FP/PCS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega aos primeiros três meses de mandato com aprovação de 38% e reprovação de 29%, aponta pesquisa do Datafolha.
O resultado mostra a desaprovação a Lula igual à registrada por Jair Bolsonaro (PL) no mesmo momento de seu governo, em 2019, repetindo assim o que foi o pior desempenho desde a redemocratização de 1985 entre presidentes em primeiro mandato.
Lá, em meio a diversas crises, o ex-presidente marcava 30% de avaliação ruim/péssimo, mas era menos aprovado do que o petista, com 32% de ótimo/bom. Era regular para 33%.
Consideram a gestão de Lula regular agora outros 30%. Não souberam responder 3% —entre os 2.028 eleitores entrevistados pelo instituto de quarta (29) a quinta (30) em 126 cidades. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Lula marca um início de governo com popularidade inferior à registrada nas suas duas passagens anteriores pelo Palácio do Planalto. Nos 90 dias de 2003, ele era aprovado por 43%, com apenas 10% de reprovação, enquanto a marca foi a 48% e 14%, respectivamente, no mesmo período em 2007.
Em comparação à marca de 90 dias de outros presidentes em primeiro mandato, sua aprovação é semelhante à de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 39% em 1995), Fernando Collor (PRN, 36% em 1990) e Itamar Franco (PMDB, 34% em 1992). Fica abaixo da sucessora, Dilma Rousseff (PT), que teve 47% de ótimo/bom em 2011.
São fotografias. FHC se reelegeu, mas terminou seu segundo mandato mal avaliado e não fez o sucessor. Lula também venceu a disputa para ficar no cargo e saiu aclamado. Collor e Dilma acabaram sofrendo impeachment.
Mas o instantâneo não é positivo para Lula: os 29% de ruim/péssimo se igualam ao pior momento de todos os seus oito primeiros anos no governo, em dezembro de 2005, ainda sob o fogo da revelação do mensalão.
Os dados exprimem o que a observação da realidade política mostra: Lula venceu uma eleição apertadíssima contra Bolsonaro em um país rachado, com 1,8 ponto percentual acima do rival no segundo turno, e tem se batido na economia e na articulação com o Congresso.
Este é Lula em 2023
Trata-se de um país longe da união nacional pregada pelo petista na campanha e distante da prática na política. Ao contrário, manutenção da polarização por Lula, mirando o agora de volta ao Brasil Bolsonaro, é um cálculo que beneficia a ambos os antagonistas por fechar as portas a alternativas.
Tanto é assim que muito da energia do governo em seu começo girou em torno do ato golpista promovido no 8 de janeiro em Brasília e efeitos secundários da crise, como a derrubada do comandante do Exército. A lida com o cotidiano de problemas tem se mostrado maior agora, com o debate sobre o arcabouço fiscal e as questões de governabilidade no Legislativo.
Com efeito, os cortes gerais de polarização associados ao petismo em campanha são espelhados na avaliação do presidente.
Lula é mais bem avaliado ou recebe a menor reprovação entre nordestinos (53% de ótimo e bom no grupo, que soma 26% da amostra do Datafolha), os mais pobres (21% de ruim péssimo entre os que ganham até 2 salários mínimos, 55% dos ouvidos) e jovens (17% de ruim péssimo entre os 17% que têm de 16 a 24 anos).
Na contramão, o eleitorado tradicionalmente mais bolsonarista é mais refratário ao petista. Ele só tem 29% de aprovação no Sul (15% da amostra), 28% entre evangélicos (27% dos ouvidos) e 30% entre os mais ricos.
A maior fatia (51%) dos eleitores considera que o presidente fez menos do que poderia nesses três meses, enquanto 18% acham que ele fez mais e 25%, o esperado. Outras respostas somaram 2% e não souberam responder, 4%.
É um resultado melhor do que o de Bolsonaro (61% achavam que ele havia feito menos), mas pior do que o de Lula-1 (45%) e Dilma-1 (39%).
Em relação às expectativas, o cenário também é desfavorável para Lula. Creem que ele fará um governo ótimo ou bom 50%, ante 27% que esperam algo regular e 21%, ruim ou péssimo.
Em seu primeiro mandato, Lula marcava nesta etapa do caminho 76%, 15% e 4%, respectivamente. Dilma, 78%, 15% e 5%. Mesmo Bolsonaro se saiu um pouco melhor: 59%, 16% e 23%.
Acham que o presidente irá cumprir suas promessas de campanha 28%, ante 24% que diziam isso em dezembro, quando o Datafolha questionou o eleitorado sobre o tema. Avaliam que a maioria das promessas não será cumprida 50% (eram 58%), enquanto acham que nada será honrado 21% (eram 16%).
O mesmo Lula e Dilma tiveram expectativa positiva semelhante em 2003 e 2011, mas a avaliação de que a maioria ou nenhuma das promessas seriam cumpridas era idêntica, mas diferente de agora: 64% e 5%, respectivamente.