O Globo/LD
Numa roda de deputados e senadores tucanos, em uma galeteria de Brasília, o governador Geraldo Alckmin entrou pela madrugada traçando cenários positivos da sua campanha eleitoral com o ex-presidente Lula fora do páreo. Instado pelo deputado Caio Nárcio (PSDB-MG) a falar “um pouquinho” do cenário para o PSDB ganhar a eleição para presidente, no centro da roda, Alckmin deu sua receita: ter juízo, manter o partido unido, costurar uma boa aliança, não se estressar com pesquisas de intenção de votos nesse momento, reunir os melhores quadros para fazer um grande projeto de desenvolvimento regional e de recuperação econômica para o pais, ter bons palanques em todos os estados “e pé na estrada, viajar do Monte Caboraí ao Chuí”.
— Temos uma situação muito favorável se tivermos juízo — disse Alckmin, explicando que ter juízo é manter o partido unido e trabalhar para unir os partidos em uma grande aliança de centro.
— Com Lula fora, melhor ainda — completou o deputado Vitor Lipi (PSDB-SP).
Alckmin concorda que sem Lula suas chances aumentam muito de chegar ao segundo turno. Disse que com Lula tinha apenas uma vaga, já que o petista já estaria com uma das vagas garantida no segundo turno. Sem Lula, portanto, seriam duas vagas a serem conquistadas.
— Só tenho uma tarefa: ir para o segundo turno. Construir uma boa aliança suprapartidária. A campanha curtinha de 45 dias será uma corrida de resistência, a gente não pode se estressar com pesquisa nesse momento. E correr o pais. Na hora que a urna perguntar em quem você vai votar? O candidato que for mais conhecido o eleitor sapeca lá o voto — disse Alckmin .
Com cerca de 8% nas pesquisas de intenção de votos, o que deixa os companheiros ansiosos, Alckmin brincou que tem um sonho: cobrir uma eleição presidencial em que os candidatos seriam os jornalistas:
— Eu já tenho a pergunta que faria todo dia: porque não decola?
Sobre os palanques estaduais, Alckmin disse não enxergar um grande problema na disputa entre o PSDB e o PSB do vice-governador Márcio França, em São Paulo. Ele disse esperar manter a mesma base ampliada de partidos que o elegeu e ao prefeito de São Paulo, João Dória, no primeiro turno das duas eleições, com cerca de 13 partidos.
— O melhor é ter um candidato único, se não for possível, não vai cair o mundo ter dois candidatos. Eu apoio o candidato do meu partido, no segundo turno nos unimos. Em vários estados vai ter partido que vai apoiar um candidato a governador de um partido, e o candidato a presidente de outro — disse Alckmin.
Sobre declaração do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que Alckmin ainda não tem candidatura para chegar ao segundo turno, ele respondeu que política não se obriga, se conquista. O tucano disse que é preciso respeitar os partidos que tem o direito de lançar candidatos, mas ainda acredita que uma grande aliança é possível.
— Minha primeira eleição para prefeito de Pindamonhangaba eu tinha 24 anos. Hoje tenho 65 anos. Nesses mais de 40 anos aprendi que em política é preciso ouvir e conversar com o eleitor, e não ficar discutindo no clube fechado dos candidatos — respondeu Alckmin, frisando que “o povo erra menos que as elites”.
Na conversa, o senador Roberto Rocha (PSDB-MA) aconselhou Alckmin sobre a necessidade de ter a percepção sobre os dois Brasis que existem: o da metade para baixo do mapa que é azul, e o da metade para cima que é vermelho e onde está o Maranhão. Disse que da metade para baixo Alckmin já tem os 20% necessários para chegar ao segundo turno, mas é preciso que consiga penetrar na parte vermelha do mapa, onde programas como Bolsa Família e Luz para todos têm um peso muito grande.
— Seu desafio é entrar na parte vermelha da metade para cima do mapa, ter a percepção desses dois Brasis — disse Roberto Rocha.
O encontro de toda a bancada de deputados e senadores foi organizado pelo novo líder tucano na Câmara , Nilson Leitão (MT). Os deputados e senadores compareceram em peso, mas Alckmin jantou primeiro na residência do senador Tasso Jeiressatti (CE) e demorou muito a chegar na galeteria onde cada convidado pagou R$ 80,00 pela comida e bebida. Quando Alckmin conseguiu chegar, a grande maioria já tinha ido embora.
— Ele foi esperto, quando ficou sabendo que cada um pagaria sua conta, não quis jantar — brincou Nilson Leitão.
Mais cedo , antes do jantar com Tasso, Alckmin teve um encontro reservado também com o senador Aécio Neves (PSDB-MG). No encontro, Aécio o aconselhou a radicalizar o discurso reformista. E disse que tinha sugerido ao presidente Michel Temer convidar Alckmin e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para darem uma declaração conjunta de apoio à reforma da Previdência. Alckmin lembrou que o partido já fechou questão e o líder Nilson Leitão havia passado um relato de que a bancada do PSDB, hoje, está francamente majoritária favorável a reforma. E não descartou o encontro com Temer:
— A hora que marcar, a gente avisa — disse.