações. Como nem todos os mandados de prisão foram cumpridos, há foragidos. A investigação prossegue.

APREENSÕES

De janeiro até dia 06 de Junho, foram apreendidas, em Mato Grosso do Sul, mais de 10 toneladas de cocaína, de acordo com os dados informados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

Antes mesmo de o primeiro semestre do ano terminar, o valor já se aproxima do total apreendido no ano passado, que detém o recorde de interceptações da droga pela polícia no Estado, quando 16 toneladas foram confiscadas.