Exame/PCS
A confirmação da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região reduz o risco político atrelado às eleições presidenciais em outubro no Brasil na visão do mercado, mas não é suficiente para afastar em definitivo a incerteza elevada em torno da disputa. A busca por um candidato de centro, reformista e com chances reais de sair vitorioso das urnas segue como um dos principais temas para o investidor ao longo do primeiro semestre.
Com o enfraquecimento da candidatura de Lula, o cenário eleitoral está menos turvo, mas não está livre de risco, diz Andres Abadia, economista sênior da Pantheon Macroeconomics.
“O principal é que um candidato menos amigável ao mercado ganhe força. Há uma incerteza enorme ao redor das eleições e está longe de estar claro se o próximo governo apoiará as reformas”, diz Abadia.
“A questão é: quem emergirá como candidato-chave de centro?”, diz Jan Dehn, chefe de pesquisa da Ashmore Group em Londres, que supervisiona US$ 65 bilhões em ativos emergentes. Dehn continua com uma visão positiva para o Brasil e vê uma melhora nos fundamentos, mas considera a reforma da Previdência necessária e inevitável.
O próximo presidente terá que construir alianças e consenso para avançar com a aprovação da reforma da Previdência e de outras medidas fiscais, diz Marco Oviedo, chefe de pesquisa econômica para América Latina do Barclays. “Caso contrário, a dívida pode entrar em um caminho insustentável e mais rebaixamentos podem vir”, diz Oviedo.
“Não temos um candidato reformista claro, alinhado com a revolta da opinião pública em relação à classe política, diz Christopher Garman, diretor executivo para Américas da Eurasia.
“Com Lula fora do páreo, a disputa se abre. Mas isso não significa que teremos uma eleição em que um candidato amigável ao mercado seja eleito”, segundo Garman.
A ausência de Lula deixaria o caminho mais fácil para Geraldo Alckmin, do PSDB, chegar ao segundo turno, entretanto o candidato de direita Jair Bolsonaro mostra resiliência, aponta a Eurasia, em relatório.
Além disso, Ciro Gomes, do PDT, e Marina Silva, da Rede, estão em melhor posição para herdar a maioria dos eleitores de Lula, pois foram os dois candidatos que atraíram o maior número de votos na última pesquisa Datafolha com o ex-presidente fora da corrida.
Cassiana Fernandez, economista-chefe para Brasil do JPMorgan, lembra que “nenhum dos candidatos que têm mostrado disposição para avançar com a agenda econômica conseguiu ser capaz de melhorar sua performance nas pesquisas”.
Para a economista, o desfecho do julgamento do ex-presidente Lula no TRF-4 reduz uma fonte de incerteza, mas o noticiário político deve continuar trazendo volatilidade.